Autor: Lusa/AO online
Em carta enviada a Cavaco Silva e ao primeiro-ministro, hoje tornada pública, o presidente da Câmara de Viana do Castelo recorda que o ferryboat "Atlântida", construído nos estaleiros navais do concelho sob encomenda dos Açores, está a "apodrecer" desde 2009, altura em que foi rejeitado por aquele Governo Regional.
Por isso, na mesma missiva, José Maria Costa diz manifestar "profunda indignação" pela situação e apela "para que seja estabelecido um contacto urgente com o Governo Regional dos Açores a fim de obter a regularização urgente do contencioso" entre a empresa e órgãos regionais, para "viabilizar a aquisição do segundo navio encomendado aos estaleiros vianenses".
A encomenda dos Açores aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) envolvia, além do ferryboat "Atlântida", um segundo navio do género, o "Anticiclone", que estava em construção quando a empresa pública de transporte marítimo dos Açores Atlânticoline rescindiu o contrato, em 2009, alegando que o primeiro destes não atingia a velocidade máxima contratada.
Já no último domingo, o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, anunciou a encomenda da construção de dois novos navios de transporte de passageiros e viaturas entre as ilhas do arquipélago. O investimento pretende dar corpo ao desejo do executivo de criar, à escala regional, um "verdadeiro mercado interno açoriano", uma área em que se assiste a uma "revolução tranquila", explicou ainda o governante socialista.
Aquando da rescisão do contrato com os ENVC, para a construção do mesmo género de navios, Vasco Cordeiro era precisamente secretário regional da Economia, com a tutela da área dos Transportes e da empresa pública Atlânticoline, que fez a encomenda aos ENVC.
Face a este anúncio, o também socialista e autarca de Viana do Castelo assume "preocupação" com o facto de o Governo Regional estar a gastar 6,1 milhões de euros por ano para assegurar as ligações entre as ilhas - com recurso a dois navios fretados para o efeito -, quando o ferryboat "Atlântida" permanece atracado em Lisboa desde o verão de 2011.
"É uma situação que não se configura do interesse público, que é lesiva para as finanças do Estado português e surrealista aos olhos dos portugueses", afirma José Maria Costa, garantindo que a aquisição de dois novos navios pelo Governo dos Açores, a concretizar-se, será de "enorme gravidade".
"Inexplicável para toda a população portuguesa, que tão fustigada tem sido pelos sucessivos aumentos de impostos e que estão a suportar o dispêndio de 6,1 milhões para assegurar as ligações entre as ilhas do arquipélago dos Açores", defendeu ainda o autarca.
Após a rescisão do contrato, aquele ferryboat - construído especificamente para os portos da região e que continua sem comprador - acabou por ser aceite pelos ENVC. Em 2009 foi assinado um acordo com o Governo dos Açores, pagando os estaleiros 40 milhões de euros (verbas adiantadas pelos Açores), não apenas pelo "Atlântida", mas também pelos blocos do "Anticiclone", que ficou por concluir.