Autarca das Lajes do Pico condenado a pagar 2 mil euros por comentário homofóbico
14 de mai. de 2020, 14:54
— Lusa/AO Online
O caso remonta a 2018, altura em
que Terry Costa, dirigente da Associação Cultural MiratecArts,
apresentou queixa do autarca Roberto Silva, na sequência de um
comentário que considerou ser “difamador da sua orientação sexual”.“Este
desfecho compreende uma admissão da inadmissibilidade de discriminação e
de linguagem ofensiva contra pessoas lésbicas, gay, bissexuais, trans
ou intersexo (LGBT), principalmente quando proferidas por pessoas com
responsabilidades políticas e democraticamente eleitas, e será um caso
paradigmático em Portugal, visto nunca antes tal retratamento público
ter ocorrido”, considera a MiratecArts, em comunicado enviado esta quinta-feira.Terry
Costa doou a verba à associação, “com o objetivo de dar mais
visibilidade à luta contra a discriminação de pessoas LGBT, uma
realidade que centenas de açorianos enfrentam diariamente”.A
promotora cultural “desafia artistas açorianos a fazerem uma proposta
de projeto artístico na temática do Dia Internacional Contra a Homofobia
e Transfobia”, que se celebra em 17 de maio.Em
julho de 2018 a associação MiratecArts apresentou uma proposta àquela
câmara açoriana, que passava pela oferta de livros a crianças e jovens
das Lajes do Pico durante a edição daquele ano da Semana dos Baleeiros.O
autarca Roberto Silva terá respondido internamente ao pedido de apoio,
por ‘email’, utilizando uma palavra homofóbica, tendo a mensagem chegado
às mãos de Terry Costa.Em agosto, a
associação divulgou um comunicado a explicar a situação, o que gerou
críticas à conduta do autarca de vários quadrantes, incluindo o próprio
PS, pelo qual foi eleito.O autarca acabou
por manifestar, em setembro, “pública contrição”, explicando que o
"vocábulo da gíria popular" por si usado numa correspondência eletrónica
foi escrito "sem qualquer intenção que configurasse qualquer juízo de
valor quanto à personalidade" do promotor cultural Terry Costa."E
muito menos sem qualquer intenção que visasse diminuir em nada o seu
caráter, o seu comportamento intelectual e social, ou, muito menos,
qualquer das suas opções ou orientações sexuais", acrescentou.Na
altura, Roberto Silva defendeu, ainda que, em vez do termo empregue na
mensagem “poderiam, por mera hipótese e em geral, ter sido expressas
palavras distintas, como ‘chico-esperto’, ‘vedeta’ ou ‘artista’",
palavras "que definissem comportamentos e atitudes de relacionamento,
mas nunca com a intenção de discriminar alguém, muito menos, sob
qualquer ponto de vista, com conotação com qualquer orientação sexual”.A Lusa contactou o presidente da Câmara das Lajes do Pico, mas este referiu não estar disponível para falar sobre o assunto.Roberto Silva é presidente da Câmara Municipal das Lajes do Pico desde 2009, cumprindo atualmente o terceiro mandato.