Aulas virtuais podem criar “situações de desigualdade” entre alunos
Covid-19
31 de mar. de 2020, 16:49
— Lusa/AO Online
"A lecionação de novos conteúdos, por via das
telecomunicações, pode criar situações de desigualdade, não só para
alunos que não têm acesso a computador e internet, mas também àqueles
que têm acesso, mas cujos pais estão em teletrabalho e não dispõem de
outro equipamento", afirmou à agência Lusa o presidente do Sindicato dos
Professores da Região Açores (SPRA), António Lucas. Sobre
o número de alunos açorianos sem condições de acesso às aulas virtuais,
o dirigente sindical assumiu "dificuldade" em avançar com dados, mas
referiu que "uma parte significativa" dos alunos açorianos não tem
acesso a computador e a Internet. Para
justificar a posição, António Lucas salientou que os Açores são a região
do país com maior número de dependentes do Rendimento Social de
Inserção (RSI), que está "muito concentrado nos concelhos de São Miguel,
à exceção de Ponta Delgada", concelhos estes que reúnem "uma parte
significativa" da população dos Açores. "É
fácil fazer a extrapolação de que a maioria desses alunos [dos
concelhos com maior taxa de distribuição de RSI] não têm acesso nem a
equipamento informático nem eventualmente à internet", frisou. Segundo
os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, referentes
a 2018, os Açores registavam uma média de 110,73 beneficiários do RSI
por 1.000 habitantes em idade ativa, número superior ao continente
(29,95) e à Madeira (29,49). O presidente
do SPRA admitiu que os conteúdos que deveriam ser lecionados no final do
segundo e no terceiro períodos poderão ser "incluídos no ano letivo
seguinte", mesmo se lecionados de "forma mais apressada", uma vez que o
"ensino é sequencial". A SPRA defende
também que as provas de aferição do 9.º ano de escolaridade devem ser
"adiadas até estar restabelecida a normalidade". "Propomos
que não se criem situações de exceção em estado de emergência e se
volte a levar os alunos para as escolas para a realização, neste caso,
de uma prova específica, pondo em causa todo o trabalho e esforço que
está a ser feito de contenção do vírus", sublinhou. Quanto
às provas do 11.º e 12.º anos, o dirigente considerou que devem ocorrer
"o mais tardiamente possível e dentro das condições de segurança",
sugerindo, para esse efeito, a possibilidade de as aulas no ensino
superior começarem em janeiro do ano seguinte. "Perante
uma situação excecional, poderemos ter de recorrer, para salvaguardar a
saúde dos alunos e dos profissionais de educação, a uma situação de
excecionalidade", apontou. O SPRA defende
também que os docentes contratados em regime de substituição devem
manter os contratos "mesmo após a apresentação do titular" e até estarem
reunidas as "condições normais" de comunicação com os alunos e da
realização dos conselhos de turma.