‘Atos Únicos’ do Coletivo POP no Coliseu Micaelense
10 de out. de 2025, 11:22
— Susete Rodrigues
O Coliseu Micaelense é palco, esta sexta-feira, pelas 21h00, do espetáculo ‘Atos
Únicos’, uma interpretação contemporânea da obra de Anton Tchékhov com a
encenação de Rosa Coutinho Cabral e João Cabral, levada a cabo pelo
Coletivo POP.O espetáculo surge no âmbito o POP-Festival que está a decorrer em São Miguel até dia 18 de outubro. Com alguma ironia e humor, o espetáculo revela o universo social da
Rússia do século XIX e as figuras provincianas que o autor retratou com
tanta subtileza. Aquando da apresentação do festival, João Cabral
afirmou que este foi um trabalho muito interessante por algumas razões,
nomeadamente o facto de os “atores, que são amadores, terem
disponibilizado o seu tempo para ensaiar connosco, e são pessoas muito
talentosas. Muitas vezes dizemos: ‘Que pena não terem ido para a escola
de teatro’”.O encenador explicou que vão apresentar nos ‘Atos
Únicos’, pequenas peças de Tchékho, mas “não é por isso que deixam de
ser interessantes. Não têm, talvez, o desenvolvimento da estrutura que
as outras peças maiores têm, de uma maior complexidade, mas contam com
tudo aquilo pelo qual Tchékhov se tornou interessante, que é a
capacidade de trazer diálogos coloquiais, do dia-a-dia, e com esses
diálogos, tecer uma rede de relações entre os personagens, isso de uma
forma extraordinariamente inteligente e com uma maestria fantástica”.De
acordo com João Cabral, as peças mais pequenas são, “cómicas, são muito
mais divertidas, mas não deixam de ser, também, de uma enorme
densidade”.Por outro lado, os “atores têm a possibilidade de
experimentar a complexidade de criação que os personagens de Tchékho
permitem”.O encenador gosta de olhar para Tchékho como um “autor que
já não é russo, é da humanidade, é intemporal e universal, e neste
momento em que temos algumas reticências relativamente a qualquer coisa
que seja da Rússia, há, no entanto, algo nos clássicos que é essa
universalidade, ou seja, deixam de ser de um país e são da humanidade”.Por
seu turno, Rosa Coutinho Cabral adianta que “Anton Tchékhov é difícil, é
um clássico, é um ator complexo e apesar de estarmos a trabalhar os
‘Atos Únicos’ como peças pequeninas, parecem muitas vezes contos
dramatúrgicos e cheios de possibilidades de os trabalhar com a matéria
do teatro, com aquilo que é próprio do teatro”. A encenadora diz
ainda que o que mais gosta nestas “aventuras com o João Cabral (irmão),
neste caso no teatro, é que os atores dão-nos a ver, ou seja, cada ator,
no seu trabalho de exploração, surpreende-nos com qualquer coisa que se
transforma numa presença potencial para o espetáculo”.