Autor: Susete Rodrigues
O Coliseu Micaelense é palco, esta sexta-feira, pelas 21h00, do espetáculo ‘Atos Únicos’, uma interpretação contemporânea da obra de Anton Tchékhov com a encenação de Rosa Coutinho Cabral e João Cabral, levada a cabo pelo Coletivo POP.
O espetáculo surge no âmbito o POP-Festival que está a decorrer em São Miguel até dia 18 de outubro.
Com alguma ironia e humor, o espetáculo revela o universo social da Rússia do século XIX e as figuras provincianas que o autor retratou com tanta subtileza.
Aquando da apresentação do festival, João Cabral afirmou que este foi um trabalho muito interessante por algumas razões, nomeadamente o facto de os “atores, que são amadores, terem disponibilizado o seu tempo para ensaiar connosco, e são pessoas muito talentosas. Muitas vezes dizemos: ‘Que pena não terem ido para a escola de teatro’”.
O encenador explicou que vão apresentar nos ‘Atos Únicos’, pequenas peças de Tchékho, mas “não é por isso que deixam de ser interessantes. Não têm, talvez, o desenvolvimento da estrutura que as outras peças maiores têm, de uma maior complexidade, mas contam com tudo aquilo pelo qual Tchékhov se tornou interessante, que é a capacidade de trazer diálogos coloquiais, do dia-a-dia, e com esses diálogos, tecer uma rede de relações entre os personagens, isso de uma forma extraordinariamente inteligente e com uma maestria fantástica”.
De acordo com João Cabral, as peças mais pequenas são, “cómicas, são muito mais divertidas, mas não deixam de ser, também, de uma enorme densidade”.
Por outro lado, os “atores têm a possibilidade de experimentar a complexidade de criação que os personagens de Tchékho permitem”.
O encenador gosta de olhar para Tchékho como um “autor que
já não é russo, é da humanidade, é intemporal e universal, e neste
momento em que temos algumas reticências relativamente a qualquer coisa
que seja da Rússia, há, no entanto, algo nos clássicos que é essa
universalidade, ou seja, deixam de ser de um país e são da humanidade”.
Por
seu turno, Rosa Coutinho Cabral adianta que “Anton Tchékhov é difícil, é
um clássico, é um ator complexo e apesar de estarmos a trabalhar os
‘Atos Únicos’ como peças pequeninas, parecem muitas vezes contos
dramatúrgicos e cheios de possibilidades de os trabalhar com a matéria
do teatro, com aquilo que é próprio do teatro”.
A encenadora diz
ainda que o que mais gosta nestas “aventuras com o João Cabral (irmão),
neste caso no teatro, é que os atores dão-nos a ver, ou seja, cada ator,
no seu trabalho de exploração, surpreende-nos com qualquer coisa que se
transforma numa presença potencial para o espetáculo”.