Até as árvores de Natal ficaram por vender em Ponta Delgada
Covid-19
24 de dez. de 2020, 08:51
— Lusa/AO Online
Por altura do Natal, o campo de
São Francisco, no centro de Ponta Delgada, torna-se o palco da feira da
Árvore de Natal, que já é uma tradição da quadra natalícia na maior ilha
açoriana.Com encerramento marcado para o dia 24 de dezembro, durante a manhã de quarta-feira foram raríssimos os clientes que por ali passaram.Em
anos anteriores, nos últimos dias, ainda apareciam uns “clientes mais
atrasados”, mas, este ano, as vendas foram “muito menores”, sobretudo
devido à pandemia da Covid-19, defende Vítor Braga, um dos vendedores.“Este
ano, devido à Covid-19, [o negócio] foi um bocado fraco, poucas pessoas
aderiram à árvore. Muitas pessoas que a gente conhecia, nossos clientes
de há anos, não vieram desta vez”, diz à agência Lusa.Vendedor
de árvores de natal há 31 anos, Vítor Braga destaca que as vendas “já
vinham a cair nos últimos anos,”, mas “este ano caíram bem”, com uma
quebra na ordem dos 50%.“Nos últimos anos,
a coisa ainda equilibrava. Este ano, se der para a despesa, já é bom.
Acabámos por não vender muitas árvores, que foram desperdiçadas e nessas
só tivemos prejuízo”, assinala.Numa atividade pouco lucrativa, a “motivação” para continuar o negócio é “manter uma tradição de família”.“O
que motiva é que isso já está no sangue. Já tenho 31 anos dessa
atividade e chega-se a essa altura e é como um desporto. Já temos no
pensamento que esta altura é para vender árvores”, explica.Uma árvore natural de criptoméria pode ir dos 15 aos 40 euros e ascende aos 70 e 80 euros caso se trate de um cedro.Além
das árvores, os comerciantes também vendem musgos e farelos para
decorar o presépio. Uma das poucas clientes naquela manhã, Lucinda
Baptista, acorreu ao mercado para comprar farelo.“Eu
tenho uma árvore artificial, mas gosto de fazer o meu presépio como de
costume”, justifica a mulher de 65 anos, mostrando os dois sacos de
farelo colorido, um vermelho e outro verde, acabados de comprar.Lucinda
tem um motivo para fazer o presépio na noite antes da consoada: quis
esperar pelo filho que estuda em Lisboa e que só chegou a São Miguel na
segunda-feira.“Eu espero sempre pelo meu
filho. Ele esse ano chegou mais tarde. Fui adiantando o resto da
decoração em casa, mas como ele também gosta de fazer o presépio,
esperei por ele”, explica.Mais ao lado,
Álvaro Oliveira foi o único comerciante a vender uma árvore de natal na
manhã de hoje. Uma “raridade”, assume: “Clientes? Só aparecem de hora a
hora, este ano foi sempre assim”, declara.Também para este vendedor, as quebras foram acentuadas, mas fica a “esperança” de o próximo ano “ser melhor”.“O
negócio tem vindo a cair nos últimos anos, mas esse ano caiu muito,
devido à pandemia. Para o ano há de ser melhor, se Deus quiser”, diz.Nem
o facto de o sol reluzir nesta manhã de inverno, fez com que
aparecessem mais interessados. Passado algum tempo, apareceu Sofia
Aguiar, de 42 anos, que foi apressada comprar uns ramos de cedros.“Eu trabalho num restaurante e o patrão pediu-me para vir buscar uns cedros para decorar a sala”, explicou.Com
compras reduzidas, muitas árvores não foram vendidas – mas vão ser
reutilizadas. Todos os comerciantes explicaram à Lusa que oferecem as
árvores a vários cultivadores de ananases, que as aproveitam para
realizar a técnica do fumo (uma prática que consiste a criar fumo na
estufa para a frutificação ocorrer ao mesmo tempo).“É
tudo reutilizável, não vai nada para o aterro”, frisa Roberto Miranda,
outro comerciante, que hoje apenas vendeu ramos de cedros.“As
vendas são bastante inferiores a outros anos. Não foi apenas uma
redução, foi uma grande redução. Antes, vendíamos 20, 25 árvores ao fim
de semana e durante a semana a média era de seis, sete. Este ano,
vendemos duas, três durante a semana e 10 ao fim de semana”, prosseguiu.O
comerciante refere que “maior parte das pessoas” já “prefere as árvores
plásticas”, mas este ano o negócio foi “muito pior” pelo “receio de
sair à rua” devido à covid-19.A venda das
árvores também é um negócio que tem passado de geração em geração na
família de Roberto Miranda, que aos oito anos já “ajudava o pai na mata”
à procura das árvores de natal.Face à
quebra nas vendas, o homem de 41 anos refere que “felizmente” todos os
comerciantes têm “os seus trabalhos” e salienta que a venda de árvores
de Natal, além de “ser uma maneira de angariar mais um extra”, é,
"sobretudo", uma forma de “fazer cumprir a tradição”.“Todos
os anos dizemos que é o último em que vamos vender, mas há sempre
aquele cliente, aquela pessoa amiga que vem e que sabe que estamos aqui.
Só por isso, às vezes, já vale a pena, apesar do frio, da chuva e disso
tudo que nós apanhamos. Praticamente é a tradição de rever as pessoas”,
conclui.