Asteroides com "cápsulas do tempo" podem explicar "centelha da vida"
17 de fev. de 2018, 19:22
— Lusa/AO online
Nicholas
Hud é o diretor do Centro de Evolução Química da NSF-NASA no Instituto
de Tecnologia da Geórgia, uma Universidade em Atlanta, e um dos
intervenientes numa conferência em Austin, Texas, da Associação
Americana para o Avanço da Ciência. É lá que hoje vai falar de
“Asteroides para Pesquisa, Descoberta e Comércio”. Num
documento publicado pelo Instituto, com o titulo “As ´cápsulas do
tempo´ dos asteroides podem explicar como começou a vida na Terra”,
afirma-se, citando Nicholas Hud, que encontrar moléculas em asteroides
fornece a mais forte evidência de que esses compostos estavam presentes
no planeta antes da formação da vida.Os
asteroides, corpos menores do sistema solar, representam na cultura
popular uma ameaça apocalíptica, são responsabilizados pela extinção dos
dinossauros, e oferecem uma fonte extraterrestre de minérios.Mas
são mais do que isso. Saber quais as moléculas que estavam presentes na
altura da sua formação ajuda a estabelecer as condições iniciais que
levaram à formação de aminoácidos e de compostos relacionados, que por
sua vez se juntaram para formar peptídeos, pequenas moléculas
semelhantes a proteínas que podem ter dado origem à vida na Terra.“Podemos
olhar para os asteroides para nos ajudar a perceber que química é
possível no universo. É importante para nós estudar os materiais dos
asteroides e meteoritos (versões menores de asteroides, que caem na
Terra) para testar a validade dos nossos modelos sobre como as moléculas
que contêm podem ter ajudado a dar origem à vida. Também precisamos de
catalogar as moléculas dos asteroides e meteoritos, porque pode haver
componentes que nós nem sequer considerámos importantes para o início da
vida”, disse Nicholas Hud.Os
cientistas da agência espacial dos Estados Unidos, NASA, vêm analisando
há décadas os compostos encontrados em asteroides e meteoritos, para
compreender o que poderia ter estado presente quando a própria Terra foi
formada, admite o investigador. Mas
se for feita em laboratório – acrescenta - uma reação química
prebiótica (a química da origem da vida) os cientistas podem sempre
duvidar se eram mesmo aqueles os materiais de partida, os que estavam no
planeta nesse tempo.“A
deteção de uma molécula num asteroide ou num meteorito traz a única
prova que todos vão aceitar de que essa molécula é prebiótica. É algo em
que realmente nos podemos apoiar”, disse Hud, citado no documento.Em
1953, Stanley Miller e Harold Urey, da Universidade de Chicago, fizeram
uma experiência (conhecida como a experiência de Miller e Urey) que
consistiu em simular em laboratório as condições da Terra antes de
existir vida e mostrar que era possível o surgimento de moléculas
orgânicas através de reações químicas. Foram produzidos mais de 20
aminoácidos diferentes, compostos orgânicos que são os blocos de
construção dos peptídeos.Desde
então os cientistas têm demonstrado a viabilidade de outras combinações
químicas para aminoácidos e compostos necessários à vida. No
laboratório de Hud os cientistas usaram ciclos alternados de condições
secas e molhadas para criar moléculas orgânicas complexas.Nicholas
Hud acredita que existem muitas formas possíveis de formar as moléculas
da vida. E diz que a vida poderia ter começado com moléculas menos
sofisticadas e menos eficientes do que as de hoje. E que, como a própria
vida, essas moléculas podem ter evoluído ao longo dos tempos.“Há
algo muito especial sobre peptídeos, ácidos nucleicos, polissacarídeos e
lípidos e sobre a sua habilidade em trabalhar em conjunto para fazer
algo que não pode ser feito separadamente. E pode ter havido um qualquer
número de processos químicos no início da Terra que nunca levaram à
vida”, diz Hud.Mas
diz também que ao contrário de uma única “centelha da vida” as
moléculas podem ter evoluído devagar ao longo do tempo, em progressão
gradual que pode ter acontecido talvez simultaneamente em diferentes
velocidades e em diferentes locais.