Associações lançam campanha contra proposta da UE que ameaça sigilo das comunicações
18 de set. de 2023, 17:28
— Lusa
A Associação D3 -
Defesa dos Direitos Digitais, a Associação Nacional para o Software
Livre (ANSOL), o Capítulo Português da Internet Society (ISOC PT), a
Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança da Informação (AP2SI)
e a Associação de Empresas de Software Open Source Portuguesas (ESOP)
apelam aos cidadãos para que assinem uma petição internacional e
contactem os eurodeputados.Em declarações à
agência Lusa, o presidente da Associação D3 explicou que a
ChatControl.pt (https://chatcontrol.pt/) serve para “lançar o debate” em
torno do 'Child Sexual Abuse Regulation' (Regulamento sobre o Abuso
Sexual Infantil), que foi proposto em maio de 2022.“Esta
legislação tem vários artigos que, a nosso ver, são problemáticos.
Desde logo, começa por tornar as plataformas responsáveis pelos
conteúdos, (…) através de obrigações de avaliação de risco e de medidas
de mitigação”, adiantou Eduardo Santos. De
acordo com o responsável, plataformas como Whatsapp, Messenger e
Telegram – que usam encriptação nos seus serviços – têm que “calcular o
risco” de estarem a ser usadas para partilha de “materiais de abuso
sexual de crianças e de aliciamento de menores”. Com
esta proposta, as plataformas digitais seriam obrigadas a instalar
‘software’ nos dispositivos de todos os europeus, com o objetivo de
monitorizar todas as comunicações realizadas. “Estas
obrigações são quase universais. (…) Todas as plataformas ‘online’ que
permitam partilhar coisas ou comunicar têm de implementar este tipo de
medidas. (…)O que ameaça a liberdade de expressão dos cidadãos”,
salientou.Eduardo Santos apontou ainda a uso da Inteligência Artificial (IA) como o “principal problema”.“Nós
não sabemos exatamente que tipo de tecnologia é utilizada. Neste tipo
de tecnologia, com Inteligência Artificial, o risco de falsos positivos é
enorme. Pode acontecer que uma pessoa partilhe uma fotografia e não
haver nada de ilegal e o algoritmo detetar que sim. (…) Os falsos
positivos são tão grandes que vai ser contraprodutivo”, observou. Sobre
a petição europeia 'Children deserve a secure and safe internet' (“As
crianças merecem uma Internet segura e protegida"), o responsável pela
Associação D3 disse não possuir dados, uma vez que parte da rede
European Digital Rights (EDRi). “Visa
reunir assinaturas, o método clássico dos cidadãos de se manifestarem
perante o poder político, para transmitir aos decisores políticos que há
muita gente preocupada com a introdução deste tipo de mecanismos”,
acrescentou.Na semana passada, onze associações anunciaram que pediram ao Governo que se opusesse à proposta europeia.Os
subscritores chamavam a atenção que “a proposta não só coloca em risco
pessoas com profissões críticas, como médicos, jornalistas, advogados,
entre outros, como diminui a segurança das comunicações das próprias
potenciais vítimas que pretende proteger”. A
proposta de regulamento foi apresentada em maio do ano passado e o
prazo para entrega de opiniões fundamentadas terminou em outubro. O
Parlamento Europeu (PE) indicou que não foi recebida nenhuma, mas que
foram encetados diálogos com diversas instituições, entre as quais com a
Assembleia da República.