Associações empresariais pedem menos impostos e mais investimento
OE2026
7 de out. de 2025, 12:37
— Lusa/AO Online
Entre as propostas apresentadas conta-se a
criação de um subsídio anual para estimular viagens internas, o
desagravamento fiscal para as bebidas, o investimento de fundos não
executados do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o fim do
congelamento das rendas.Estas
são as propostas apresentadas até ao momento pelas associações
empresariais para o OE2026, que deverá ser apresentado na sexta-feira: Turismo O Turismo quer, sobretudo, medidas que impulsionem o setor, apelando ainda para questões fiscais e relacionadas com formação.A
Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) propõe
que o OE2026 inclua a criação de um fundo de proteção para salvaguardar
consumidores e agências em caso de falência de companhias aéreas.Segundo
o seu presidente, Pedro Costa Ferreira, este mecanismo pretende
"garantir o reembolso de bilhetes não utilizados e assegurar o
repatriamento de passageiros, reforçando a confiança no setor e
promovendo maior segurança para todos os viajantes". Seria "financiado
por contribuições obrigatórias das companhias aéreas que operam em
Portugal" e gerido por "uma entidade pública".O
presidente da APAVT alertou ainda que "sem uma solução aeroportuária em
Lisboa, Portugal arrisca perder competitividade face a destinos
concorrentes no Mediterrâneo".Por fim,
salientou, "o OE2026 deve apoiar a digitalização, a capacitação
tecnológica e novos instrumentos financeiros, garantindo que as empresas
portuguesas possam competir de forma justa num mercado global".Já
a ANAV - Associação Nacional de Agências de Viagens quer que o OE2026
crie um subsídio anual de 50 milhões de euros para estimular viagens
internas, através das agências, adiantou a associação, num comunicado,
em que faz dez propostas avaliadas em cerca de 146 milhões de euros.A
ANAV propõe ainda várias medidas fiscais: um "benefício fiscal de 120%
em sede de IRC para investimento em software de gestão, plataformas
digitais, inteligência artificial e cibersegurança", com um impacto
estimado de 20 milhões de euros; uma taxa reduzida de 13% nas comissões
de intermediação turística (atualmente é de 23%), com um impacto
estimado de 15 milhões de euros; eliminação da dupla tributação nos
transportes e atualização da tributação em outros aspetos da atividade
das agências, com um impacto estimado de 10 milhões de euros por ano.Pede
ainda uma linha anual de apoio de cinco milhões de euros para
participação em feiras internacionais e promoção externa e a criação de
um programa nacional de vouchers para jovens (18 a 23 anos), de 150
euros por cada um, para usar em agências registadas no registo nacional,
medida com um impacto estimado de 30 milhões de euros.A
ANAV propõe também quatro milhões de euros por ano para formação
certificada em turismo, legislação, sustentabilidade e tecnologias
digitais e um fundo anual de três milhões de euros para apoiar
certificação ambiental, compensação carbónica e campanhas de
sensibilização.Por fim, a associação
pede uma linha de crédito de 50 milhões de euros, juros bonificados
(spread máximo de 1,5%) e garantia mútua de 80%, bem como a isenção de
TSU por dois anos para contratação de jovens licenciados ou
requalificação de profissionais, esta última com um impacto de sete
milhões de euros por ano.Bebidas, restauração e alojamentoO
setor das bebidas defende medidas fiscais que reduzam a carga de
impostos sobre estes produtos. A restauração e alojamento pede a dedução
de 50% do IVA com despesas de alojamento e refeições. A
Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (Acibev) quer que a
isenção fiscal aplicada ao vinho se mantenha na proposta de OE2026 à
semelhança do que tem sucedido em anos anteriores, com a diretora
executiva, Ana Isabel Alves,a defender que a comercialização de vinho,
assim como a de espumantes, deve continuar isenta do Imposto sobre as
Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas (IABA).Atualmente, aplica-se à venda de vinho uma taxa de IVA de 13%, e à venda de espumantes uma taxa de IVA de 23%.No
caso das bebidas espirituosas, como as aguardentes, vinho do Porto,
vinho Madeira e vinho moscatel, Ana Isabel Alves defende que as atuais
taxas de imposto também não devem ser agravadas em 2026.A
diretora executiva da Acibev defendeu ainda a redução da carga fiscal
sobre todas as empresas, incluindo as do setor das bebidas, ao nível do
Imposto sobre o Rendimento das Empresas Coletivas (IRC) e das derramas
municipais e estaduais.A Associação da
Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) defende, por seu
turno, que os refrigerantes e as bebidas alcoólicas devem beneficiar da
taxa intermédia do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), tornando,
assim, esta medida transversal a todas as bebidas.Por
outro lado, quer a dedução de 50% do IVA com despesas de alojamento e
refeições, "incorridas por sujeitos passivos de IRC e por sujeitos
passivos de IRS com contabilidade organizada, independentemente da sua
finalidade".A isto soma-se a dedução de 100% do IVA nas despesas de refeições e alojamento que dizem respeito à organização de eventos.A
Ahresp pede ainda que não seja aplicada a contribuição sobre embalagens
de utilização única nos regimes de 'drive thru', uma vez que o cliente
compra o produto sem sair do carro, e no 'delivery', tendo em conta que o
pedido é feito remotamente e entregue por estafetas.Para
a associação, a taxa de IRC deve ainda ser revista em baixa, de modo a
garantir o aumento da competitividade das empresas portuguesas face ao
estrangeiro, apontou.O mesmo deve
acontecer com os escalões de tributação em IRS, "de modo a
corresponderem à recente revisão em baixa das tabelas de retenção a
fonte".Entre as 30 medidas propostas pela
associação estão igualmente benefícios fiscais para o investimento, a
revisão em baixa das tributações autónomas e o aumento do limite máximo
do volume de negócios anual para efeitos de isenção de IVA de 15.000
para 50.000 euros.Para combater a crise
habitacional, a Ahresp propõe a redução da tributação sobre rendimentos
prediais, que atualmente está em 25%, a isenção de IRS e TSU (Taxa
Social Única) no apoio às rendas para habitação de trabalhadores e ainda
benefícios fiscais na construção de habitação para trabalhadores.A
associação da hotelaria e restauração quer também que seja implementado
um sistema de conta-corrente entre os contribuintes singulares e
empresas e a Segurança Social, de modo a permitir que os créditos sejam
utilizados para liquidar dívidas a este instituto. Em
matéria de capitalização de empresas, a Ahresp exige apoios aos
empresários em nome individual para a constituição de uma sociedade
comercial e instrumentos de apoio, lembrando que os disponibilizados
pelo Banco de Fomento não beneficiaram as micro e pequenas empresas. Distribuição Para a distribuição, as prioridades do OE2026 passam pelo alívio e simplificação fiscal.A
Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) quer discutir,
"com seriedade, os efeitos da Taxa de Segurança Alimentar Mais" (TSAM),
cobradas às retalhistas e que "rendeu ao Estado milhões de euros".Estes montantes, segundo a distribuição, devem ser destinados à capacitação destes agentes em matéria de segurança alimentar.A
APED espera ainda que o Governo avance com a simplificação fiscal e
administrativa e que admita a inclusão de novas medidas, nomeadamente,
para facilitar as obrigações fiscais. Por
outro lado, pede que seja retomado o tema da regulação das comissões
aplicadas na aceitação de cartões/vales de refeição, exigindo a
definição do preço máximo total a ser cobrado, pela aceitação destes
cartões e vales, aos comerciantes.A
distribuição quer ainda a adoção de uma taxa reduzida de IVA (Imposto
sobre o Valor Acrescentado) de 6% aos serviços de reparação de
equipamentos elétricos, eletrónicos e às peças utilizadas nas
reparações.Por último, pede que seja
excluído "o valor das doações do lucro tributável para efeitos de IRC e
de outros impostos", que seja clarificado o conceito de redistribuição a
pessoas carenciadas para efeitos de aplicação do código do IVA e que
sejam reavaliados os limites associados ao volume anual de vendas que
condicionam a majoração, em sede de IRC, dos custos com donativos. Indústria metalúrgica e metalomecânica A
indústria metalúrgica e metalomecânica acredita que o OE2026 deve
incluir medidas para aproveitar verbas não executadas do Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR).À Lusa, o
vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos,
Metalomecânicos e Afins de Portugal, Rafael Campos Pereira, defendeu
ainda a simplificação e agilização das normas e processos referentes ao
licenciamento industrial e apontou o novo papel e instrumentos de ação
anunciados do Banco de Fomento, afirmando ser "importante que cheguem de
forma rápida e ágil às empresas". Por sua
vez, a Associação Portuguesa do Alumínio (APAL) reivindica incentivos à
indústria da reciclagem do alumínio e medidas que promovam esta
prática.A APAL pede ainda formação
profissional para os trabalhadores desta indústria e um "plano
energético integrado aplicável a todas as empresas associadas", disse à
Lusa. Automóvel Alterações
fiscais e incentivos ao abate são algumas das principais medidas que
várias associações do setor automóvel gostariam de ver incluídas no
OE2026.Num levantamento da Lusa, a
Associação Automóvel de Portugal (ACAP) pediu uma revisão da reforma
fiscal de 2007 e propõe a transferência progressiva do imposto sobre a
aquisição (ISV) para o imposto de circulação (IUC), "até à extinção
total do ISV" no final de 2030.No cálculo
destes impostos, a ACAP sugere ainda a alteração da base tributável,
"reduzindo o peso da cilindrada e aumentando o peso" das emissões de
dióxido de carbono (CO2). A associação pediu ainda uma redução de 10%
nas taxas de tributação autónoma no próximo ano.A
posição foi defendida, também, pela Associação Nacional das Empresas do
Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), que sugeriu "uma revisão
global dos principais impostos" que incidem sobre o setor: IUC, ISV, IVA
e imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP).A
ANECRA alertou ainda para o peso que a proposta de pagamento do IUC
para 2026 poderá ter para os revendedores automóveis, dizendo que a
concentração em um ou dois meses específicos (fevereiro ou fevereiro e
outubro) "obrigará os revendedores a um esforço financeiro adicional que
terá efeitos diretos na liquidez das empresas".A
nível de fiscalidade, a Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN)
sugeriu a redução do ISV, o aumento da percentagem de dedução em sede de
IRS do IVA suportado com despesas de manutenção e reparação de veículos
e a exclusão, em sede de tributação autónoma, dos encargos suportados
pelas empresas com manutenção e reparação de automóveis.Além
de defender um registo profissional de revendedores de automóveis, a
ARAN pediu incentivos para a renovação do parque automóvel, uma posição
partilhada com ANECRA e ACAP.Em comum, as
três apontam ainda a necessidade de um incentivo ao abate para fazer
face à idade média de 14 anos do parque automóvel português - "um dos
mais envelhecidos da Europa".A proposta da
ACAP prevê um novo programa com critérios claros para incluir, numa
primeira fase, ligeiros elétricos ou eletrificados com primeira
matrícula em Portugal e adquiridos através de qualquer forma de
financiamento e, numa segunda, veículos a combustão matriculados em
Portugal há mais de 10 anos, podendo chegar aos 5.000 euros no caso de
viaturas 100% elétricas.Por sua vez, a
AFIA - Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel defendeu que
o foco do OE2026 de ser na competitividade.À
Lusa, a associação assinalou que deve haver um estímulo ao investimento
para a modernização e para corresponder às necessidades ambientais, mas
também para que apoiem os processos de capitalização. Habitação Os
proprietários de casas pedem medidas fiscais e de apoio aos inquilinos
carenciados, assim como o fim do congelamento das rendas e isenção de
IRS no arrendamento.A Associação
Lisbonense de Proprietários (ALP), num documento enviado ao Governo e
aos deputados da Assembleia da República, apresentou um pacote de 10
medidas para integrar no OE2026.Entre as
medidas propostas pela ALP, destaque para a extinção imediata do
Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis (AIMI), bem como o fim do
congelamento das rendas.Apoios diretos aos
inquilinos carenciados - mas "não via senhorios", de forma a
"simplificar e garantir eficácia social" - é outra das propostas da ALP,
assim como a isenção de IRS no arrendamento a estudantes, uma medida
apresentada como "resposta urgente ao défice de 50.000 camas no ensino
superior".Ainda defendida pela associação é
a necessidade de "mais justiça fiscal", nomeadamente através do
alargamento do mínimo de existência e benefícios a senhorios com baixos
rendimentos e incapacidade atestada, da possibilidade de dedução de
despesas essenciais no IRS e da isenção de Imposto de Selo dos novos
contratos de arrendamento e da primeira habitação. Grandes Empresas As grandes empresas portuguesas pedem medidas de alteração ao nível do IRC e do IRS.A
Associação Business Roundtable Portugal (BRP), que conta com 43
associados, dirigiu uma carta aberta ao Governo e à Assembleia da
República, com 142 signatários, a defender a eliminação dos primeiros
cinco escalões do IRS e o fim da derrama no IRC sobre as grandes
empresas.Neste momento, os cinco primeiros patamares abrangem os rendimentos coletáveis até 28.400 euros anuais.Em
relação ao IRC, os empresários defendem "acabar com o sistema
progressivo" que condena o país "a ter menos 41% de grandes empresas do
que a média da UE", defendendo a eliminação da derrama estadual.Na
justiça, a BRP defende que seja decidido para o contencioso
administrativo e fiscal o que foi aplicado na "justiça cível e comercial
na última década e que leva menos de um terço do tempo dos tribunais
fiscais e administrativos".Quanto ao setor
energético, traça como objetivo Portugal "liderar em renováveis e
tecnologias de baixo carbono" para permitir "a reindustrialização de
Portugal e da Europa".