Associações de consumidores pedem mais fiscalização a comissões e juros cobrados pelos bancos
10 de abr. de 2025, 17:41
— Lusa/AO Online
O
Banco de Portugal (BdP) divulgou que os bancos
devolveram 22 milhões de euros aos clientes bancários em 2024 por
comissões e juros indevidamente cobrados, sendo que 15,5 milhões de
euros são referentes à devolução por um banco.Em
causa está o facto de o banco ter determinado a perda indevida de
bonificação do valor do ‘spread’ a clientes com crédito em mora. O
banco central não identificou o banco e, questionado posteriormente
pela Lusa, também não indicou quantos clientes foram prejudicados e
depois ressarcidos. Fonte oficial apenas explicou que a situação de
cobança indevida se prolongou entre 2018 e 2022.À
Lusa, a associação de defesa dos consumidores Deco diz ser "muito
positiva" a intervenção do Banco de Portugal quando deteta práticas
lesivas dos direitos dos consumidores, mas também considera que o facto
de este caso acontecer "revela fragilidades significativas na supervisão
preventiva do mercado". "Esta situação
deveria ter sido identificada mais cedo, evitando prejuízos prolongados
para milhares de consumidores. A gravidade da situação é ainda maior,
pois ocorre num contexto de mora por parte do consumidor, o que por si
só já configura uma situação de vulnerabilidade e desigualdade, dada a
assimetria de poder entre o banco e o cliente", refere a Deco.Para
a Deco, é essencial que o BdP "reforce a sua atuação enquanto regulador
e supervisor, não apenas de forma reativa, mas também preventiva".Por
seu lado, a associação de defesa do consumidor Ius Omnibus considera
"essencial que exista uma supervisão efetiva, independente e rigorosa
das práticas comerciais dos bancos, em especial no que respeita à
cobrança de comissões e outros encargos aos consumidores". Para
a associação - que tem em tribunal vários processos contra os
principais bancos por considerar que, entre 2002 e 2013, os clientes
foram lesados nos juros dos créditos - é essencial o "reforço da
fiscalização e da transparência no setor bancário"."Têm
vindo a ser detetadas práticas abusivas que, frequentemente, passam
despercebidas à generalidade dos clientes, quer pela sua complexidade,
quer pela forma como são comunicadas", diz a Ius Omnibus.Também
a Deco diz que frequentemente os clientes não têm conhecimento técnico
ou jurídico necessário para identificar cobranças ilegítimas ao mesmo
tempo que confiam nos bancos "para garantir que as condições contratuais
sejam justas".Para prevenir mais
situações destas, a Deco defende o reforço da fiscalização periódica das
práticas bancárias pelo BdP, com "maior rigor na supervisão", que seja
divulgado publicamente o nome dos bancos infratores e ainda que haja
mais investimento na educação financeira dos consumidores, com
informação clara e acessível sobre os seus direitos e deveres no âmbito
dos contratos bancários.