Associações ambientalistas açorianas criticam escolha das Sete Cidades para festival
3 de jun. de 2022, 16:03
— Lusa/AO Online
O
ambientalista Filipe Tavares, da Associação Regional para a Promoção e
Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde (ARTAC),
considera, em declarações à agência Lusa, que a “dimensão do evento em
causa é bastante relevante naquele contexto e a localização, de facto,
não é a mais adequada para o que se pretende fazer”.A
lagoa das Sete Cidades vai acolher o “Concert for Earth”, a 22 e 23 de
julho, com The Black Eyed Peas, Stone Temple Pilots e Pitbull, entre
outros, para “celebrar o planeta de forma positiva”, numa iniciativa da
produtora Atlantis Entertainment, liderada pelo músico Nuno Bettencourt.“Dada
a dimensão e o grande fluxo de pessoas que se espera com este evento,
seria mais sensato realizá-lo numa zona mais urbana, nomeadamente no
Parque Urbano da cidade de Ponta Delgada, porque tem área suficiente e
tecnicamente é mais simples”, afirma o ambientalista.As
Sete Cidades são um geossítio do Geoparque Açores, Geoparque Mundial da
UNESCO, e encontra-se classificada como massa de água protegida,
através do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Sete
Cidades (POBHLSC), sendo ponto de paragem obrigatória para aves na sua
migração entre as placas europeia e americana.O
ambientalista está convicto do sucesso do evento mesmo noutro local,
referindo que estas iniciativas, “independentemente do sítio onde
acontecem, se tiverem uma grande preocupação na sua programação e nas
medidas implementadas”, podem ter “reduzido impacto, desde que haja uma
estratégia bastante sólida em prol da sustentabilidade”. Rui
Coutinho, do núcleo de São Miguel da associação ambientalista Quercus,
ressalva que a zona das Sete Cidades é habitada e tem uma atividade
agropecuária “que é considerável”.No seu
entender, face à “realização de um evento com as caraterísticas do que
agora se pretende, seguramente existiriam locais, na ilha de São Miguel,
também muito interessantes e onde se produziria um impacto muito
menor”. Segundo o dirigente da Quercus, em
causa estão as emissões de dióxido de carbono e o impacto sonoro e
luminoso que “se farão sentir no ecossistema que ali existe”.“A
realização destes eventos é muito bem-vinda, mas no local apropriado, e
a cratera das Sete Cidades não é objetivamente este local”, afirma Rui
Coutinho.O músico Luís Bettencourt, que
integra a organização do evento, considera que estão reunidas as
condições necessárias para salvaguardar o ambiente: "Foram muitas horas,
muitos dias e meses a estudar, em conjunto com a Direção Regional do
Ambiente, a forma mais correta de realizarmos este evento."O
músico açoriano refere que foram entregues estudos de impacto
ambiental, um plano de prevenção e segurança, outro sobre a geologia e
vulcanologia sumária da zona em causa, bem como um parecer relativo à
fauna terrestre existente à beira da lagoa azul, junto ao Canto dos
Carneiros.Nuno Bettencourt, responsável
pela promotora do evento, considera que mudar o festival de local "é um
pouco ridículo porque terá exatamente o mesmo impacto na ilha",
sublinhando que foi feito um estudo de impacto ambiental. Fonte
da Câmara Municipal de Ponta Delgada, concelho onde se localiza a
freguesia das Sete Cidades, referiu, por seu turno, à agência Lusa que
“o apoio do município é logístico” e que “a localização foi determinada
pela organização e pelo Ambiente”.O
secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas, também em
declarações à Lusa, referiu que foi exigido ao promotor do evento um
conjunto de documentos, "incluindo uma avaliação ambiental e da
capacidade de carga, mapas da zonas de estacionamento, um documento a
comprovar que o festival é 'carbon zero', um levantamento topográfico,
um mapa do festival".Foi ainda exigido "um
memorando de geologia e vulcanologia, um parecer elaborado da
Universidade dos Açores, pelo Departamento de Biologia, e um plano de
prevenção e de segurança". "Após a análise
rigorosa de toda a documentação, em 17 de maio de 2022 foi emitido um
parecer positivo com condicionantes à sua realização, uma vez que o
evento tem enquadramento em todos os normativos legais aplicáveis no
local", esclarece.O titular da pasta do
Ambiente refere que o evento vai ser transmitido e visualizado "por
milhões de pessoas" que terão a oportunidade de assistir a vídeos de
projetos e ações ambientais em curso na região em termos de conservação
da natureza e proteção ambiental, a par da divulgação das ações
integradas nos cinco projetos "Life" em curso nos Açores, do geoparque,
das reservas da biosfera e dos parques naturais de ilha.