Associação Zero alerta para atrasos de Portugal na área da conservação
COP16
21 de out. de 2024, 17:54
— Lusa/AO Online
O balanço da associação
sobre Portugal nesta matéria é feito, em comunicado, a propósito da
cimeira da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a biodiversidade, a
COP16, que hoje começa em Cali, na Colômbia.Portugal estará representado em Cali pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. A
ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, justificou à Lusa a
ausência na COP16, por coincidir com a discussão da proposta de
Orçamento do Estado para 2025 no parlamento.A
associação alerta para a necessidade de medidas urgentes para inverter a
crise global de biodiversidade, nomeadamente restaurando 30% das áreas
degradadas e protegendo 30% do planeta, até 2030, metas definidas na
anterior cimeira, a COP15, há dois anos em Montreal, Canadá, quando foi
aprovado o Quadro Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal.Portugal
tem de apresentar a sua estratégia e plano de ação para atingir as
metas até 2025 e ainda não o fez, lembra a associação, recordando que
também terão de ser revistas a Estratégia Nacional de Conservação da
Natureza e Biodiversidade 2030, aprovada em 2018, bem como a Estratégia
Nacional para as Florestas, atualizada em 2015.Em
resposta escrita à Lusa, o Ministério do Ambiente adianta que se
encontra “a dinamizar o processo de revisão da Estratégia Nacional de
Conservação da Natureza e da Biodiversidade (num processo de atualização
e acolhimento dos compromissos internacionais assumidos, nomeadamente o
KMGBF) e da Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030”. O Governo acrescenta que “terá de incorporar a recente Lei de Restauro da Natureza”, que entrou em vigor em agosto. O
Ministério do Ambiente recorda que a partir da entrada em vigor, cada
Estado-membro tem dois anos para apresentar um Plano Nacional para o
Restauro, adiantando que foi enviado para publicação em Diário da
República a criação do grupo de trabalho para a elaboração da Lei do
Restauro nacional. Sobre a obrigação de
proteção de 30% das áreas terrestres, nas contas da Zero “há muito a
fazer”, porque somando as áreas protegidas criadas por legislação
nacional e as áreas da Rede Natura 2000, de âmbito europeu, atinge-se os
22,4%.No meio marinho a situação é pior,
especialmente quando Portugal tem responsabilidade maior devido ao
tamanho da zona económica exclusiva, diz a Zero.
A associação recorda que a Comissão Europeia abriu dois processos
contra Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) por
incumprimento de um acórdão sobre conservação de sítios de importância
comunitária, tendo decidido também instaurar uma ação contra Portugal no
TJUE por incumprimento de um acórdão que instava o país a designar 61
“sítios de importância comunitária” como zonas “especiais de
conservação”, como exige a diretiva europeia para conservação de
habitats. O tribunal declarou igualmente que Portugal não adotou as medidas de conservação necessárias para esses sítios. “A
Zero foi informada recentemente que existem 28 propostas de planos de
gestão prontos, bem como a expansão e delimitação de áreas marinhas há
muito propostas, mas é absolutamente fundamental a sua aprovação e
implementação”, pode ler-se no comunicado.Ainda
na resposta à Lusa, o Ministério do Ambiente contrapõe: “Sinalizamos
ainda que já sob a gestão do atual Governo foi instituído o Parque
Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, tendo a ministra
do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, decidido a criação de
um mecanismo de compensação financeira destinado aos pescadores das
comunidades de Albufeira, Lagoa e Silves, que operam nessa área”. Para
o Governo, este “é um exemplo da conjugação de proteção da natureza
marinha com a valorização da economia local, que Maria da Graça Carvalho
decidiu que irá estender-se aos Açores. Nessa região autónoma, o
Governo da República irá apoiar a decisão do Governo Regional de
constituição de novas áreas marinhas protegidas, permitindo salvaguardar
30% do mar dos Açores e aumentar significativamente a área protegida
nacional”. Por seu lado, a Zero lembra que
Portugal ainda não finalizou o Cadastro Nacional dos Valores Naturais
Classificados, “elemento fundamental de qualquer estratégia na área da
conservação da natureza e biodiversidade”.