Associação Seniores promoveu reflexão sobre o luto

Hoje 10:57 — Daniela Arruda

Segundo nota divulgada, Paulo Borges, capelão do Hospital de Ponta Delgada, é doutorado no tema “O desejo antecipado da morte num contexto de fim de vida, nos cuidados paliativos” e mestre em “Ética e Espiritualidade em Saúde”. Trouxe à sessão uma abordagem profunda sobre como lidar com a perda e o processo do luto. A sua dissertação de mestrado incluiu ainda uma análise de práticas de cuidados de saúde em contextos hindus, ampliando a perspetiva cultural e espiritual do tema.Para o sacerdote, o luto deve ser encarado de forma estruturada e consciente, com três passos fundamentais: aceitar a perda, impor um limite ao sofrimento e “lançar uma nova semente à terra”, representando o recomeço, lê-se.Durante a reflexão explicou que o luto é uma travessia emocional que se desenrola no delicado espaço entre o adeus e o recomeço. Não se trata apenas da reação à ausência de alguém ou algo que se foi, mas de um processo profundo de reconstrução, no qual a pessoa tenta reorganizar o mundo depois dele deixar de fazer sentido. Esse processo pode durar dias ou anos, alternando entre momentos de dor intensa e descobertas de novos significados.O padre destacou que o adeus não é um ato único, mas renova-se a cada lembrança e gesto quotidiano. Aceitar que algo irrecuperável aconteceu exige confrontar a vulnerabilidade humana e a fragilidade dos laços construídos. Emoções como tristeza, culpa, raiva e saudade coexistem, criando um diálogo interior que molda o percurso do luto, diz nota.O recomeço, por outro lado, surge de forma gradual e quase impercetível. Pode manifestar-se através de hábitos retomados, sorrisos involuntários ou pensamentos menos dolorosos. Recomeçar não significa esquecer ou substituir, mas aprender a carregar a ausência e integrá-la na própria história, permitindo que algo novo ocupe o lugar deixado pela perda.Ao longo da sessão, ficou claro que o luto não é uma etapa a superar, mas um movimento contínuo, no qual a lembrança e a vida se entrelaçam. Entre o adeus e o recomeço reside a humanidade de quem sente, cura e aprende, passo a passo, a reencontrar sentido no mundo, conclui.