Associação quer Marcelo a vetar as alterações ao financiamento partidário
27 de dez. de 2017, 16:16
— Lusa/AO online
Numa
carta aberta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a
direção da Transparência e Integridade [TI] presidida por João Paulo
Batalha, considerou que o diploma é "não só um ataque direto à
integridade do processo legislativo mas uma ameaça séria à qualidade das
instituições democráticas e à confiança dos cidadãos nos partidos
políticos e na instituição parlamentar".A
TI - Associação Cívica apelou ao Presidente da República para que
exerça o direito de veto e o devolva ao parlamento, onde, acusou, "foi
preparado à porta fechada, sem qualquer estudo ou debate público". Segundo
aquela associação, o diploma "pouco faz para aumentar a eficácia
objetiva do controlo dos financiamentos políticos e das campanhas
eleitorais" e introduz alterações que "não só importam elevadas benesses
financeiras para os partidos políticos como encerram novos riscos de
corrupção" numa área "tão sensível e crucial para a qualidade da
democracia".O
diploma, aprovado quinta-feira passada no parlamento, dia 21 de
dezembro, com os votos contra do CDS-PP e do PAN, autonomiza a Entidade
das Contas e Financiamentos Políticos, que passa a ter a competência
para aplicar as coimas por ilegalidades nas contas partidárias e
eleitorais, estabelecendo como instância de recurso o plenário do
Tribunal Constitucional. Contudo,
além destas e outras alterações de processo, o PS, PSD, PCP, BE e PEV
concordaram em mudar outras disposições relativas ao financiamento
partidário, entre os quais o fim do limite para as verbas obtidas
através de iniciativas de angariação de fundos e o alargamento do
benefício da isenção do IVA a todas as atividades partidárias.Até
agora, os partidos podiam requerer a devolução do IVA (Imposto sobre o
Valor Acrescentado), mas apenas para atividades diretamente relacionadas
com a divulgação da mensagem política.Para
aquela estrutura, face à "dimensão e importância das alterações"
introduzidas, é "francamente desonesta" a menção na exposição de motivos
do diploma a "alterações pontuais cuja introdução se revelou
necessária".O
fim dos limites atuais à obtenção de receitas através de iniciativas de
angariação de fundos é "especialmente preocupante" por "agravar os
riscos da informalidade já existentes nestas operações" e permite a
inscrição de verbas sem quaisquer limites.Quanto
à alteração para permitir aos partidos a restituição do IVA por compras
de bens e serviços independentemente da finalidade, a TI considera que
"é um estímulo ao despesismo dos partidos políticos"."E
é particularmente chocante o consenso político em torno desta benesse
milionária aos partidos numa altura em que as famílias e as empresas
portuguesas continuam a sofrer o sacrifício fiscal de sucessivos
aumentos do IVA nos últimos anos", considerou a associação. Para
a TI, o processo legislativo que conduziu à aprovação do diploma, "sem
qualquer escrutínio cívico nem contributo de peritos", viola "princípios
básicos de prestação de contas perante os portugueses". A
Transparência e Integridade - Associação Cívica é o capítulo português
da `Transparency International´, rede global de Organizações Não
Governamentais anticorrupção presente em mais de 100 países.