Associação pede abertura de instrução para tentar levar Cabrita a julgamento
14 de jun. de 2022, 17:30
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa, o advogado da ACA-M indicou que “a
associação requereu a abertura de instrução apenas contra o ex-ministro
Eduardo Cabrita”, com o intuito de “tão só submeter a julgamento” o
antigo governante.“Tendo em conta os
objetivos da associação, trata-se apenas de responsabilizar quem de
direito, de forma a que a sociedade perceba que as pessoas não podem
comportar-se nos termos em que o doutor Eduardo Cabrita se comportou”,
sublinhou.No passado dia 11 de maio, num
comunicado publicado na página de Internet do Departamento de
Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora, o MP revelou que tinha sido
proferido despacho final de acusação, na sequência da intervenção
hierárquica.Fonte ligada ao processo
confirmou então à Lusa o arquivamento em relação ao antigo governante e
ao seu chefe de segurança, Nuno Dias, decidido pelo MP, que manteve a
acusação contra o motorista Marco Pontes, acusado de um crime de
homicídio por negligência.Hoje, o advogado
da ACA-M revelou que a associação recorreu à “lei que regula os
gabinetes ministeriais” para fundamentar o seu pedido de abertura de
instrução, salientando que esta legislação “determina que o ministro é o
superior hierárquico máximo do pessoal do seu gabinete”.O
motorista era “membro do gabinete do ministro da Administração Interna”
e tinha Eduardo Cabrita como o seu “superior hierárquico máximo”, além
de que o então governante “estava presente quando os factos ocorreram”,
frisou Paulo Graça.De acordo com o
causídico, quando ocorreu o atropelamento, o condutor do carro onde
seguia o então ministro utilizava “uma velocidade excessiva tendo em
conta o limite de velocidade e as circunstâncias da via” e, apesar de
haver “obras sinalizadas”, continuou “na mesma velocidade e na faixa da
esquerda”.“Portanto, criou um risco
acrescido de haver um acidente e Eduardo Cabrita, enquanto superior
hierárquico, tinha o dever legal de lhe determinar que adequasse a
velocidade da viatura às condições da via e se colocasse na faixa da
direita de forma a impedir que aquele risco acrescido acontecesse”,
sustentou.Para o advogado da ACA-M, o
então ministro, por “não ter cortado o processo causal que veio a
desembocar na morte de uma pessoa, sob o ponto de vista legal,
constitui-se como responsável do crime de homicídio por omissão e por
negligência”.Paulo Graça indicou que a
associação no seu pedido de abertura de instrução não requereu atos
instrutórios, por considerar que “o que está no processo por si só é já
suficiente para responsabilizar Eduardo Cabrita”.Há
quase um ano, a 18 de junho de 2021, a viatura oficial em que seguia
Eduardo Cabrita atropelou mortalmente Nuno Santos, trabalhador que fazia
manutenção da Autoestrada 6 (A6), ao quilómetro 77,6 da via, no sentido
Estremoz-Évora.Em 03 de dezembro de 2021,
o MP acusou Marco Pontes, motorista de Eduardo Cabrita, de homicídio
por negligência, tendo, nesse mesmo dia, o então ministro da
Administração Interna apresentado a sua demissão do cargo.Mas
a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), que se constituiu
assistente no processo, considerou que havia provas suficientes para
responsabilizar o antigo ministro por um crime de homicídio por
negligência.Face à solicitação da
associação, que requereu intervenção hierárquica, o MP reabriu o caso e
ordenou à procuradora titular do inquérito que constituísse como
arguidos Eduardo Cabrita e o respetivo chefe de segurança pessoal, que
foram ouvidos, mas o despacho final manteve a sua não pronúncia.