Associação de vítimas da Igreja saúda “passo tardio, mas positivo” com projeto de indemnizações
14 de fev. de 2024, 08:06
— Lusa/AO Online
“É
uma pequena etapa da qual estávamos à espera há muito tempo. Até agora a
Igreja tem falado de reparação às vítimas, mas sem concretizar nada e
nós temos insistido na necessidade da indemnização, que é a única forma
de compensar as vítimas, cujo trauma não prescreveu. Independentemente
de qualquer prescrição, é justa a indemnização às vitimas por danos
morais, físicos e psicológicos”, afirmou António Grosso, dirigente da
associação.Em declarações à Lusa, António
Grosso lembrou que as vítimas têm frisado a importância da questão das
indemnizações independentemente da prescrição dos abusos sexuais e
sublinhou que “não é precisa muita criatividade” para definir um esquema
de compensação financeira, uma vez que tal já ocorreu em outros países.“A
Igreja tem de chegar-se à frente com algum quantitativo que permita
publicamente saber-se que tem X milhares ou milhões de euros para
indemnizar as vítimas”, disse, adiantando que “ao Estado também
competiria alguma responsabilidade, já que, constitucionalmente, lhe
cabe a proteção de crianças e jovens. Vamos ver o que o Estado faz
perante as recomendações da própria União Europeia”.António
Grosso salientou a reunião da associação Coração Silenciado com a
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) há cerca de um mês e admitiu que
possa ter dado um impulso no tema das indemnizações às vítimas, mas
apontou também ao argumento das prescrições.“Há
países onde não há prescrição de crimes de natureza sexual sobre
menores e Portugal tem de seguir esse exemplo. E se há alguma entidade
que tem de dar esse pontapé de saída é, precisamente, a Igreja. Tanto
quanto sabemos, a lei de Deus não tem prescrições”, defendeu.O
dirigente da Coração Silenciado invocou as posições já manifestadas
pelo Papa Francisco ou pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, nos encontros que ambos tiveram com representantes das vítimas de
abusos sexuais na Igreja.“Não faz sentido
que venha falar-se em prescrições. D. José Ornelas tem falado várias
vezes em prescrições, que é uma questão jurídica e que alguns crimes já
prescreveram, etc... Para nós, não pode haver prescrição,
independentemente do que esteja na lei. Como diz o Papa Francisco, a dor
não prescreve”, concluiu.