Associação de Municípios rejeita alargar prazos para a descentralização
14 de jan. de 2020, 18:55
— Lusa/AO Online
Para a ANMP, “o que é
preciso concretizar, é incentivar, redobrando o trabalho”, para que “as
coisas [relacionadas com a descentralização de competências] fiquem,
com clareza, assumidas”, disse hoje, em Coimbra, o presidente da
Associação, Manuel Machado, questionado pelos jornalistas sobre a
possibilidade de alargamento dos prazos previsto para a
descentralização, como recentemente defendeu o presidente da Câmara do
Porto, Rui Moreira, e admitiu a ministra da Coesão Territorial, Ana
Abrunhosa.“Recordo que, nas áreas
especialmente sensíveis, a transferência de competências passa
obrigatoriamente pela celebração de contratos, seja contratos-programa”
ou acordos nos quais constam “as regras, os procedimentos, os encargos e
a forma de os suportar” financeiramente, afirmou Manuel Machado.“Por
isso, a dotação do Fundo da Descentralização previsto na proposta do
Orçamento de Estado [para 2020] se nos afigura insuficiente”,
exemplificou o presidente da Associação, que falava depois de ter
participado, hoje, em Coimbra, numa reunião do Conselho Diretivo da
Associação.“Mas, para além disso, é
importante ter presente que o processo de descentralização tem cláusulas
obrigatórias de contratualização entre o Estado [central] e cada
município” e que, neste âmbito e “em especial na área da educação e da
saúde”, particularmente “sensíveis”, é “indispensável” que esses
contratos sejam “claros, transparentes, objetivos e íntegros”, para que
“o processo de descentralização não seja inquinado” por quem “tem
dúvidas até ao fim”.Manuel Machado
compreende essas dúvidas: “Mas não têm razão – é preciso é fazer o
trabalho que vai tirar essas dúvidas, dirimir dificuldades e é
necessário que a administração central corresponda”, sustentou.“Por
exemplo, a Autoridade Tributária continua a ter dificuldade ou continua
a não fornecer a cada município os dados tributários correspondentes”,
frisou o presidente da ANMP.“Com todo o
respeito pela componente do segredo associado à fiscalidade”, para
Manuel Machado é “incompreensível que alguns” daqueles dados não sejam
fornecidos aos municípios.Há, por outro
lado, “serviços da administração central do Estado – isto varia no
território nacional – que, por qualquer perrice não fornecem os dados ou
não fazem o trabalho”, salientou ainda o presidente da ANMP, que também
é presidente da Câmara de Coimbra.“Nós
não desistimos”, assegurou, considerando que há já “um número
significativo de municípios que deram o passo seguinte [no processo de
descentralização de competências] e é necessário que agora sejam
garantidos os meios de tornar eficaz aquilo que é convencionado nas
reuniões, nos contratos e nos decretos setoriais”.É
preciso “inverter o ciclo nos setores onde há arrastamento
injustificado de procedimentos, de negociações, de identificação de
dificuldades”, apelou Manuel Machado.O
processo “tem de ser resolvido no prazo legal estabelecido, porque há
municípios que já avançaram e não podem ser prejudicados por terem
avançado”, salientou.“O que é acordado é
para ser cumprido”, concluiu o presidente da ANMP, considerando que é
necessário “intensificar o trabalho quer do lado da administração
central, incluindo das [suas] delegações regionais”, que se “mantém,
nalguns sítios do território nacional com alguma preguiça para
apresentar os dados e poder conclusivamente desenvolver os processos”.O
presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e outros eleitos, durante
uma conferência realizada no Porto, no domingo, defenderam que o Governo
deveria adiar a obrigatoriedade de a transferência de competências se
concretizar em janeiro de 2021 e voltar à negociação do processo com as
autarquias.Questionada pela agência Lusa,
na segunda-feira, em Vila Nova de Poiares, no distrito de Coimbra, a
ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, admitiu que “os autarcas
precisam é de mais tempo para discutir com o Governo e estudar a forma
como vai ser feita” a descentralização de competências.Já
hoje, a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública
afirmou, em Coimbra, que o roteiro da descentralização do Governo serve
para ouvir as dificuldades dos autarcas e para as colmatar o “mais
rápido possível”.No final de uma reunião
com a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, Alexandra Leitão
referiu que a transferência de infraestruturas e de funcionários no
setor da Educação, além dos acertos de verbas, foi a dificuldade mais
salientada pelos autarcas hoje presentes no encontro.Aos
jornalistas, a ministra disse ainda que o Governo está a trabalhar para
cumprir o calendário definido para a descentralização e para que o
processo seja “participado e por vontade”.