Associação Amigos do Calhau denuncia atentado ambiental na Lagoa
4 de dez. de 2023, 08:24
— Paulo Faustino
A Associação Amigos do Calhau (AAC) considera que a
utilização de maquinaria pesada no âmbito da obra do passeio marítimo da
Lagoa, em São Miguel, com o objetivo de acondicionar uma zona balnear
dentro do seu tramo mais a poente, constitui um “claro atentado
ambiental” por ter sido efetuada dentro da área de nidificação dos
cagarros. “A Associação Amigos do Calhau constatou a utilização de
maquinaria pesada para acondicionar uma zona balnear dentro deste tramo
do litoral, realizando diversas movimentações de rochas. E esta
intervenção foi efetuada mesmo dentro da área de nidificação dos
cagarros e durante a época reprodutora da espécie, o que constitui um
claro atentado ambiental”, pode ler-se num comunicado da AAC.A AAC,
que já tinha denunciado a obra pelo facto do referido tramo invadir uma
zona litoral de grande valor ecológico, incluindo uma colónia de
nidificação de cagarros, aponta o dedo à Câmara Municipal da Lagoa: “Ao
elevado impacto negativo produzido pela construção desta obra devem
acrescentar-se agora os esforços que são feitos por parte da câmara para
criar uma maior artificialização desta área, com o propósito da sua
utilização como zona balnear”.A associação lembra que as colónias de
cagarros defrontam-se com outras ameaças, como cães, gatos, ratos e
mustelídeos, “que causam uma elevada mortalidade entre as aves e que
deveriam ser afastados dos lugares de nidificação”, a que se junta a
perda do habitat de nidificação da ave devido à invasão do litoral por
plantas exóticas, como a cana. Perante o exposto, a associação pede
que todas as colónias de cagarros, mesmo os ninhos isolados, sejam
efetivamente protegidas pelas autoridades, exortando a que a primeira
medida a adotar seja, “logicamente, evitar a destruição direta do
habitat de nidificação, evitando também a perturbação das colónias
durante os meses que dura a época de reprodução”.“Para além dos
recorrentes ataques à nossa fauna e flora nativa, é preocupante ver como
em pleno século XXI continua a predominar a ideia de que a única forma
de tirar proveito do litoral é destruir toda a natureza nele existente,
construir obra acima dele, artificializar ao máximo o seu aspeto e
transformá-lo num recurso destinado unicamente à exploração turística”,
acentua a AAC.O cagarro é uma ave marinha emblemática dos Açores,
onde nidificam três quartas partes de toda a população mundial desta
espécie (Calonectris borealis). A legislação regional classifica este
animal como espécie de conservação prioritária.