Associação admite aconselhar produtores de leite a fechar vacarias ou reduzir produção
8 de jun. de 2022, 14:52
— Lusa/AO Online
“Se a indústria
(privada ou cooperativa) e a distribuição continuarem a ignorar os
custos de produzir leite em Portugal, teremos de aconselhar os
produtores a fechar as vacarias ou reduzir a produção de leite em 20 ou
30% para não precisarem de comprar silagem ou para equilibrarem as
contas vendendo o milho para mercado de grão”, avisa a associação em comunicado.Sustentando que
“dar milho às vacas com o atual preço do leite é deitar dinheiro fora”, a
associação precisa que “um kg [quilograma] de ração para as vacas custe
mais de 50 cêntimos e os produtores recebem por um litro de leite 40
cêntimos no continente e 33 cêntimos nos Açores”.De
acordo com a Aprolep, ao aumento dos custos de produção – desde o
gasóleo agrícola, ao adubo, milho e bagaço de soja, “que representaram
até maio um aumento de 50% no custo total para produzir um litro de
leite, face a igual período de 2021” – acrescem as atuais “limitações ao
uso de água de rega em algumas regiões”.Como
resultado, “o milho silagem vai custar mais a produzir e vai ter um
valor superior no mercado porque está ligado ao milho grão, cujo valor
aumentou no último ano e em particular após o início da guerra na
Ucrânia”, salienta. Face a estes alertas
dos produtores de leite, a empresa Queijos Santiago anunciou esta semana
que, a partir de julho, vai aumentar em cinco cêntimos por litro o
preço de compra do leite de vaca aos produtores, numa decisão que a
Aprolep diz que “não é suficiente”, mas se “aproxima do objetivo”.Já
a “Fromageries Bel, que coloca no mercado produtos de valor
acrescentado, veio anunciar uma atualização de apenas dois cêntimos a
partir de julho e os produtores que fornecem a marca ‘Pingo Doce’ foram
informados também de um aumento de dois cêntimos a partir de 01 de
junho”, acrescenta.Salientando estar ainda
à espera de “uma resposta das cooperativas associadas na Lactogal”, a
Aprolep considera que, enquanto “indústria líder do mercado em termos de
quantidade” e “propriedade das cooperativas dos produtores, esta
empresa "devia também ser líder no preço do leite”.Paralelamente,
a associação diz continuar também a aguardar “uma resposta do senhor
primeiro-ministro sobre este assunto, uma vez que até agora a senhora
ministra da Agricultura ignorou esta situação”.No
comunicado divulgado esta quarta-feira, a Aprolep refere ainda ter tido
“conhecimento de que o Pingo Doce anunciou nos supermercados, em letras
garrafais, que ‘bloqueou’ o preço do leite até ao final de julho”.E
argumenta: “Nós respeitamos o direito do grupo Jerónimo Martins
repartir alguns dos 463 milhões de euros de lucros que teve em 2021,
mas, como não partilhamos esses lucros, não podemos agora partilhar essa
fatura. O problema é que ninguém nos bloqueou o preço do gasóleo, do
adubo, da eletricidade para a rega e da ração para os animais, coisas
que não podemos comprar no Pingo Doce”.“Ainda
produzimos o leite que Portugal precisa, mas não podemos continuar a
cultivar os campos e a alimentar os animais se aqueles que dizem apoiar a
produção nacional trancam a sobrevivência das nossas empresas
agrícolas”, conclui a associação.