Assintomáticos podem transmitir doença e vacinas são eficazes na mitigação
Mpox
18 de ago. de 2024, 11:43
— Lusa/AO Online
"É possível a
existência de casos assintomáticos – que nesta patologia penso que são
menores -, mas a possibilidade de transmissão a partir de assintomáticos
é que ainda não está bem compreendida", explica à Lusa a professora
assistente do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da
Universidade Nova de Lisboa.O mais recente
surto de Mpox, anteriormente chamada de 'varíola dos macacos', é
causado pelo 'clade I', da África Central, que é diferente do que causou
o surto em 2022, com vários casos na Europa, o 'clade II', da África
Oriental, indica."Estes 'clades' têm características diferentes em termos de sintomatologias", diz. "O 'clade
II' causava erupções cutâneas menos frequentes e mais localizadas,
enquanto o 'clade I' tem erupções mais dispersas em todo o corpo, o que
faz com que tenha uma sintomatologia mais severa. No entanto, sintomas
como a febre, as cefaleias e as linfadenopatias [condição em que os
nódulos linfáticos ficam com tamanho, consistência ou número anormais]
são comuns em ambos", declara.Aparentemente,
a mais recente estirpe é mais violenta, apesar de a investigadora ter
frisado que ainda não encontrou "informação clara relativa à taxa de
mortalidade"."O que está descrito é que
esta estirpe tem taxas de mortalidade mais elevadas, sendo que a
informação que eu encontrei é que esta tem uma percentagem de 1 a 10%,
enquanto o 'clade II' tinha de 2 a 6%, mas isto também depende das áreas
afetadas", salienta.Ana Abecasis explica
que a taxa de mortalidade entre as estirpes não deve ser diretamente
comparada, pois o surto de 2022 teve casos na Europa, que tem uma maior
capacidade de resposta, e o surto atual está a afetar
principalmente África, onde há falta de infraestruturas e de
profissionais de saúde. O 'clade
I' transmite-se mais frequentemente de humano para humano, o que
facilita a sua propagação, sendo que, quinta-feira, na Suécia, foi
anunciado o primeiro caso na Europa, por isso "há uma necessidade de
prevenção elevada", sublinha.Especificamente
sobre África, "a melhor resposta (...) para colmatar este surto é
através da prevenção porque, em termos de capacidade de resposta de
recursos humanos em saúde para tratamentos, sabemos que temos recursos
limitados nestes contextos e acaba ser mais difícil de atuar", lamenta.Por isso, priorizar a vacinação "será a melhor estratégia para tentar dar a volta a esta falta de recursos humanos", aconselha.A
Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma série de recomendações, que
vão desde o diagnóstico precoce, o isolamento dos casos, a notificação
de parceiros, a identificação dos contactos e a vacinação, mas o número
de vacinas disponíveis é ainda baixo, diz.Neste
momento, há a questão da produção de vacinas, da distribuição e a
priorização de pessoas de alto risco para começarem a ser vacinadas, mas
o contexto local pode complicar essa ação.No
entanto, Aliança de Vacinas GAVI, cujo presidente é Durão Barroso,
antigo primeiro-ministro português, tem um plano de resposta com uma
verba financeira destinada a este tipo de emergências, de 500 milhões de
dólares (cerca de 455 milhões de euros) e anunciou na sexta-feira a
criação de uma reserva global de vacinas contra a Mpox."Neste
caso, vamos ter que garantir que estas vacinas são distribuídas de uma
forma coordenada e que as entidades a nível local conseguem ir
controlando os casos que surgem e identificar contactos, de forma
a impedir que a epidemia alastre rapidamente", afirma a investigadora.A professora considera crucial que sejam definidos grupos de alto risco."Eu
ainda não vi nada em que se definam os grupos de alto risco neste caso.
Sabemos que há muitas infeções em crianças, que há transmissão vertical
e, neste caso, a taxa de mortalidade é maior", frisa.Desde o surto anterior, em 2022, tem havido uma resposta de investigação e preparação para a varíola, indica.Relativamente
a Portugal, "tem de haver uma sensibilização, por parte dos
profissionais de saúde, para a sintomatologia desta doença, ou o espetro
dos sintomas, na ótica da possível existência de casos importados, para
que possamos atuar de imediato para os isolar", diz. "Também
não sei o que está previsto em termos de controlo das entradas de
pessoas oriundas destas regiões mais afetadas, mas é importante fazer
alguma vigilância, o que seria uma estratégia eficaz", aconselha. Todavia,
frisou que tem de existir uma gestão dos recursos e perceber-se até que
ponto se pode fazer uma testagem massiva nas fronteiras.Em Portugal já existem cerca de 17.000 pessoas vacinadas, que eram do quadro de alto risco do surto de 2022, especifica. A
investigadora salienta ainda que, na sua opinião, "todas as vacinas
disponíveis devem ser canalizadas para os países que estão a enfrentar
surtos neste momento, mas a dada altura pode fazer sentido vacinar
também a população portuguesa e aí também tem de haver uma definição de
estratégia de vacinação que identifique os grupos prioritários,
nomeadamente os profissionais de saúde, que têm maior probabilidade de
contacto com doentes", conclui.