ASPP/PSP critica "aproveitamento político e mediático" dos tumultos na região de Lisboa
25 de out. de 2024, 16:01
— Lusa/AO Online
“A
ASPP/PSP deplora e condena todo o tipo de aproveitamento político,
jornalístico e mediático que surgiram neste incidente e sempre que
ocorrem outros idênticos”, lê-se num comunicado da estrutura sindical divulgado.“Admitimos a legitimidade, a
importância e a necessidade de informar e comentar, mas criticamos todo
o ruído inqualificável, com rotulagens vazias, acusações infundadas,
observações sem conhecimento factual dos incidentes e da missão
policial, omissão e/ou deturpação da verdade, permanência de vários
intervenientes a fazerem-se substituir à Direção Nacional da PSP na
abordagem a questões operacionais e outras”, acrescenta o sindicato mais
representativo da PSP.No documento em que
lamenta “qualquer perda de vidas”, a ASPP apela à “restituição da ordem
e tranquilidade públicas” e manifesta solidariedade “para com os
profissionais da PSP que enfrentam, mais uma missão difícil, arriscada,
complexa e extremamente exigente”.Este
sindicato questiona também o que foi feito sobre matérias que podem
estar “na base destes episódios”, nomeadamente ao nível do policiamento
de proximidade.“A ASPP/PSP não entende
como se tem vindo a descurar a ligação fulcral entre as polícias e as
comunidades, principalmente com os interlocutores certos, que promovam a
uma compreensão e respeito mútuo. Não excluímos, no entanto, a
necessidade de restituição da ordem pública, sempre que existam indícios
e comportamentos que queiram comprometer essa mesma tranquilidade”,
sustenta.A estrutura sindical aponta que à
falta de meios técnicos e operacionais, como os ‘tasers’, as
‘bodycams’, viaturas, instalações e falta de efetivas se juntam o
“descurar de um policiamento comunitário”, políticas sociais que criam e
mantêm guetos, questões remuneratórias, entre outras.“A
ASPP/PSP reitera que, após estes acontecimentos, deve deixar-se
“respirar"- dar tempo ao tempo - aguardar pelas conclusões dos
inquéritos e diligências e não reagir impetuosamente ou
oportunisticamente. A mediatização em demasia pode fomentar o fenómeno
de repetição e impulsos vários. A constante abordagem a agendas
criminais e a discussão ou divulgação e comentário sobre o crime, de
forma sensacionalista e desenquadrada, como tem acontecido há muito,
apenas serve para criar um alarmismo e em nada ajudando ao equilíbrio
social”, critica a associação sindical.A
ASPP/PSP manifesta disponibilidade para reunir com o Governo,
autarquias, a direção nacional da PSP para uma “abordagem séria,
responsável e construtiva”, e justifica a ausência do espaço mediático
no que diz respeito a este episódio “enquanto o contexto se basear no
ímpeto, no oportunismo, no ruído, no nervosismo, no radicalismo e
populismo”, defendendo que esta é uma posição de “responsabilidade e na
preservação do interesse dos visados, das instituições, do inquérito e
dos processos em curso”.Odair Moniz,
cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na
Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira,
no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois,
no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.Segundo
a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura
policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado
pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com
recurso a arma branca”.A associação SOS
Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e
exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar “todas as
responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de
impunidade” nas polícias.A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.Desde
a noite de segunda-feira registaram-se desacatos no Zambujal e, desde
terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram
queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo. Mais de uma dezena
de pessoas foram detidas, o motorista de um autocarro sofreu
queimaduras graves e dois polícias receberam tratamento hospitalar,
havendo ainda alguns cidadãos feridos sem gravidade.