As 48 horas de vida de um projeto condenado ao fracasso
Superliga
21 de abr. de 2021, 12:36
— Lusa/AO Online
Dois
dias bastaram para a ascensão e a queda da Superliga europeia,
irremediavelmente condenada ao fracasso após o ‘Brexit’ dos clubes
ingleses, consumado na noite de terça-feira, com comunicados a conta
gotas de Manchester City, Liverpool, Arsenal, Manchester United,
Tottenham e Chelsea, um exemplo seguido esta manhã por Atlético de
Madrid e Inter de Milão.As 48 horas mais
frenéticas do futebol começaram com a ‘bomba’, lançada na noite de
domingo, na véspera da divulgação do novo modelo da Liga dos Campeões:
após horas de insistentes rumores, reforçados por um comunicado no qual a
UEFA ameaçava excluir das competições nacionais e internacionais os
clubes que participassem numa liga privada, assim como os seus
jogadores, um comunicado de três páginas anunciava a criação da
Superliga.Doze clubes entre os mais ricos
tinham criado uma competição exclusiva e elitista, num modelo quase
fechado, que reuniria 15 membros-fundadores e cinco convidados a cada
temporada. Eram eles AC Milan, Inter de Milão e Juventus, da Liga
italiana, Real Madrid, Atlético de Madrid e FC Barcelona, da Liga
espanhola, e os ‘Big 6’ ingleses. “Os
clubes fundadores receberão um pagamento único no valor de
aproximadamente 3,5 mil milhões de euros, destinados exclusivamente a
investimentos em infraestruturas e compensar o impacto da pandemia de Covid-19”, informavam em comunicado, adiantando que a nova competição
pretendia “gerar recursos suplementares para toda a pirâmide do
futebol”.Numa ação preventiva, os 12
clubes fundadores da Superliga avisaram mesmo os líderes da FIFA e da
UEFA que iriam interpor uma ação judicial para impedir os esforços
destas organizações no sentido de proibir o avanço da nova competição,
e, para reforçarem a sua intenção, começaram a abandonar a Associação
Europeia de Clubes (ECA), com o Manchester United e a Juventus a tomarem
a dianteira.As reações não se fizeram
esperar de todos os quadrantes, do desporto à política, com todos, à
exceção dos envolvidos, a condenarem o ‘capricho’ destes 12 clubes,
comandados pelo presidente do Real Madrid, Florentino Pérez.“A
UEFA e o futebol estão unidos contra a proposta que vimos de alguns
clubes na Europa que são movidos pela ganância. Toda a sociedade e os
governos estão unidos contra estes planos cínicos, que são contra o que o
futebol deve ser”, defendeu o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin,
equivalendo a Superliga a “cuspir na cara de todos os que gostam de
futebol” e apelidando de “cobras” movidas por “ganância, egoísmo e
narcisismo” as equipas dissidentes. Mais
ou menos violentas, as críticas ao projeto da Superliga uniram FIFA,
federações e governos nacionais – incluindo o português -, instâncias
europeias, mas também equipas de elite, como os poderosos Bayern
Munique, Borussia Dortmund, ou Paris Saint-Germain, treinadores, como
Pep Guardiola (do Manchester City), ou atuais e antigos jogadores, com
destaque para o português Bruno Fernandes, estrela do Manchester United,
e para o capitão do Liverpool, Jordan Henderson, o mais inconformado
dos jogadores da Premier League – chegou a convocar uma reunião de
capitães para hoje, cancelada após o recuo dos ‘Big 6’.Em
Portugal, o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, admitiu terem
existido alguns contactos informais de alguns clubes sobre a matéria,
aos quais não deu “grande atenção”, por serem “algo que é contra as
regras da União Europeia e da UEFA”, enquanto Sporting, Benfica e
Sporting de Braga se opuseram veementemente à criação da Superliga.Num
verdadeiro clima de ‘guerra civil’, com ameaças de parte a parte – a
exclusão dos jogadores desses 12 clubes das seleções nacionais era uma
das ‘armas’ esgrimidas por UEFA e FIFA -, promessas de longas batalhas
judiciais, quedas em bolsa e retiradas de patrocinadores, foram os
adeptos ingleses os rostos mais visíveis da queda em desgraça do
projeto: verdadeiros amantes do desporto-futebol, protestaram diante dos
seus estádios, com os do Chelsea a serem os mais sonoros na reprovação
do projeto.Cientes de que sem o apoio dos
adeptos a Superliga europeia estaria condenada ao fracasso desde o
primeiro momento, os clubes ingleses recuaram, num ‘Brexit’ com pedidos
de desculpa, nomeadamente de Arsenal e Liverpool. Num
gesto ‘desesperado’, os restantes membros do ‘grupo exclusivo’ reagiram
em comunicado já na madrugada de hoje, garantindo que, “apesar da
anunciada partida dos clubes ingleses, forçados a tal decisão devido à
pressão exercida sobre eles”, estavam convictos de que a sua proposta
“está completamente alinhada com as leis e regulamentos europeus” e
prometendo “reconsiderar os passos a dar para remodelar o projeto”.Sem
os representantes da Premier League, o projeto estava condenado, uma
realidade reconhecida pelo presidente da Juventus, o polémico Andrea
Agnelli, ao mesmo tempo que Atlético de Madrid e Inter de Milão também
anunciavam a saída.