Autor: Lusa/AO Online
O projeto,
apresentado em abril último pelos curadores, Nuno Brandão Costa e Sérgio
Mah, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, vai ficar instalado no Palazzo
Giustinian Lolin, sede da Fundação Ugo e Olga Levi, junto ao Grande
Canal, em Veneza, entidade com a qual a Direção-Geral das Artes,
organizadora da representação portuguesa, assinou um protocolo de
utilização para este ano. André
Cepeda, Catarina Mourão, Nuno Cera e Salomé Lamas foram os quatro
artistas convidados a criar filmes sobre os edifícios selecionados. Aos
jornalistas, no final da apresentação, Nuno Brandão Costa explicou que
"a ideia da exposição é fazer uma pequena história da construção do
edifício público, por arquitetos portugueses no período de uma década,
desde o início da crise económica, em 2007, até 2017, tentando
representar edifícios com programas muito distintos, focando sobretudo
as questões da forma, da morfologia urbana e da construção". "Nesse
ponto de vista, é uma exposição bastante disciplinar. Incide sobre a
questão da arquitetura, e os edifícios escolhidos também tentam apanhar
todas as gerações de arquitetos portugueses no ativo, hoje, em Portugal,
construindo não só em Portugal, mas também fora" do país, apontou,
acrescentando que se trata de "uma exposição transgeracional”, que
abrange arquitetos nascidos desde os anos 1930 até aos anos 1980. Questionado
pela Lusa sobre as razões do destaque dado aos edifícios públicos neste
projeto, o arquiteto e curador disse que este advém da sua construção,
"que tem uma dupla importância: de morfologia, na qualificação da
cidade, e, por outro lado, social, porque é um momento de equivalência
social". "Neste
período, que corresponde ao período da crise, houve uma retórica,
nomeadamente política, contra a construção deste tipo de obras,
consideradas uma circunstância despesista e, por isso, nós destacamos
estes aspetos: qualificar as cidades e introduzir a oportunidade
social", através dos edifícios públicos. Por
seu turno, o curador Sérgio Mah apontou que a exposição mostra, no piso
nobre do palácio onde será instalada, em Veneza, "a abordagem clássica,
disciplinar, com as maquetas, desenhos técnicos” e, no átrio do
monumento, “um conjunto de filmes de quatro artistas portugueses com
percursos consolidados". Os
convites aos artistas foram feitos "para desenvolver um olhar mais
experiencial sobre os tempos, ocupação de área, apropriação do espaço
pelas pessoas para quem se destinam estes edifícios públicos". Entre
eles está o artista André Cepeda, que explicou aos jornalistas que
criou filmes sobre três edifícios do Porto, numa abordagem que "tem
muito a ver com a complexidade e arquitetura de cada projeto". "O
meu olhar tem muito mais a ver com uma relação contemporânea, que é a
apropriação do espaço e a forma como os edifícios são vivenciados e com o
tempo, que os vai degradando, ou tornando-os mais interessantes", numa
visão expressa através da imagem e do movimento. Por
sua vez, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, sublinhou a
projeção da arquitetura portuguesa: "A nossa arquitetura é uma realidade
cultural que dá imensa grandeza e afirmação ao nosso país e aos nossos
criadores". "Também
é um fator económico, na medida em que a arquitetura tem um papel
importante na criação de riqueza: produção de beleza, criação de
riqueza", salientou. Os
12 edifícios de arquitetos portugueses que vão ser incluídos na
exposição dividem-se pelo país e pelo estrangeiro, com três localizados
nos Açores: Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira
Grande (João Mendes Ribeiro e Menos é Mais - Cristina Guedes e Francisco
Vieira de Campos), Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do
Heroísmo (Inês Lobo) e Centro de Visitantes da Gruta das Torres, no Pico
(SAMI - Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira). De
Lisboa estão incluídos na lista o Teatro Thalia (Gonçalo Byrne e Barbas
Lopes Arquitetos, Diogo Seixas Lopes e Patrícia Barbas) e o Terminal de
Cruzeiros (João Luís Carrilho da Graça). Do
Porto, são vários os edifícios que vão constar da representação
portuguesa: I3S - Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (Serôdio
Furtado Associados - Isabel Furtado e João Pedro Serôdio), Molhes do
Douro (Carlos Prata), Pavilhões Expositivos Temporários, "Incerteza
Viva: Uma exposição a partir da 32.ª Bienal de São Paulo", Parque de
Serralves (depA - Carlos Azevedo, João Crisóstomo e Luís Sobral, Diogo
Aguiar Studio, FAHR 021.3 - Filipa Fróis Almeida e Hugo Reis, Fala
Atelier - Ana Luísa Soares, Filipe Magalhães e Ahmed Belkhodja e
Ottotto, Teresa Otto). A
lista de obras selecionadas inclui ainda o Hangar Centro Náutico, em
Montemor-o-Velho (Miguel Figueira), e o Parque Urbano de Albarquel, em
Setúbal (Ricardo Bak Gordon). Fora
de Portugal encontram-se o Centro de Criação Contemporânea Olivier
Debré, em Tours, França (Aires Mateus e Associados - Manuel e Francisco
Aires Mateus) e a Estação de Metro Município, em Nápoles, Itália (Álvaro
Siza Vieira, Eduardo Souto Moura e Tiago Figueiredo). Questionada,
na altura, pela agência Lusa, sobre o montante disponibilizado para a
representação de Portugal na 16.ª Exposição Internacional de Arquitetura
da Bienal de Veneza, a então diretora-geral das Artes Paula Varanda -
entretanto demitida e substituída por Sílvia Belo Câmara - indicou que o
valor global é de 450 mil euros, tendo 200 mil euros sido atribuídos
aos autores do projeto português, e 250 mil euros para o aluguer do
espaço durante os seis meses do decurso da exposição, incluindo despesas
de manutenção. Na
quarta-feira, com entrada livre, será exibido, na Bienal de Veneza, o
documentário “Tudo é Projeto”, sobre o arquiteto brasileiro Paulo Mendes
da Rocha, numa iniciativa da Casa da Arquitectura e da Università Iuav
di Venezia, onde terá lugar uma conversa a seguir à exibição, marcada
para as 16:00, com Joana Mendes da Rocha, e de Daniele Pisani, autor do
livro “Paulo Mendes da Rocha – Obra Completa”. Em
2016, Paulo Mendes da Rocha - autor do novo Museu Nacional dos Coches,
em Lisboa - recebeu o Leão de Ouro de carreira da Bienal de Arquitetura
de Veneza. Mendes
da Rocha doou o projeto original do Museu dos Coches à Casa da
Arquitectura, no Porto, sendo um dos primeiros arquitetos a oferecer
materiais originais para integrar a Coleção Arquitetura Brasileira, um
vasto acervo de projetos, desenhos, maquetes e livros que conta a
história da arquitetura moderna e contemporânea brasileira de 1930 até à
atualidade. A
inauguração oficial do pavilhão de Portugal está prevista para
quinta-feira, pelas 17:00, no Palácio Giustinian Lodin, e a 16.ª
Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza estará
patente ao público de sábado, 26 de maio, ao próximo dia 25 de novembro.