Autor: Susete Rodrigues
O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, inaugura amanhã, pelas 16h00, a exposição ‘Vamos aonde já estivemos?’, do projeto Desaguar, uma iniciativa conjunta de três entidades, nomeadamente Arquipélago, Fundação Bienal de Arte de Cerveira e Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, em Loulé, no âmbito da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea.
A mostra apresenta o resultado das residências artísticas que decorreram em São Miguel, partindo “da ideia central da água como elemento vital, como metáfora, mas também como uma ideia de uma força transformadora”, explicou Jesse James curador da mostra.
Para o Desaguar, cada instituição escolheu dois artistas da sua região, no caso do Arquipélago foram Margarida Andrade e João Amado; Loulé escolheu Bertílio Martins; a Bienal de Cerveira convidou Ana Maria Pintora e Patrícia Oliveira. Estes seis artistas andaram um pouco por toda ilha, nem sempre ao mesmo tempo, mas “sempre que foi possível juntaram-se”, e estiveram a tentar perceber “a geografia, a morfologia da ilha, como é que a água esculpiu a ilha, entender também os corpos de água que esta ilha tem, as lagoas - que são áreas ecológicas muito relevantes”, afirmou Jesse James, para acrescentar que “acho que sempre que se faz uma residência nos Açores, os artistas precisam de mapear, ou seja, precisam de estar andando de um lado para o outro para entender o que é que são os ritmos e os espaços da ilha”.
Os artistas visitaram locais como o Salto do Cabrito, as Furnas, as Sete Cidades, ribeiras, bem como procuraram muitos fontenários e isso “acaba por estar refletido na obra de uma das artistas, pensar o que é que são essas infraestruturas, distribuição da água, por exemplo”. Mais do que uma exposição, o que o público irá presenciar é a uma mostra de trabalhos destes seis artistas porque “o que se pretende é agregar e criar relações entre todos esses trabalhos. Há linguagens muito diversas”, afirmou o curador, adiantando que “teremos desde o vídeo da Margarida ao desenho da Milita e do Bertílio, à gravura, à instalação da Patrícia, escultura e pintura. Ou seja, em termos de linguagem é bastante amplo”.
O
papel de Jesse James neste projeto, teve muito a ver com “criar um
percurso curatorial que tenta abarcar essas propostas todas, que viajam
entre dimensões distintas. É ser alguém com quem os artistas podem
entrar num processo de troca de ideias”, salientou. Para o curador “ foi
um exercício também muito interessante, de discutir o trabalho,
perceber melhor o que é que eles estão a pensar e como é que eles estão a
pensar”, disse exemplificando ainda que “o Bertílio fala muito sobre
questões de mapas e cartografias. Depois há uma ideia de escassez
hídrica da Margarida. Há essas infraestruturas e memórias comunitárias
da Milita. Existe uma ficção muito especulativa do João Amado. Depois
entramos na questão das tradições e desses fluxos mais simbólicos da Ana
Maria. E depois há uma reflexão final ética na exposição da Patrícia”,
tendo sempre a “água como fio condutor”, finalizou.