Arqueólogos dizem que acervo da arqueologia subaquática "está em risco de destruição"
27 de set. de 2017, 17:36
— Lusa/AO online
O arqueólogo, dirigindo-se ao
ministro Luís Filipe Castro Mendes, atesta que, "tendo tido oportunidade
de observar pessoalmente a situação em que se encontra o acervo da
arqueologia subaquática" nas instalações do Mercado Abastecedor da
Região de Lisboa (MARL), "antes do recente impedimento de acesso ao
local", pode "garantir" que o acervo, "em tratamento laboratorial, está
em risco de destruição, não necessariamente imediata, mas a curto e
médio prazo". O ministro da Cultura, na quarta-feira, em
declarações à agência Lusa, afirmou que o património do Centro Nacional
de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) não corria "o risco de ser
destruído" e que a "situação provisória" será resolvida até final do
primeiro semestre de 2018. Na carta, tornada hoje pública, José
Morais Arnaud, presidente da AAP, afirma: "Tendo tido oportunidade de
observar pessoalmente a situação em que se encontra o acervo da
arqueologia subaquática nas instalações do MARL, antes do recente
impedimento de acesso ao local, posso garantir a Sua Excelência que, ao
contrário da informação que lhe terá sido transmitida pelos responsáveis
da Direção-Geral do património Cultural (DGPC), grande parte do
referido acervo, que se encontra ainda em tratamento laboratorial, está
em risco de destruição, não necessariamente imediata, mas a curto e
médio prazo, devido à suspensão do sistema da circulação de água doce
nas dezenas de tanques em que estão imersos inúmeros objetos de matéria
orgânica e de metal, de diferentes épocas, que ocorreu em resultado das
obras em curso". "Testemunhei também a situação de risco físico e
psicológico em que se encontram os trabalhadores da DGPC afetos ao
CNANS, obrigados a trabalhar, sem qualquer proteção física, num contexto
de obra particularmente difícil, rodeados de poeira e barulho por todo o
lado, tendo que se desviar constantemente de maquinaria e de
equipamentos em movimento, condições absolutamente indignas de um
serviço público", lê-se no mesmo documento. A Lusa questionou, na
quarta-feira, Castro Mendes sobre a situação do espólio náutico e
subaquático armazenado no MARL, ao que o ministro afirmou: "Não corre o
risco de ser destruído", mas admitiu que "não está convenientemente
recolhido". "Foi uma solução provisória, a do MARL e,
entretanto, temos já a decisão tomada de transferir todo o espólio do
CNANS para o Forte de Xabregas, e também o financiamento assegurado para
fazer as necessárias obras para recolher a coleção", afirmou. O
arqueólogo questiona "como é possível aceitar que um laboratório de
conservação e restauro de um serviço estatal possa funcionar durante a
montagem de andaimes, dentro de um edifício em obras", e apela ao
ministro da Cultura que "mande suspender de imediato as obras em curso,
até que o património arqueológico em risco, que de facto 'não está
convenientemente recolhido', como admitiu (...), possa ser removido para
outro local por técnicos habilitados para o efeito, e continuar a ser
tratado até estar estabilizado, sem o que correrá sérios riscos de
destruição. Para tal será urgente mobilizar entretanto os recursos
humanos e materiais necessários, pois quanto mais tempo decorrer,
maiores serão os danos irreversíveis causados". O presidente da
AAP, adverte que se tal não acontecer o ministro será "responsabilizado
pelos danos irreversíveis causados a importantes parcelas do património
arqueológico nacional entregues ao organismo que tutela".