Armando Vera apresenta-se na cadeia de Évora para cumprir pena
Face Oculta
16 de jan. de 2019, 16:59
— Lusa/AO Online
Armando Vara foi
condenado em setembro de 2014 pelo Tribunal de Aveiro a cinco anos de
prisão efetiva, por três crimes de tráfico de influências.O
coletivo de juízes deu como provado que o antigo ministro e
ex-vice-presidente do BCP recebeu 25 mil euros do sucateiro Manuel
Godinho, o principal arguido no caso, como compensação pelas diligências
empreendidas em favor das suas empresas.Em declarações aos jornalistas à porta da prisão de Évora, Armando Vara reiterou a sua inocência.“Venho
cumprir uma pena que considero injusta porque sou inocente”, disse
Armando Vara, sublinhando que sente “uma certa indignação”.“Este não é propriamente o momento em que mais me apetece falar”, afirmou ainda aos jornalistas.Armando
Vara, que tinha até quinta-feira para se apresentar na cadeia de Évora,
chegou a este estabelecimento prisional acompanhado pelo seu advogado,
Tiago Rodrigues Bastos.Sobre a prisão do ex-ministro socialista, Tiago Rodrigues Bastos considerou que “não houve uma decisão justa”.“Não
é um dia feliz na carreira de um advogado e neste momento o que
interessa é que se cumpra o que tem de se cumprir”, disse o advogado de
Armando Vara, classificando o momento como difícil por considerar que a
decisão é injusta.“Creio que a decisão é errada sob todos os pontos de vista”, disse.Tiago
Rodrigues Bastos disse ainda que recebeu instruções de Armando Vara
para não usar qualquer expediente dilatório e para comunicar a todas as
entidades que se apresentaria para cumprir a pena.“Não
adiámos um minuto por indicações expressas do meu constituinte que
recusou qualquer expediente que adiasse o cumprimento da decisão”,
frisou.Em
setembro de 2014, o coletivo de juízes deu como provado que Armando Vara
recebeu 25 mil euros do sucateiro Manuel Godinho, o principal arguido
no caso, como compensação pelas diligências empreendidas em favor das
suas empresas.Inconformado
com a decisão, o arguido recorreu para o Tribunal da Relação do Porto,
que negou provimento ao recurso, mantendo integralmente o acórdão da
primeira instância.Armando
Vara interpôs novo recurso, desta vez para o Supremo Tribunal de
Justiça, que não foi admitido, recorrendo então para o Tribunal
Constitucional, que, em julho de 2018, decidiu “não conhecer do objeto”
do recurso interposto. A defesa reclamou então desta decisão, sem
sucesso.A
condenação transitou em julgado no passado mês de dezembro, após
esgotadas todas as possibilidades de interposição de recurso. Nessa
altura, o ex-ministro informou o Tribunal de Aveiro que aceitava o
trânsito imediato da decisão condenatória, declarando que pretendia
apresentar-se voluntariamente para iniciar o cumprimento da pena nos
termos que lhe forem determinados.O
processo Face Oculta, que começou a ser julgado em 2011, está
relacionado com uma alegada rede de corrupção que teria como objetivo o
favorecimento do grupo empresarial do sucateiro Manuel Godinho nos
negócios com empresas do setor do Estado e privadas.Além
de Armando Vara e Manuel Godinho, foram arguidos no processo o
ex-presidente da REN (Redes Energéticas Nacionais) José Penedos e o seu
filho Paulo Penedos, entre outros.Na
primeira instância, dos 36 arguidos, 34 pessoas singulares e duas
empresas, 11 foram condenados a penas de prisão efetiva, entre os quatro
anos e os 17 anos e meio.Atualmente,
ainda estão pendentes no Tribunal Constitucional os recursos de Manuel
Godinho, José Penedos, Paulo Penedos, Domingo Paiva Nunes, Hugo Godinho e
Figueiredo Costa.João
Tavares, o primeiro arguido do processo Face Oculta condenado a pena
efetiva a ver a sentença tornar-se definitiva, também se entregou
voluntariamente hoje de manhã na GNR de Vendas Novas, no distrito de
Évora.O
ex-funcionário da Petrogal será agora transportado para o
estabelecimento prisional de Montijo ou Setúbal, onde deverá cumprir uma
pena de cinco anos e nove meses de prisão, por ter recebido 12.500
euros de Manuel Godinho para "facilitar" o negócio dos resíduos ao
sucateiro na refinaria de Sines.Outro
arguido do processo Face Oculta, Manuel Guiomar, ex-quadro da Refer,
vai entregar-se até sexta-feira no estabelecimento prisional de Castelo
Branco para cumprir a pena de seis anos e meio de prisão a que foi
condenado.Armando
Vara é também um dos 28 arguidos no processo Marquês, em que o
principal arguido é o ex-primeiro-ministro José Sócrates, cuja fase de
instrução começa a 28 de janeiro.