Armando Vara diz que liberdade prova que não cometeu nenhum crime
11 de out. de 2021, 16:55
— Lusa/AO Online
“Como
ficou provado pelo despacho de libertação, nunca cometi nenhum crime no
exercício de funções, nem aquilo de que era acusado foi por causa das
funções de cumpria. Finalmente, a justiça cumpriu simplesmente a lei”,
afirmou.Armando Vara argumentou que se
trata de “um perdão de pena” e sugeriu aos jornalistas que leiam “o
texto do tribunal” que levou a esta decisão.O
ex-ministro falava aos jornalistas à saída da cadeia de Évora, onde
cumpriu pena de prisão no âmbito do processo Face Oculta, depois de sair
em liberdade devido à aplicação das medidas excecionais relacionadas
com a pandemia de covid-19.Vara, que
esteve em “gozo de precária” durante o fim de semana, chegou ao
Estabelecimento Prisional de Évora, por volta das 14h15, para “tratar do
procedimento” relacionado com a sua libertação, indicou o próprio.O antigo governante saiu em liberdade cerca de 15 minutos, ou seja, por volta das 14h30.Esta
decisão do tribunal “demonstra, sem margem para dúvidas, que não cometi
nenhum crime”, pelo que “fui completamente ilibado” em relação aos
crimes cometidos em funções públicas, sublinhou.“Senão, não tinha saído em liberdade. Se não fosse ilibado deste crime, não podia ser objeto de perdão”, referiu.Lembrando
que cumpriu uma pena de “dois anos e nove meses” na cadeia de Évora, o
antigo governante queixou-se do “exagero” da pena de prisão efetiva e já
na cadeia de lhe terem sempre recusado a antecipação da liberdade
condicional e precárias especiais.Vara
indicou que as recusas foram justificadas com “razões de prevenção
geral”, considerando que “a motivação foi também política” e “por todo o
espetáculo mediático que foi promovido pelas instituições que estiveram
na base da acusação”.“Era preciso
convencer a opinião pública de que eu, não só tinha cometido crimes,
como eram crimes muito graves, porque só crimes muito graves é que
levariam que uma pena não superior a cinco anos tivesse prisão efetiva e
não fosse a pena suspensa”, assinalou.Questionado
sobre a possibilidade de processar o Estado, Armando Vara não respondeu
e justificou que essa “não é uma decisão que se tome de ânimo leve” e
que serão “os especialistas a olhar” para essa hipótese.“Os
tribunais decidiram, eu apresentei-me para cumprir pena, a pena não
correu nos termos em que eu queria mas acabou, estou livre, não quero
falar mais sobre esse assunto e acho que o processo julgado acabou e o
Face Oculta para mim desaparecia”, disse.Quanto
ao processo Operação Marquês, no âmbito do qual já foi condenado a dois
anos de prisão efetiva pelo crime de branqueamento de capitais, Vara
disse que tem “os mesmos pressupostos” que o Face Oculta.“Espero
que também aí comece, finalmente, a cumprir-se a lei, que não se ande
em subterfúgios e temas que o Código Penal não prevê, e que tem muito a
ver com as convicções dos senhores juízes, mas não tem a ver com a lei”,
disse.Em relação ao processo Operação
Marquês, o ex-ministro adiantou que “já entrou o recurso” da sua
condenação e confessou acreditar que vai ser “ilibado na Relação”, por
“uma questão de fé” e também pela “qualidade do recurso”.Armando
Vara foi condenado em setembro de 2014, no Tribunal de Aveiro, a cinco
anos de prisão efetiva, por três crimes de tráfico de influências, no
âmbito do processo Face Oculta.O coletivo
de juízes deu como provado que o antigo ministro e ex-vice-presidente do
BCP recebeu 25 mil euros do sucateiro Manuel Godinho, o principal
arguido no caso, como compensação pelas diligências empreendidas em
favor das suas empresas.Já em julho deste
ano, o antigo ministro foi condenado, no Tribunal Criminal de Lisboa, a
dois anos de prisão efetiva pelo crime de branqueamento de capitais, num
processo extraído e separado do processo Operação Marquês, que tem o
ex-primeiro-ministro José Sócrates como principal arguido, mas a
condenação ainda não transitou em julgado.