Áreas marinhas protegidas portuguesas com mais de 150 mil horas de pesca de arrasto
16 de abr. de 2024, 09:54
— Lusa/AO Online
O relatório conjunto das ONG
Marine Conservation Society (Sociedade de Conservação Marinha), Oceana e
Seas At Risk (Mares em Risco), refere que foram registados um total de
4,4 milhões de horas de pesca de arrasto de fundo entre 2015 e 2023 no
conjunto dos sete Estados-membros incluídos no estudo.As
áreas marinhas protegidas (AMP) portuguesas da rede Natura 2000
registaram 155.475 horas de pesca de arrasto de fundo, com predominância
para a Costa Sudoeste (Alentejo) e Maceda/Praia da Vieira (distrito de
Leiria), uma prática que é proibida nos Açores e Madeira.Gonçalo
Carvalho, coordenador executivo da associação ambientalista Sciaena,
parceira portuguesa da Oceana, disse à Lusa que o arrasto de fundo “não é
compatível com a salvaguarda da biodiversidade”, acrescentando que
Portugal está “ainda longe de ter uma gestão efetiva das áreas marinhas
protegidas”.O relatório é divulgado no âmbito de uma campanha que apela à Comissão Europeia para que proíba o arrasto nas AMP.O
Conselho Internacional para a Exploração do Mar, que emite os pareceres
científicos sobre o estado das unidades populacionais de recursos
pesqueiros que norteiam a Comissão Europeia nas propostas dos limites de
capturas anuais ou plurianuais, considera que o encerramento de 30% das
águas do Mar do Norte da UE, Mar Céltico e Mar Báltico à pesca de
arrasto de fundo resultaria apenas numa redução das capturas de entre
0,1% e 6,6% ao ano, mas com benefícios para os ecossistemas marinhos de
que dependem as espécies capturadas para fins comerciais.Portugal
está no sexto lugar, com 3,6% do total de horas de arrasto de fundo,
numa lista encabeçada pelos Países Baixos, com quase 2,2 milhões de
horas (49,3%); seguidos pela Alemanha, com 730.245 horas (16,8%);
Dinamarca com 656.582 horas (15,2%); Espanha com 461.536 horas (10,6%); e
Suécia, com 183.260 horas (4,2%). A Irlanda está no último lugar da
lista, com 19.336 horas e 0,4% do total, entre 2015 e 2023.As
ONG indicam ainda que 90% dos designados sítios marinhos Natura 2000 ao
largo, ao abrigo da Diretiva Habitats nas águas dos Estados-membros em
causa, foram objeto de pesca de arrasto de fundo desde 2015 ou desde a
designação, quando os sítios são mais recentes.A
pesca de arrasto de fundo é um método de pesca indiscriminada que
envolve um ou mais navios que puxam redes de pesca pesadas ao longo do
fundo do oceano para capturar peixes e outras espécies marinhas, como o
camarão, sendo considerado um dos métodos mais destrutivos, resultando
na perda de ecossistemas, na libertação de carbono armazenado no fundo
do mar e em elevados níveis de capturas acessórias e rejeições de peixe
(92% de todas as rejeições de peixe da UE provêm de capturas de arrasto
de fundo).Esta situação, considera a
Sciaena, tem um impacto negativo tanto na sustentabilidade das
populações de peixes como no próprio setor das pescas, especialmente nos
pescadores de pequena escala e de baixo impacto, que representam 80% da
frota europeia ativa e 50% dos empregos no setor.