Áreas de pastagem devem ganhar importância no combate às alterações climáticas
26 de mai. de 2021, 17:37
— Lusa/AO online
O
Rangelands Atlas,tornado público pela organização ambientalista
internacional Fundo Mundial para a Natureza (WWF), de que a ANP é
representante em Portugal, indica que mais de metade da superfície
terrestre são pastagens e, em Portugal, estas áreas correspondem a 31%
do uso do solo, o equivalente a cerca de 2,8 milhões de hectares de
pastagens e mato, segundo o Inventário Florestal Nacional de 2015, diz a
ANP/WWF, em comunicado. Segundo a mesma
organização ambiental, dados do Instituto Nacional de Estatística de
2019 mostram que 52% das terras agrícolas correspondiam a pastagens
permanentes, verificando-se um aumento de 14,9% de pastagens permanentes
na última década em Portugal.A ANP/WWF
sublinhou, na mesma nota, que a importância destas áreas tem sido muito
debatida, "mas pouco relevada nos principais planos nacionais"."As
pastagens e matos são chave na transição climática pela sua capacidade
de armazenamento de carbono e de proteção da floresta contra incêndios
pelas descontinuidades que criam, pelo que devem ter um lugar chave nas
políticas de transformação da paisagem e no desenvolvimento
socioeconómico dos espaços rurais, através do apoio ao pastoreio
extensivo e da valorização económica dos serviços que estes prestam",
preconiza o técnico de alimentação da ANP/WWF, Tiago Luís.No
comunicado, a organização não-governamental (ONG) salienta que no Plano
Nacional Energia e Clima (PNEC 2030) é referida a importância da
"conversão de pastagens pobres em pastagens biodiversas" e no Roteiro
para a Neutralidade Carbónica 2050 "não há referência a pastagens,
ignorando a sua importância no combate às alterações climáticas, para a
natureza e as pessoas". A ANP/WWF
mencionou ainda o Plano Estratégico de Portugal no âmbito da Política
Agrícola Comum europeia, atualmente em elaboração, defendendo que
"deveria acautelar vinculativamente a proteção destes ecossistemas"."Embora
as pastagens sejam conhecidas por desempenhar um papel fundamental no
sequestro (armazenamento) de carbono, oferecendo habitat a uma diversa
vida selvagem e natureza, e suportando os maiores rios e zonas húmidas
do mundo, estão presentemente ameaçadas pelo aumento da conversão e
pelos efeitos drásticos das alterações climáticas", alertou a ONG
portuguesa.Segundo a ANP/WWF, parte da
razão pela qual as pastagens "foram subvalorizadas" era a falta de dados
concretos sobre sua extensão e valor, mas frisou que o "Rangelands
Atlas vem preencher parte desse vazio".O
novo atlas é visto como um ponto de partida para a recolha de dados mais
detalhados sobre os serviços de ecossistemas exatos e os benefícios
económicos e sociais que as pastagens proporcionam às pessoas e à
natureza. A ANP/WWF refere que estes
dados, em constante atualização, podem ser uma boa ferramenta para os
legisladores e decisores políticos melhorarem a gestão das pastagens e
trazerem benefícios para os pastores, as comunidades e os empresários
locais, a natureza e o clima. "Pela
primeira vez, temos uma compreensão precisa da composição da terra do
nosso planeta. Até hoje, os esforços de conservação e desenvolvimento
têm-se concentrado nas florestas. Agora, sabemos que as pastagens
precisam urgentemente de crescente atenção", afirmou a diretora-geral
assistente do International Livestock Research Institute (ILRI), Shirley
Tarawali, citada na referida nota.As associações ambientalistas acentuaram ser uma oportunidade para enfrentar as crises climática e de biodiversidade. Embora
54% da superfície terrestre seja composta por pastagens, "apenas 10%
dos planos climáticos nacionais (como parte do Acordo de Paris) incluem
referências a pastagens, contrapondo com 70% que referem as florestas",
comparam as ONG, no mesmo comunicado.Se
12% das pastagens mundiais estão designadas como áreas protegidas,
"grande parte das restantes está ameaçada por uma conversão crescente,
particularmente para áreas cultiváveis". De acordo com o mesmo
documento, "nos últimos três séculos, mais de 60% das terras selvagens e
bosques foram convertidas". "Esta mudança
no uso da terra contribui para a crise climática, mas o atlas mostra
que as pastagens também sofrerão com o aquecimento global. Prevê-se que
os efeitos drásticos ocorram numa área equivalente ao dobro da Europa,
destabilizando perigosamente a natureza e reduzindo a capacidade de
produzir alimentos, combustível e fibras", adverte a ANP/WWF.Segundo
Shirley Tarawali, que é também presidente da agência das Nações Unidas
Food and Agriculture Organization (FAO) "se quisermos ter alguma
esperança de alcançar os objetivos climáticos, alimentares e da
natureza, a gestão e o uso das pastagens devem ser tratados a alto
nível, as pastagens devem receber a devida atenção nas próximas
conferências da Organização das Nações Unidas sobre a biodiversidade,
clima, terra e alimentação".