AR aprova audição de Comissão Independente e Conferência Episcopal sobre abusos sexuais
8 de mar. de 2023, 12:48
— Lusa/AO Online
Os requerimentos
apresentados por PS, PSD e Chega foram aprovados por unanimidade - com
votos dos partidos presentes PS, PSD, Chega e BE -, na comissão
parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias.Os três partidos requeriam a
audição da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra
Crianças na Igreja Católica, para a ouvir sobre as conclusões do
relatório. Por proposta do PS, foram
também aprovadas a audição da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima,
da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e
Jovens e a Associação ‘Quebrar o Silêncio’, sobre as "especificidades da
vitimização das crianças vítimas de abusos sexuais, sobre as suas
necessidades e os direitos que devem ter assegurados”. Ao
requerimento inicial, o PS acrescentou o pedido de audição da
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e do Corpo Nacional de Escutas. A
comissão parlamentar aprovou ainda uma proposta do PSD para ouvir, além
da comissão independente, o Instituto de Apoio à Criança (IAC), a
Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e
ainda a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, sobre as
recomendações deixadas pela comissão independente, “algumas das quais
cuja concretização carece de intervenção legislativa”. Também
o Chega apresentou um requerimento para ouvir não só a comissão
independente mas a ministra da Justiça e ainda o presidente da
Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, do cardeal-patriarca de
Lisboa, Manuel Clemente, para “darem a perspetiva da Igreja Católica
sobre a anunciada mudança de paradigma nesta matéria”. No
debate, a deputada do PS Cláudia Santos afirmou que o relatório da
comissão independente revelou “uma vitimização de crianças ao longo de
muitas décadas”, desvendando também “agressores, maioritariamente
homens, da Igreja Católica que usaram do poder que tinham, junto de
crianças, para praticarem contra elas crimes gravíssimos”, geradores de
“danos que nunca são definitivamente curados”.A
deputada defendeu a importância de “prevenir crimes futuros” e apelou a
uma reflexão profunda sobre o tema, bem como a procura de "soluções,
nomeadamente ao nível de programas de avaliação de risco e de
implementação de programas de cumprimento normativo no âmbito de
organizações que lidem com crianças". Pelo
PSD, Paula Cardoso disse que as conclusões do relatório foram “um murro
no estômago” e que “não se pode de todo ignorar as recomendações
feitas” naquele documento, salientando que “algumas carecem de alguma
intervenção legislativa”. “Neste sentido, e
de nos ajudar a fazer este percurso legislativo, entendemos que a
audição destas entidades é bastante útil e o seu contributo é muitíssimo
pertinente”, vincou. Bruno Nunes, do
Chega, defendeu que, perante "a imagem abjeta" passada no relatório, “a
Assembleia da República não se pode escusar em ouvir, legislar e tomar
algum posicionamento para o futuro”. “As
últimas declarações que têm sido proferidas podem ainda gerar mais
confusão e um aumentar de uma má imagem sobre uma instituição secular”,
disse.Joana Mortágua, do BE, lamentou
crimes “sem reparação” e criticou a reação da Igreja Católica “ao
recusar as suas responsabilidades enquanto instituição”.A
Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais de crianças na
Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação,
para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao
Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram
arquivados.A comissão entregou à
Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores,
alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de
afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir
indemnizações às vítimas.No domingo, o
cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, afastou a suspensão de
alegados padres abusadores de menores sem que haja "factos comprovados,
sujeitos a contraditório" e um processo canónico feito pela Santa Sé.O
psiquiatra Daniel Sampaio negou na segunda-feira que a Igreja tenha
recebido uma lista com os nomes dos padres abusadores sem ter mais
informações sobre os casos denunciados, descrevendo a postura dos bispos
como um “atrasar do problema”.