Aposta na criação de um verdadeiro centro urbano na cidade da Lagoa
Autárquicas
16 de ago. de 2021, 06:36
— Paulo Simões
Porque aceitou ser candidato à presidência da câmara?Ser candidato à
Câmara Municipal da Lagoa é o corolário de toda uma vida profissional
com 35 anos, quer como funcionário público, quer nos últimos 5 anos como
deputado no Parlamento dos Açores. O exercício de funções autárquicas é
a atividade de serviço público mais nobre, pela proximidade às pessoas e
pela possibilidade de resolver os seus problemas concretos. Com a muita
experiência acumulada de gestão pública, tenho todas as condições para o
exercício dessas funções com benefício do bem comum, centrado nos
Lagoenses.Quais os principais desafios e problemas que o município enfrenta atualmente?Os
Açores continuam a ser uma das Regiões mais pobres da Europa, apesar
dos avultados apoios europeus. As carências sociais dos lagoenses são
uma prioridade, competindo ao município sinalizar os problemas
associados à pobreza e à exclusão social, complementando e articulando
as suas políticas com as restantes instituições e com o Governo
Regional. A habitação assume particular relevância, não só para quem não
tem casa, sobretudo os mais jovens, mas igualmente face às habitações
degradadas. A ausência de habitação ou habitação sem condições é
claramente um fator de exclusão social. Estas são preocupações
imediatas.Mas pensamos em prazos mais longos. É fundamental refletir
que concelho queremos ter nos próximos 10 anos, elaborando um Plano
Estratégico para um imprescindível aumento da participação cívica e
visando a transição digital. Mas também em áreas como o ambiente,
prevenindo as implicações das alterações climáticas, no saneamento
básico, no ordenamento do território e urbanismo, no património, cultura
e ciência, no desporto, na educação e na formação profissional, em
resumo, no desenvolvimento económico e social que pretendemos para a
Lagoa e o seu posicionamento na Ilha de São Miguel. Já afirmamos
publicamente que um dos objetivos da nossa candidatura é a criação de um
verdadeiro centro urbano na Lagoa, dando assim corpo à centralidade que
se exige de uma cidade.Se formos eleitos assumimos o compromisso de
dar a mesma importância a cada uma das cinco freguesias da Lagoa.
Respeitaremos os lagoenses e trabalharemos com afinco por todos,
independentemente das condições ou opções partidárias.Quais serão as suas principais prioridades e propostas para responder a estes desafios?As
atribuições legais das câmaras municipais são muito extensas, cobrindo
praticamente todas as áreas da governação, sendo os meios financeiros
disponíveis manifestamente insuficientes para tantas competências. Deste
modo, as nossas propostas, para serem credíveis, não podem ser
desfasadas da realidade financeira do município.Esta candidatura tem
como prioridade as pessoas, a economia e o emprego, a coesão
territorial, a governação eficiente e a participação democrática. Primeiro,
as políticas centradas nas pessoas. Temos de apostar e investir em
domínios, atividades, projetos e serviços que promovam o combate à
exclusão social, a qualidade de vida, e isso faz-se através do
desenvolvimento do urbanismo, da qualidade dos espaços públicos, da
promoção da segurança, do reforço das condições de mobilidade e da
higiene urbana. O nosso manifesto eleitoral teve a participação dos
nossos candidatos, que continuam a desenvolver um trabalho de
auscultação junto das populações, permitindo uma reflexão séria dos seus
anseios e preocupações. Em matéria de política fiscal o que tem a propor aos munícipes?Portugal
é um país com uma carga fiscal muito elevada e os Açores, apesar do
diferencial fiscal de 30% relativamente ao continente, em vigor já no
IVA e no IRC e a partir de 2022 no IRS, medida de muito alcance do atual
governo regional de coligação, têm ainda uma carga fiscal pesada.
Entendemos que o município deve adotar políticas fiscais amigáveis,
dentro dos limites legais, quer em matéria de taxas, quer quanto ao IMI.
É um princípio que adotaremos, mas nada poderemos prometer sem um
conhecimento mais profundo da realidade financeira do município, e dos
impactos nas receitas globais de cada alteração. Propor medidas em
concreto neste momento seria demagogia e eleitoralismo.Nas áreas económica e social, que intervenção deve ter a autarquia, na sua opinião?O
crescimento económico e a criação de riqueza são condições necessárias
para a melhorar as condições de vida e a situação económica e social dos
Lagoenses. Facilitar a fixação de empresas afigura-se essencial. Todos
os instrumentos disponíveis devem ser maximizados. Desde logo é
importante que exista um Plano Estratégico para o concelho, onde se dê a
conhecer a existência de uma dinâmica consistente a médio prazo,
designadamente com a definição dos setores prioritários.O
relacionamento das empresas com a autarquia tem de ser melhorado, com
rapidez nas decisões, fácil diálogo e procedimentos simplificados.Por
outro lado, os investimentos camarários em infraestruturas devem também
ser dirigidos para as condições de sucesso das empresas, contribuindo
para a redução dos custos de contexto.A Lagoa tem uma representação
empresarial “Nelag” com imenso dinamismo e competência, que desafiaremos
para ser um parceiro fundamental na definição das políticas económicas
da Autarquia.A revisão do PDM deve constituir um instrumento
fundamental, compatibilizando os objetivos de desenvolvimento económico
com a sustentabilidade ambiental.Em termos urbanísticos, o que é mais urgente solucionar e como?É
imprescindível refletir sobre o posicionamento da Lagoa no contexto
económico, geográfico e populacional da Ilha de São Miguel. O espaço
geográfico que abrange a zona central da Ilha, desde Ponta Delgada e
freguesias circundantes até às Capelas, Ribeira Grande e Lagoa,
representa um conjunto maioritariamente urbano, no qual vivem perto de
100 mil habitantes, ou seja, cerca de 40% da população dos Açores.É
neste enquadramento que devemos pensar e refletir o futuro da Lagoa e a
sua centralidade na Ilha, privilegiando investimentos que potenciem a
nossa competitividade e atratividade, ou com investimentos
complementares aos que já existem nos nossos concelhos vizinhos.Defendemos, por isso, o desenvolvimento de projetos intermunicipais com Ponta Delgada, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo.Nesse
contexto há uma aposta estratégica que que será transversal a todas as
políticas: de Lagoa Vila a Lagoa Cidade. Queremos uma cidade por
inteiro.A passagem administrativa da Lagoa a cidade, em 2012,
deveria ter constituído um instrumento de mudança da governação
autárquica, o que não aconteceu.Do ponto de vista urbanístico, nos
serviços e na centralidade da Lagoa, nada mudou. A sua organização
manteve-se tipicamente como uma Vila, com cada vez mais concorrência de
Ponta Delgada, que tem um atrativo à deslocação dos lagoenses,
constituindo a Lagoa, para muitos dos seus habitantes, apenas um
dormitório. É nosso desígnio inverter esta situação. Para isso temos de
ter um verdadeiro “centro urbano”, com tudo o que o caracteriza e com a
promoção económica que representa. O espaço da Fábrica do Álcool
afigura-se como o local ideal para a criar essa necessária centralidade
urbana. Poderá constituir também uma âncora para a reabilitação urbana
das zonas circundantes e para o desenvolvimento da orla costeira a
partir do portinho de São Pedro.Mas sendo um projeto estratégico, o
seu planeamento exige uma reflexão profunda, com o envolvimento de
equipas técnicas multidisciplinares, com o predomínio de arquitetos e
especialistas em urbanismo, com a apresentação de concursos de ideias. Os grandes projetos estratégicos devem resultar do confronto de ideias alternativas.Como pretende articular a sua relação com o governo regional e em que áreas/projetos espera a cooperação do executivo açoriano?A
afirmação política do Governo Regional no seu relacionamento com os
municípios tem sido de “cooperação” e “equidade”, aliás em oposição às
práticas do anterior governo, como alertam os sucessivos pareceres do
Tribunal de Contas, em que os municípios socialistas eram favorecidos
pelo orçamento regional. Partilhamos esse espírito de cooperação com uma
visão global do município, mas introduzindo na equação o interesse da
Ilha de São Miguel, designadamente nos projetos que possam ser
desenvolvidos na Lagoa, mas cujas valias se estendam às populações de
outros concelhos, o que justificará um apoio reforçado do Governo.As
áreas prioritárias de cooperação com o Governo Regional passam pela
existência de um enquadramento normativo que permita a comparticipação
de projetos de investimento do município com fundos comunitários,
parcerias em projetos na área da habitação e na construção de
equipamentos e instalações desportivas - em que a Lagoa tem uma carência
inaceitável -, na construção de novas zonas balneares, nos caminhos
agrícolas e num acordo que permita encontrar uma solução viável para as
instalações da Fábrica do Álcool em termos financeiros compatível com o
orçamento da Câmara, tal como o PSD propôs em 2016 na ALRA e o Partido
Socialista inviabilizou, com o silencio do atual poder autárquico da
Lagoa. Por outro lado, gostaríamos que o Governo equacionasse
descentralizar algum departamento governamental, passando a sua
localização para o concelho da Lagoa.Apesar do atual governo ser da
mesma cor política, seremos reivindicativos sempre que estiver em causa o
interesse dos lagoenses.O que é que o distingue dos seus adversários políticos?Tenho
toda a consideração pelos adversários políticos e acredito que todos
terão as melhores intenções. Não nos apresentamos contra ninguém, mas
sim com propostas que contribuam para o progresso do concelho. Não
obstante, o PS governa a Lagoa desde 1989 e a atual candidata desde
2014, sendo legítimo criticar muitas das decisões tomadas - ou a
ausência delas – e os resultados insuficientes obtidos, naturalmente a
par de medidas que tiveram sucesso e que com espírito democrático
reconhecemos.