Apoios a professores deslocados dividem partidos na Assembleia da República
20 de jan. de 2021, 18:30
— Lusa/AO Online
Durante a discussão em plenário dos projetos de lei apresentados pelos
partidos, a deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua considerou ser
inadmissível que um professor tenha de “pagar para trabalhar”.
O diploma do BE para criar um regime de compensação a docentes
deslocados sublinha que os professores são prejudicados por terem de
suportar os custos acrescidos de transporte e habitação resultantes da
colocação. “A inexistência de uma
compensação dessas despesas é uma das razões pelas quais faltam
professores, nomeadamente de Inglês, de Português, de Geografia ou de
Informática em diversas escolas do país”, constatou o BE.
À semelhança dos outros partidos que apresentaram propostas, o BE deixa
a regulamentação necessária à negociação sindical entre as estruturas
representativas dos professores e o Governo.
Joana Mortágua recordou manchetes de jornais para exemplificar que há
professores a trabalhar em caixas de supermercado porque ganham mais do
que se tiverem de submeter-se a um horário incompleto longe de casa.
O PEV defendeu também um apoio à deslocalização de professores,
considerando que são os trabalhadores da Função Pública que vivem de uma
forma mais inconstante ao longo da carreira.
“Muitos, por incapacidade financeira de arrendar uma casa, sujeitam-se
mesmo a arrendar um quarto e, por vezes, até em situação de partilha,
para que os custos não sejam tão elevados”, exemplificou a deputada
Mariana Silva. Na proposta do PEV, um
professor colocado a mais de 50 quilómetros do local de residência, e na
circunstância de ter de arrendar um espaço para habitar nos períodos
letivos em que está a dar aulas, deve receber apoio do Estado.
Para o PAN, é necessário resolver uma “extrema injustiça”, conforme
sublinhou a deputada Bebiana Cunha face a outros profissionais da Função
Pública. “O problema é mais grave em
algumas regiões do país, onde ficam por preencher muitos dos horários
vagos, na medida em que as condições salariais não permitem o pagamento
dessas despesas”, refere o partido na exposição de motivos do diploma
que levou a plenário. O PCP, por seu lado,
apresentou um conjunto de medidas de “combate à carência de
professores, educadores e técnicos especializados” na escola pública.
“ É de assinalar que, face a 2019 e de acordo com declarações do
Ministério da Educação, foi registado até esta altura um aumento de 70%
de recusas da parte de professores dos horários que lhes foram
atribuídos nos concursos e que, à semelhança dos últimos anos, as
regiões de Lisboa e Algarve são as mais afetadas pela escassez de
docentes”, lê-se no documento. A deputada
Ana Mesquita defendeu que é necessária dar “uma resposta de urgência” à
situação dos professores e acusou o Ministério da Educação de “assobiar
para o lado”, mesmo quando “questionado pelos deputados em sede de
comissão”. O PCP propõe, entre outras
medidas, o reforço do crédito horário de acordo com as necessidades
sinalizadas pelas escolas, a possibilidade de as escolas completarem os
horários incompletos e a atribuição de complemento de alojamento e
deslocação. Para o CDS, o problema está na
carreira e no sistema de colocação de professores. A deputada Ana Rita
Bessa classificou os projetos em debate como “um remendo” e recordou que
o Governo tinha prometido a criação de incentivos em 2019 para
“territórios mais desafiantes”. A deputada
anunciou, porém, que o CDS viabilizará “alguns destes projetos”, por
reconhecer o dano sobre os professores e os alunos que a situação
provoca. O PS, através da deputada Silvia Torres, assumiu que há “uma série de desafios” que precisam de ser superados.
“Existe a cada ano letivo um número significativo de docentes que acaba
por não aceitar a colocação por razões diversas. Este ano, o número de
professores que recusaram o lugar aumentou, face a 2018-2019, facto que
pode, no entanto, ser atribuído às circunstâncias trazidas pela pandemia
[de covid-19]”, disse, acrescentando que, ainda assim, neste momento há
mais “cerca de 30% de professores colocados” do que no ano passado. Para o PS, todos os projetos em análise preconizam “soluções insuficientemente fundamentadas” quanto ao impacto orçamental.
O PSD comunicou que está consciente da necessidade de resolver o
problema, com o deputado Pedro Alves a tecer várias críticas ao Governo,
mas a rejeitar os projetos levados a plenário, alegando que o partido
não pode “acompanhar impulsos de curto alcance”.
O debate foi momentaneamente interrompido pelo
presidente em exercício na Assembleia, Fernando Negrão, para informar os
deputados de um ponto da fora hora de trabalhos: “Joe Biden já é
Presidente dos Estados Unidos da América”.