APIR receia que serviço de hemodiálise fique para trás na reformulação do HDES
30 de jan. de 2025, 09:45
— Nuno Martins Neves
A Delegação Regional dos Açores da Associação Portuguesa
de Insuficientes Renais (APIR) está receosa que a reformulação prevista
para o Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, deixe para
trás o Serviço de Hemodiálise. Em entrevista ao Açoriano Oriental, o
presidente da delegação, Osório Silva, fala de uma unidade em contínua
degradação e que não será resolvida sem vontade política. A APIR Açores
enviou no início do ano um pedido de audiência com o Presidente do
Governo Regional dos Açores para expor situação.“O quadro atual é
que cada dia que passa, continua igual, para pior. Há quase três anos
que a APIR tem vindo a alertar as entidades competentes, desde logo o
conselho de administração do HDES, bem como o próprio Governo Regional,
para a degradação do serviço”, afirma.As condições atuais já não dão
resposta condigna aos 120 doentes da ilha de São Miguel que necessitam
deste serviço, com Osório Silva espelhando a degradação com o que se
passou em novembro passado: “Chegou a chover no seu interior, em cima de
doentes que estavam a fazer o seu tratamento, com todos os transtornos
que isso trouxe, com a mudança das máquinas, das macas, um transtorno
para o utente, para a equipa de enfermagem”.Para o presidente da
APIR Açores, apesar dos anúnciospúblicos de projetos e obras de
manutenção, feitospelos anteriores conselhos deadministração do HDES,
“na prática nada foi feito”. “Hoje, o que encontramos é que não
existe plano para obras. E, pelo que tivemos oportunidade de ouvir, após
audiência com o atual conselho de administração, no passado mês de
dezembro, é que não há uma decisão tomada sobre o que fazer: se
construir uma nova unidade de hemodiálise adjacente ao hospital, ou
privatizar este serviço. Apesar de que, mesmo que venha ser privatizado,
o Governo Regional tem de manter a unidade a funcionar sempre dentro do
HDES, pois há doentes com situações clínicas que só podem fazer
hemodiálise numa unidade hospitalar”, acrescenta.Razões pelas quais
Osório Silva quer ser ouvido pelo Presidente do Governo Regional,
recordando que “há mais de um ano ele assumiu o seu empenho na resolução
deste problema, mas este empenho até hoje não resultou em nada”.Mas
mais do que a recorrente inação política, a delegação açoriana da APIR
mostra-se ansiosa e receosa com a anunciada requalificação do HDES, pois
até ao momento, a informação que chega à associação é que “nada está
para o Serviço de Hemodiálise. O que é deveras preocupante se assim for,
atendendo que todos sabem o que se passou com o incêndio do HDES - os
doentes da hemodiálise foram os mais sacrificados, pois tiveram de
abandonar as suas habitações, as suas famílias, sair da sua ilha para
poder continuar a ter acesso ao tratamento, com utentes deslocados no
Faial, Terceira, Funchal. Ou seja, têm sido os doentes mais
sacrificados”.A APIR quer aguardar pela publicação dos documentos,
para apreciar com maior precisão o que está previsto, mas avisa para o
que pode ser uma “oportunidade perdida”.“Quando se fala do plano de
funcionalidade integrada do hospital, tinha que estar previsto uma
decisão clínica e política relativamente a este serviço de hemodiálise,
atendendo à dimensão do espaço e às condições estruturais que a unidade
tem”.E na sua opinião, a solução passa por construir “uma nova
unidade, adjacente ao hospital, pública e em que, por sua vez, a
existente teria de ser remodelada e ficaria com um número de doentes
mais reduzido. Essa é a nossa convicção, mas ainda não tivemos
oportunidade de transmiti-la, diretamente, ao Presidente do Governo”.