Apenas três em cada 10 doentes com diabetes tipo 2 têm sintomas de hipoglicemia
4 de abr. de 2019, 11:03
— LUSA/AO Online
O facto de o doente não sentir sintomas faz aumentar “o perigo das
hipoglicemias não serem devidamente tratadas”, refere o estudo HipoDiab,
que envolveu 60 doentes, promovido pela Associação Protetora dos
Diabéticos de Portugal (APDP). Esta
situação foi confirmada pela investigação, que concluiu que seis em cada
10 episódios de hipoglicemia não foram tratados convenientemente, o que
demonstra que “existe uma lacuna no sentido da perceção das pessoas com
diabetes da gravidade que uma hipoglicemia pode ter, especialmente
quando não é devidamente identificada pelo doente ou profissional de
saúde e a importância de atuar corretamente nestas situações". No
estudo foram ainda identificadas hipoglicemias assintomáticas, quer nas
pessoas que notificaram sintomas (56%) quer nas que não os referiram
(40%).Em declarações hoje à agência Lusa, o
diretor clínico da APDP, João Raposo, explicou que o estudo foi feito
em pessoas com diabetes tipo 2, a mais prevalente no mundo e em
Portugal, que estão a fazer tratamento com insulina.
O objetivo foi perceber se estas pessoas reconheciam as hipoglicemias
(valores baixos de açúcar no sangue), que normalmente estão associadas à
existência de sintomas desconfortáveis e que tendencialmente as pessoas
até deixam de fazer a terapêutica por causa desta situação, disse João
Raposo. “Nós queríamos ter uma ideia se
os sintomas eram reconhecidos pelas pessoas, se isso correspondia ao
valor real dos níveis de açúcar baixo e se sabiam interpretar bem os
sintomas”, afirmou. O se verificou foi que “as pessoas reconheciam muitas vezes os sintomas de hipoglicemia e na verdade não os tinham”.
Por outro lado, “havia muitas pessoas que tinham hipoglicemia, mas
não a reconheceram, e em terceiro lugar, uma percentagem significativa
das pessoas, mesmo quando tinham sintomas, não tratavam bem esses
sintomas”, sublinhou. João Raposo
advertiu que a não deteção dos episódios de glicemia e a incorreta
atuação perante os mesmos pode levar à perda da resposta de um
tratamento eficaz.“Os episódios de
hipoglicemia podem representar uma barreira importante na manutenção dos
objetivos de tratamento definidos e na adesão terapêutica dos doentes,
uma vez que, por medo, ansiedade e depressão, ou por se associarem à
perceção de uma redução da qualidade de vida, aumento do absentismo,
redução da produtividade e aumento dos custos de saúde, podem
desencadear comportamentos defensivos, refere a associação.
Os sintomas mais apontados pelos participantes no estudo foram os
tremores (52%), a fome (29%), as alterações visuais (29%) e os suores
(21%), mas também pode ocorrer dificuldade na concentração,
irritabilidade, agressividade, alteração da consciência, confusão mental
ou dificuldade em falar.O HipoDiab
conclui que “ainda há um importante caminho a fazer na perceção e
identificação das hipoglicemias por parte dos doentes, bem como no seu
tratamento”.A hipoglicemia pode ser
provocada por erros na alimentação, como passar várias horas sem comer
ou ingerir quantidades insuficientes de hidratos de carbono, erros na
administração de medicação oral ou excesso de insulina, exercício físico
não programado e sem suporte alimentar.