Apenas 13% das denúncias de violência doméstica resultam em condenações
22 de dez. de 2024, 11:35
— Lusa
De
acordo com a informação estatística referente à situação de mulheres e
homens em Portugal em várias áreas de vida em sociedade, divulgada na
sexta-feira, em 2023 registaram-se 30.461 ocorrências por violência
doméstica, das quais apenas 4.141 resultaram em condenações dos
agressores, o que “é residual”.Aliás, o
número de condenações nos tribunais de primeira instância não tem
sofrido grande alteração desde 2015, ano em que se registaram 3.898, com
o máximo a pertencer ao ano de 2021 (4.275).A
“esmagadora maioria das vítimas de violência doméstica” são mulheres
(sete em dez, em 2023) e “a larga maioria” de pessoas denunciadas e
condenadas são homens (oito em dez, em 2023), realçam os dados, que
revelam ainda que “muitas vezes há grau de parentesco” entre vítimas e
agressores.Com dados atualizados até 20 de
novembro deste ano, o boletim, produzido pela Comissão para a Cidadania
e a Igualdade de Género (CIG), demonstra que a violência de género
“continua a atingir de forma desproporcionada as mulheres”.Residual
é também – assinalam os dados oficiais – o número de detenções efetivas
por crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual, na
esmagadora maioria praticados por homens.No
que diz respeito à educação, se, por um lado, as meninas não estão tão
sujeitas ao precoce abandono escolar e se são elas que mais concluem o
ensino superior, por outro, “continua a assistir-se a uma forte
segregação das escolhas educacionais”, sendo elas maioritárias nos
cursos de educação, saúde e proteção social.A
estatística alerta especificamente para o fosso entre mulheres e homens
na área digital, tanto ao nível educacional como do mercado de
trabalho, que se traduz “em lacunas na inovação e no futuro de toda a
economia digital e do conhecimento”.No
trabalho, a taxa de emprego das mulheres continua a ser inferior à dos
homens, ainda que acima da média da União Europeia, e o desemprego afeta
também mais as mulheres.Outro dado revela
que a maior parte das pessoas que trabalha a tempo completo são homens e
a maior parte das pessoas que trabalha a tempo parcial são mulheres,
situação que, a par de outras, resultará em pensões mais baixas, ficando
“as mulheres idosas particularmente mais expostas ao risco de pobreza”.A
taxa de pobreza das mulheres é superior à dos homens e em praticamente
todos os grupos etários a taxa de risco de pobreza é maior para elas.Além
disso, e apesar de mais escolarizadas, as mulheres ganham menos do que
os homens e trabalham em profissões menos bem remuneradas.“De
notar que, quanto mais habilitadas e qualificadas são as mulheres,
menos elas ganham relativamente aos homens”, alerta o boletim.Simultaneamente,
as mulheres ainda estão em minoria nos cargos de poder e tomada de
decisão e o trabalho não remunerado (tarefas domésticas e de cuidado com
descendentes e ascendentes) ainda é assegurado quase exclusivamente por
elas.O boletim destaca a “evolução
positiva constante” da presença de mulheres nos conselhos de
administração das maiores empresas cotadas em bolsa e “uma evolução
expressiva da taxa de feminização dos conselhos de administração”, que
passou de 13,5%, em 2015, para 34,9%, em 2023.Nos
dados sobre a população, ficamos a saber que, em 2023, era
maioritariamente composta por mulheres, destacando-se uma taxa de
fecundidade abaixo do limiar de substituição de gerações e o adiamento
da parentalidade. “Em Portugal, tanto mulheres como homens têm menos filhos/as do que aqueles que desejariam ter”, conclui o boletim.A
estatística oficial assinala ainda a “tendência crescente de casamentos
entre pessoas do mesmo sexo” (1.009 em 2023), bem como da mudança do
sexo no registo civil e consequente alteração de nome próprio (522 em
2023).