Apenas 10% dos inquiridos em estudo participou numa manifestação nos últimos 5 anos
25 de mar. de 2024, 11:45
— Lusa/AO Online
A
investigação da Amnistia Internacional (AI), com o nome “A Liberdade
como Bandeira”, é sobre o direito à manifestação em Portugal e tem por
base um inquérito desenvolvido em parceria com a Universidade Católica a
1.001 residentes em Portugal com mais de 16 anos.“Este
trabalho integra os desafios atuais deste exercício individual e
coletivo, expondo casos de alegados abusos de direitos humanos no
decorrer do usufruto do direito de manifestação”, refere a AI.Os
resultados do inquérito mostram que 90% das pessoas não participou em
qualquer manifestação desde 2018, estando aqui incluídos não só
protestos mais tradicionais, como desfiles e greves, mas também reuniões
de assembleias de freguesia, por exemplo.“A
participação neste tipo de eventos, contudo, não é equivalente para
todas as categorias sociais neste inquérito, sendo muito mais elevada
entre as pessoas mais escolarizadas (17% entre os que têm ensino
superior) do que entre as pessoas menos escolarizadas (3%). Também é
maior entre os votantes de partidos à esquerda do que entre votantes de
partidos ao centro e à direita no espectro político português”, lê-se no
documento.Por outro lado, quase metade
dos inquiridos (47%) acha que estas ações têm que ser autorizadas,
apesar de a Constituição Portuguesa ser clara quando refere que “os
cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em
lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização”.O
motivo estará relacionado com o facto de ainda estar em vigor
legislação de 1974, segundo a qual “as pessoas ou entidades que
pretendam realizar reuniões, comícios, manifestações ou desfiles em
lugares públicos ou abertos ao público deverão avisar por escrito e com a
antecedência mínima de dois dias úteis o presidente da câmara
municipal”.Ainda assim, 82% afirmou que nunca sentiu os seus direitos enquanto manifestante serem limitados.Entre
os temas que mais têm motivado ações de protesto, os direitos dos
trabalhadores/emprego/desemprego (3%), a educação (2%) e a habitação
(2%) figuram no topo da lista.Se 84%
acredita que as manifestações são importantes para o debate de ideias
numa democracia, as opiniões dividem-se quando a questão é a
desobediência civil, em que entram ações como o corte de estradas, o
bloqueio de aviões ou a pintura de fachadas de edifícios.Prova
disso está no facto de quase metade dos inquiridos (49%) entender que
os atos de desobediência são ilegítimos, ao mesmo tempo que 59% defende a
sua criminalização, uma posição com maior expressão “entre as pessoas
mais instruídas e com idade entre os 25 e os 54 anos”.Relativamente
à atuação policial, 37% acha que “há parcialidade no tratamento” de
manifestantes, consoante quem organiza a manifestação, e a própria
investigação da AI inclui casos de alegados abusos de autoridade
relativamente a ativistas, sobretudo mulheres.Em
conclusão, a AI sugere, entre dez propostas, a revisão do decreto-lei
de 1974, que os requisitos para a notificação de manifestações sejam
tratados como avisos, que todos os municípios publiquem dados sobre o
número de manifestações, que seja revista a formação das forças
policiais ou que o policiamento garanta a segurança de jornalistas ou
outros observadores.