Lá
estava ele, cabelo comprido e desalinhado, fazendo-se acompanhar por
uma bengala (adereço mais distintivo do que utilitário),
interpretando, ao piano, peças suas e de outros compositores,
comentando e contextualizando o que ia tocando. E como ele toca!
Nascido
em Lisboa no dia 21 de Maio de 1940, começou, desde muito cedo, a
aprender música com a açoriana Marina Dwander Gabriel. Aos cinco
anos de idade compôs a sua primeira obra, e aos sete deu o primeiro
recital, interpretando obras de Mozart e Beethoven e duas peças da
sua autoria.
O
“Século Ilustrado” dava então conta desse menino-prodígio,
referindo que ele começava por onde a maioria gostava de poder
acabar.
Conciliando
estudos liceais com o estudo da música, terminou, com 19 valores, o
Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional de Lisboa, onde
foi aluno de Campos Coelho, notável professor de piano, e de Joly
Braga Santos, compositor de grande mérito.
Depois,
graças a uma bolsa de estudo, foi para Viena onde se formou em
composição, com a mais alta classificação conferida pela Escola
Superior de Música daquela cidade austríaca.
Como
concertista, desenvolveu uma intensa carreira internacional, mas a
sua principal atividade é a composição, sendo um dos compositores
portugueses que maior obra produziu e produz, havendo a destacar a
circunstância de, nos dias que correm, ser mais interpretado no
estrangeiro do que em Portugal.
Pianista,
compositor, maestro, escritor, cineasta, ator e tudo, ele foi adido
cultural da Embaixada de Portugal em Viena, onde viveu durante duas
décadas.
É
detentor de um vasto currículo de participações televisivas, tendo
realizado e apresentado séries marcantes como 'Temas e Variações',
'A Música e o Silêncio', 'A Nota Sensível' ou 'As Fontes do Som'.
Nestes programas lançou mão de cenários e ambientes que serviam o
seu propósito de transmissão de conhecimentos e desrespeitando
saudavelmente os cânones da apresentação tradicional em tv,
espraiou criatividade, inteligência, humor e erudição sem deixar
de ser acessível ao grande público.
Devo-lhe
muito na aproximação ao mundo, tantas vezes murado, da música dita
clássica.
Pai
de três filhas (sendo a mais velha Maria de Medeiros, atriz e
realizadora), Victorino de Almeida é autor de uma vintena de livros
de música, ficção e reportagem, tendo realizado três
longas-metragens, uma das quais, “A culpa”, foi o primeiro filme
português a receber um 1º prémio num festival internacional
(Huelva, 1980).
No
seu nome constam dois apelidos destas ilhas – Goulart e Medeiros.
Poucos saberão que ele tem sangue faialense, por ser sobrinho
bisneto de José Bettencourt de Vasconcelos Correia e Ávila Jr., que
foi o 2º proprietário do Teatro Faialense.
Nesta
linha de parentesco está o seu avô Augusto Goulart Medeiros, a sua
mãe Maria Amélia Goulart de Medeiros, irmã de Alberto Campos
Goulart de Medeiros (o incontornável dr. Campos), irmão de Rosalina
Campos, em cuja casa (a “Bagatelle”, imóvel do século XIX e
primeira residência da família norte-americana Dabney, hoje
felizmente recuperado) foi gravado, em 1993, o filme “Rosalinas
Haus”, de produção e realização austríacas, protagonizado pela
cantora vienense Erika Pluhar e pela própria “Dona Rosalina”
como era conhecida.
Assinale-se
que foram também ali feitas filmagens de “Mau Tempo no Canal”, a
série baseada no romance de Vitorino Nemésio, produzida pela
RTP/Açores e realizada por José Medeiros.
Continuem
atentos a esse genial 'Homem do Renascimento' que dá pelo nome de
António Victorino Goulart de Medeiros e Almeida.