António Costa manifesta “total confiança política” na ministra da Justiça
5 de jan. de 2021, 12:41
— Lusa/AO Online
Estas
posições de António Costa constam de um comunicado divulgado pelo
gabinete do líder do executivo, no qual se refere que "o
primeiro-ministro recebeu hoje em audiência a senhora ministra da
Justiça, a quem lhe reafirmou total confiança política para o exercício
de funções". Nos últimos dias, Francisca
Van Dunem tem estado no centro de uma polémica após vários órgãos de
comunicação Social terem noticiado que, numa carta enviada para a União
Europeia (UE), em 2019, o executivo português apresentou dados falsos
sobre o magistrado preferido do Governo para procurador europeu, José
Guerra - após indicação do Conselho Superior do Ministério Público -,
depois de um comité de peritos ter considerado Ana Carla Almeida a
melhor candidata para o cargo.Em relação a
este caso, no comunicado, António Costa começa por frisar que "compete
ao Governo escolher os candidatos a representante de Portugal na
Procuradoria Europeia".No entanto, segundo
o primeiro-ministro, "para garantir a isenção e imparcialidade nesta
escolha, o Governo apresentou uma proposta de lei à Assembleia da
República - que a Assembleia da República aprovou - atribuindo aos
conselhos superiores do Ministério Público e da Magistratura, órgãos
independentes na gestão das magistraturas, as competências para a
seleção dos nomes dos magistrados a designar por parte do Governo,
através de uma lista ordenada"."O Conselho
Superior do Ministério Público aprovou uma lista ordenada, figurando em
primeiro lugar o procurador José Eduardo Guerra. Os elementos
selecionados foram ainda ouvidos em audição na Assembleia da República e
posteriormente por um Comité de Seleção nomeado pelo Conselho da União
Europeia, que reúne os Governos de todos os Estados-membros. O parecer
deste Comité, que de resto não é vinculativo, não produziu qualquer
fundamento ou argumento que justificasse da parte do Governo a alteração
da escolha efetuada pelo Conselho Superior do Ministério Público",
observa o primeiro-ministro.Quanto aos
erros constantes no currículo profissional de José Guerra e que
constaram numa nota enviada para a União Europeia, o primeiro-ministro
mantém a tese de que se trata "dois lapsos sem relevância, aliás, para o
processo de seleção". "Além do mais, o
curriculum vitae do candidato proposto, que consta do processo submetido
ao Conselho da União Europeia, não contém qualquer incorreção. De
qualquer modo, hoje mesmo, a ministra da Justiça solicitou ao Embaixador
de Portugal junto da União Europeia a correção formal daqueles lapsos, o
que foi feito", observou depois António Costa.Mais,
de acordo com António Costa, apurou-se "que os lapsos tiveram origem
numa nota produzida na Direção Geral de Política de Justiça e comunicada
à Reper (Representação Permanente Portuguesa) e com mero conhecimento
para arquivo ao gabinete da ministra da Justiça"."A
ministra da Justiça [Francisca Van Dunem] aceitou hoje a demissão do
Diretor Geral da Política da Justiça", Miguel Romão", acrescenta o
primeiro-ministro.Na sequência deste caso,
Francisca Van Dunem comunicou já a sua inteira disposição para se
deslocar ao parlamento o mais rapidamente possível, sobretudo após o
pedido do PSD de que pretende esclarecer notícias que referem que o
Governo terá dado informações falsas para justificar a escolha de José
Guerra como procurador europeu.Na carta
que está a gerar esta polémica, José Guerra é identificado como sendo
"procurador-geral-adjunto", categoria que não tem, sendo apenas
Procurador da República. Por outro lado, é referido como tendo
participado "na liderança investigatória e acusatória" no processo UGT, o
que também não é verdade, porque foi o magistrado escolhido pelo MP
para fazer o julgamento e não a acusação.A ministra da Justiça enviou, na segunda-feira, ao representante português junto da União
Europeia uma correção desses erros que constam do currículo do
Procurador Europeu José Guerra.Numa carta,
a que a agência Lusa teve acesso, enviada ao embaixador Representante
Permanente de Portugal (REPER) junto da União Europeia, Francisca Van
Dunem admite que uma nota enviada em 29 de novembro de 2019 tem "dois
lapsos evidentes", concretamente na categoria profissional de José
Guerra, que não é procurador-geral adjunto e sobre a sua participação no
processo UGT, que acompanhou na fase de julgamento e não a fase de
investigação/acusação.Sobre a categoria
profissional erradamente atribuída a José Guerra, a ministra considera
que foi um erro de simpatia, justificando que a direção-geral da
Política de Justiça presumiu que "os três candidatos reuniam as
condições para ocupar os mais altos cargos do Ministério Público".Sublinhou,
porém, que a indicação errada da categoria não foi um fator de
preferência ou diferenciação nem teve qualquer interferência na decisão
do Conselho da União Europeia.O outro
lapso prende-se com a intervenção do magistrado na investigação do
processo UGT, no qual participou na fase de julgamento, "durante mais de
um ano", esclarece a carta."Nenhum destes
lapsos foi, ou poderia ser considerado para motivar a discordância de
Portugal relativamente ao parecer do painel de seleção", alega a
ministra na carta a que a agência Lusa teve acesso.Também o ex-diretor-geral da Política de Justiça José Romão afirmou que a
informação com lapsos sobre o procurador europeu José Guerra foi
"preparada na sequência de instruções recebidas" e o seu teor era do
conhecimento do gabinete da ministra da Justiça.Esta
informação consta de um comunicado do diretor-geral da Direção-Geral da
Política de Justiça (DGPJ), Miguel Romão, que hoje colocou o seu cargo à
disposição da ministra da Justiça, "atendendo à recente verificação de
lapsos numa informação enviada pelos serviços desta Direção-Geral em 29
de novembro de 2019" sobre o currículo de José Guerra, que viria a ser
nomeado procurador europeu.O comunicado
com as explicações de Miguel Romão foi colocado na página da
Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), mas posteriormente apagado
daquela página da DGPJ, entidade tutelada pelo Ministério da Justiça.Segundo
o comunicado de Miguel Romão, a informação sobre José Guerra "foi
preparada na sequência de instruções recebidas e o seu conteúdo integral
era do conhecimento do Gabinete da senhora Ministra da Justiça desde
aquela data [29 de novembro de 2019]".