Antigos quadros da Facebook declaram-se preocupados com efeitos da rede social
13 de dez. de 2017, 09:54
— Lusa/AO online
A
Facebook explora “uma vulnerabilidade na psicologia humana” para criar
dependência entre os seus utilizadores, afirmou o primeiro presidente da
empresa, Sean Parker, num fórum público. Um
antigo vice-presidente da companhia, Chamath Palihapitiya, que a
integrou em 2007, disse recentemente a uma audiência em Stanford, no
Estado da Califórnia, que a Facebook está a destruir o funcionamento da
sociedade”. E
Roger McNamee, um empresário de capital de risco e dos primeiros
investidores na Facebook e Google, escreveu que ambas “ameaçam a saúde
pública e a democracia”, num artigo de opinião, publicado em agosto,
pelo jornal USA Today.Tem
sido um ano difícil para a indústria tecnológica, em particular para as
empresas das redes sociais. Começou com as preocupações com as notícias
falsas e os filtros que podem isolar as pessoas das opiniões contrárias
às suas, prosseguiu com a pressão sobre a Facebook e Twitter para
controlarem o assédio em linha e culminou com audições parlamentares
sobre a alegada utilização por agentes russos das suas plataformas para
influenciarem as eleições presidenciais nos EUA, em 2016. Tudo
isto com a corrente persistente de mensagens do Presidente
norte-americano na rede social Twitter, onde elogia amigos e ataca
inimigos, com frequência e de uma maneira inflamada. Mas os maiores problemas vieram de três das pessoas que ajudaram a criar a Facebook. No
início de novembro, Parker afirmou ao sítio noticioso Axios que a
Facebook foi construída para responder à questão “como é que conseguimos
consumir o máximo do vosso tempo e atenção consciente?”. Para avançar
na resposta, classificou a série de comentários, ‘likes’ e reações “uma
validação social em retroação que explora a forma como o cérebro humano
funciona”. Dias
depois, McNamee escreveu outro texto, para o diário The Guardian, em
que argumentou que a Facebook e a Google tinham usado “técnicas
persuasivas desenvolvidas por propagandistas e a indústria do jogo”,
combinando-as com tecnologia moderna para maximizar os seus lucros, ao
promoverem “apelos ao medo e à raiva” e outros material que reforça os
filtros e o comportamento de dependência. Palihapitiya
somou-se a esta tendência, ao afirmar, na Stanford Graduate School of
Business, em novembro, que se sente “tremendamente culpado” por ter
ajudado a criar instrumentos que alargam divisões sociais. Recomendou,
em consequência, que as pessoas fizessem um intervalo das redes sociais.
A Facebook
reagiu, em comentário enviado por correio eletrónico, que está “a
trabalhar muito para melhorar” e que já não é a mesma empresa quando
Palihapitiya, que saiu há seis anos, lá trabalhava. “Temos
feito muito trabalho e investigação com peritos externos e académicos
para perceber os efeitos do nosso serviço no bem-estar e estamos a
usá-lo para melhorar o desenvolvimento do nosso produto”, assegurou a
empresa, no seu texto, acrescentando: “Estamos dispostos a reduzir a
nossa rentabilidade para garantir que são feitos os devidos
investimentos”. Nem
todos os investidores são críticos. Um cofundador da LinkedIn, Reid
Hoffman, admitiu, em entrevista, que está preocupado com a forma como as
redes sociais estão a criar o que disse ser “um ligeiro comportamento
dependente”. Mas, acrescentou, “isso também é verdade para a televisão
ou o açúcar”.