Antigo dirigente do PS/Açores defende alteração da lei eleitoral no arquipélago
9 de abr. de 2024, 17:57
— Lusa/AO Online
“Se
houver o tal círculo regional, pode-se até reduzir deputados, mesmo com
dois deputados por ilha”, explicou o antigo deputado e líder dos
socialistas açorianos, que falava no Museu da Assembleia Legislativa
Regional, na Horta, no âmbito das “Conversas de Abril”, iniciativa
criada pelo parlamento para assinalar as comemorações dos 50 anos da
Revolução dos Cravos, que juntou à mesma mesa Martins Goulart, do PS e
Mota Amaral, antigo líder do PSD/Açores e presidente do Governo
Regional.Para Martins Goulart, a criação
de um círculo regional único, a somar aos nove círculos de ilha,
garantiria “mais união entre os açorianos”, ao invés do círculo regional
de compensação, atualmente existente, que no seu entender não assegura a
devida dignidade a quem por ele concorre, na medida em que elege
deputados “com os restos dos votos” das outras ilhas.Mas
Mota Amaral tem uma opinião contrária, em relação à união entre
açorianos, objetivo que considera ter sido alcançado nos primeiros anos
da autonomia, quando os governos regionais a que presidiu, tiveram de
começar quase do zero, em matéria de construção de infraestruturas
fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico das ilhas.“Construímos
portos, aeroportos, escolas, hospitais, estradas… Sim, fez-se isso
tudo, mas isso era o aspeto menos importante! O mais importante foi ter
unido os Açores, ter unidos os açorianos todos, a reclamarem os seus
direitos!”, lembra o primeiro presidente do Governo Regional, que esteve
no poder durante 19 anos consecutivos.Mota
Amaral, que chegou a ser eleito presidente da Assembleia da República,
após abandonar o executivo açoriano, recordou as dificuldades que os
políticos dos Açores tiveram em criar a autonomia regional, e da luta
que então encetou contra os “velhos do Restelo”.“É
por isso que me preocupo tanto quando vejo essa unidade posta em causa
pelos velhos fantasmas do bairrismo, que não morreram!”, frisou o
dirigente social-democrata, referindo-se às divergências entre ilhas,
lamentando que, hoje em dia, ainda haja quem as “agite, protagonize e
queira incentivar”.Mota Amaral e Martins
Goulart chegaram a defrontar-se em eleições regionais, ambos como
candidatos a presidente do Governo, o primeiro pelas listas do PSD, o
segundo pelas listas do PS, mas a vitória acabou por ser sempre dos
social-democratas.O então candidato
socialista lembra que, apesar das divergências políticas que os
separavam, sempre conseguiram manter o nível do debate, sem “faltar ao
respeito um do outro”, preocupação que lamenta já não existir,
atualmente, por parte de algumas forças políticas na Assembleia
Regional.“Personalizam-se muito os
combates políticos, criam-se situações de adversidade, que ultrapassam,
às vezes, o que era esperável no órgão máximo da autonomia regional”,
frisou Martins Goulart, sem, no entanto, especificar a quem se estava a
referir.O antigo líder do PS/Açores
recordou mesmo um episódio que se passou na Assembleia Regional, na
legislatura 1988/1992, altura em que a bancada do PSD perdeu a maioria
absoluta, porque um deputado social-democrata passou à condição de
independente, situação que Martins Goulart recusou aproveitar
politicamente, mesmo contra a vontade do seu partido.“O
meu grupo parlamentar queria que eu me candidatasse a presidente da
Assembleia Regional, mas eu recusei!”, lembra o deputado socialista,
adiantando que, se tivesse aceitado, teria protagonizado “a primeira
geringonça nacional” em 1988, muito antes da que António Costa, líder
nacional do PS, liderou no primeiro ano de governação na República.