Antero de Quental revisitado nos 130 anos da sua morte por Luís Fagundes Duarte
10 de set. de 2021, 17:05
— Lusa/AO online
Luís
Fagundes Duarte, aposentado, a propósito da iniciativa Grémio das Nove,
do Instituto Açoriano de Cultura, considera que Antero “é um dos
escritores portugueses mais conhecidos”, mas foi “sempre acompanhado por
gente erudita, que era cuidadosa”, não sendo um “poeta popular”.Curiosamente
com 353 poemas, o poeta tem, contudo, 485 publicados, explicando o
estudioso da obra de Antero que “há 132 poemas que publicou em vários
livros”.Fê-lo
utilizando um determinado poema, já publicado em livro, introduzindo-o
em outro, com “pequenas alterações de conteúdo para o adaptar
possivelmente a um novo contexto”, de acordo com o ensaísta.“O
mesmo poema foi mudando de forma, as palavras foram substituídas por
outras para o adaptar a novas circunstâncias”, explica o escritor. Numa
perspetiva de divulgação da sua obra poética, Luís Fagundes Duarte
considera que “muitas vezes aquilo que o poeta escreveu não está
adaptado ao gosto que vinga num determinado momento da história".O
ensaista aponta que, sendo “grande parte dos sonetos de Antero
extremamente bem conseguidos do ponto de vista formal e poético, possuem
uma grande densidade filosófica”, o que dificulta a passagem da
mensagem, por exemplo, por professores de ensino secundário, aos seus
alunos.Para
Luís Fagundes Duarte, importa “encontrar uma maneira, sem alterar os
textos, de os fazer perceber aos jovens, criando condições de
comunicação” para acederem à obra de Antero de Quental.Há
também que proceder à disponibilização dos textos nas livrarias, o que
motivou o estudioso a reunir, numa única publicação, as obras completas
deste perfil literário português.Apesar
de ser natural da ilha açoriana de São Miguel, não se encontra na sua
obra algo que se identifique com o ser açoriano, sendo na perspetiva de
Luís Fagundes Duarte um “grande poeta da língua portuguesa e europeu do
seu tempo”.Para
o Instituto Açoriano de Cultura, Antero de Quental é uma “figura ímpar
da cultura e do pensamento nacional, poeta de múltiplos talentos, que se
tornou um verdadeiro ícone do país, influenciando várias gerações de
autores e de políticos portugueses”.“Se,
para uns, Antero foi sobretudo um pensador e um visionário, para outros
foi essencialmente um poeta, ou seja, alguém que sintetizou em verso
uma peculiar maneira de ver o mundo”, refere o Instituto Açoriano de
Cultura.Nascido
em 1842, em Ponta Delgada, cidade onde pôs termo à vida a 11 de
setembro de 1891, é considerado “um astro luminoso que agitou o Portugal
da segunda metade do século XIX”.
Numa carta autobiográfica a Wilhelm Storck, Antero afirmou que o seu
livro “Os Sonetos Completos” acompanhava, “como a notação dum diário
íntimo e sem mais preocupações do que a exatidão das notas dum diário,
as fases sucessivas" da sua "vida intelectual e sentimental”.“Ele forma uma espécie de autobiografia de um pensamento e como que as memórias de uma consciência”, segundo Antero.Antero de Quental teve um papel importante no denominado movimento da Geração de 70.