Ansiedade e depressão em crianças e jovens nos Açores pioraram com pandemia
15 de set. de 2021, 08:19
— Lusa/AO Online
“Fala-se num
aumento da prevalência ou da incidência das perturbações ansiosas e
depressivas, mas não há dados empíricos, não há dados objetivos a esse
respeito”, sublinhou aquele profissional de saúde, durante uma audição
na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Regional, a propósito de
uma proposta do PS que defende a criação de um Plano Regional de apoio à
Promoção da Saúde Mental para Crianças e Jovens.Para
Bruno Seixas, responsável da Unidade de Pedopsiquiatria no Serviço de Psiquiatria do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, um dos problemas com que os
profissionais de saúde desta área se confrontam, atualmente, é com a
procura de soluções para colmatar a ausência de acompanhamento de
crianças e jovens com patologias psicológicas durante a pandemia.“No
fundo, como é que se recuperam aprendizagens que não são adaptadas às
características das crianças mais novas, por serem eminentemente à
distância, e pela dificuldade de captar a atenção de crianças pequenas
sem um envolvimento relacional direto e presencial”, frisou o médico
psiquiatra.A
mesma opinião tem a diretora dos serviços de psiquiatria do Hospital da
Horta, na ilha do Faial, Edna Leite, para quem o acompanhamento, à
distância, de crianças e jovens, com problemas psicológicos ou
psiquiátricos, como defende a proposta socialista, não faz sentido.“Acompanhamento
psicológico em regime de consulta à distância telefónico digital não é
exequível, muito menos com crianças”, advertiu aquela profissional de
saúde, defendendo, em alternativa, a criação de uma linha de apoio em
regime de urgência ou emergência.Edna
Leite denunciou também a ausência de recursos humanos especializados
neste tipo de patologias, em muitas das unidades de saúde da região,
sobretudo, das ilhas mais pequenas.“Temos
poucos psicólogos nos serviços de saúde, tanto nos centros de saúde
como no hospital. Não temos psicólogos com formação em psicologia
infantil e não temos um apoio da pedopsiquiatria que permita depois dar
essa resposta”, lamentou a médica psiquiátrica, defendendo um maior
investimento nesta área.Os
dois profissionais de saúde referiram-se também à necessidade de um
melhor acompanhamento escolar para as crianças e jovens com problemas
psicológicos no arquipélago, como forma de prevenir e controlar
eventuais comportamentos de risco.“Temo
que não seja assim, na prática, mas esperava que tivesse havido a
possibilidade de, em tempo útil, preparar os apoios necessários, haver a
alocação dos profissionais de educação aos locais onde são
necessários”, disse Bruno Sanches.Já
Marco Santos, da Secção dos Açores da Ordem dos Psicólogos, discorda da
realização de rastreios à saúde mental entre os jovens e crianças em
idade escolar, lembrando que, mesmo que fossem realizados, não haveria
capacidade de resposta, por parte do Serviço Regional de Saúde, para
acompanhar todos esses processos.“Estudos,
acho que é o que estamos habilitados a fazer! Existem nas escolas
psicólogos para efetuar esses rastreios, o problema aqui é que os
rastreios preveem um reencaminhamento” para os serviços de saúde, disse,
alertando que tal poderá não vir a acontecer, por falta de capacidade
de resposta.Rosário
Figueiredo, da Federação das Associações de Pais e Encarregados de
Educação, também ouvida pelos deputados sobre esta matéria, lembrou que
muitas escolas possuem já equipas multidisciplinares, que têm capacidade
para aferir parte dessas doenças mentais nas escolas, mas lamentou que
os processos não tenham depois consequência.“Se
não estiverem definidas essas estratégias ou essas ações, e não
estiverem afetos os recursos humanos a estes planos e a estes projetos,
não vão passar de documentos”, alertou a responsável pelas associações
de pais e encarregados de educação.A
Comissão de Assuntos Sociais pretende ainda ouvir outros especialistas e
membros do Governo sobre a proposta apresentada pela bancada
socialista, que defende a criação de um Plano Regional de apoio à
Promoção da Saúde Mental para Crianças e Jovens nos Açores.