Aniversário de Tiananmen marcado por repressão e proibição de vigília em Hong Kong
4 de jun. de 2020, 10:22
— Lusa/AO Online
Em Hong Kong, as autoridades citaram a
necessidade de distanciamento social, devido ao surto da covid-19, para
cancelarem, pela primeira vez, a vigília anual à luz de velas no Parque
Vitória, apesar de a região semiautónoma ter permitido já a abertura de
escolas, praias, bares e salões de beleza.O
movimento da Praça Tiananmen foi esmagado na noite de 03 para 04 de
junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim
a sete semanas de protestos.O número
exato de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as "Mães
de Tiananmen", associação não-governamental constituída por mulheres que
perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.O acontecimento continua a ser tabu na China."Todos
sabemos que o Executivo de Hong Kong e o Governo chinês realmente não
querem ver as luzes das velas no Parque Vitória", afirmou Wu'er Kaixi,
um ex-líder estudantil que era o número 2 na lista de procurados pelo
Governo chinês, após a repressão."Os
comunistas chineses querem que todos esqueçamos o que aconteceu há 31
anos, mas é o próprio Governo chinês que lembra ao mundo inteiro que é o
mesmo governo que há 31 anos suprimiu manifestantes pacíficos e, faz
agora o mesmo em Hong Kong", afirmou, em Taiwan, onde reside agora,
citado pela agência The Associated Press.Em
Pequim, a Praça Tiananmen estava hoje praticamente vazia. Vários
polícias e veículos blindados faziam sentinela na vasta superfície da
praça. Mas várias vigílias, virtuais ou
não, estão a ser planeadas em outros locais, inclusive em Taiwan, a ilha
onde o antigo governo nacionalista chinês se refugiou, após a derrota
na guerra civil frente aos comunistas, em 1949.Desde
então, China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos, mas Pequim
considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela
força.Taipé voltou a pedir este ano ao Governo chinês que reconheça o episódio passado há 31 anos.Em
conferência de imprensa, o porta-voz do ministério dos Negócios
Estrangeiros da China, Zhao Lijian, considerou o apelo um "completo
disparate"."Quanto ao distúrbio político
que ocorreu no final dos anos 80, o Governo chinês chegou a uma
conclusão clara: as grandes conquistas que alcançámos (…) demonstraram
plenamente que o caminho de desenvolvimento escolhido pela China está
completamente correto, em conformidade com as condições nacionais da
China e conquistou o apoio sincero do povo chinês", acrescentou.O
secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, marcou o
aniversário do massacre de Tiananmen com críticas à China através da
rede social Twitter, por ter proibido a vigília, antes de se reunir em
privado com um grupo de dissidentes chineses no Departamento de Estado.A
pequena comunidade dissidente da China voltou também a ser alvo de
apertada vigilância por parte das autoridades. Muitos foram colocados em
prisão domiciliar e as suas comunicações com o mundo exterior foram
cortadas, segundo diferentes organizações de defesa dos Direitos
Humanos.A China libertou os últimos presos
por participarem diretamente nas manifestações de Tiananmen, mas outros
que procuraram marcar a data foram novamente presos.Entre
estes está Huang Qi, fundador do site 64 Tianwang, que está a cumprir
uma sentença de 12 anos por revelação de segredos de Estado.