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Análises a gases na ilha Terceira não detetaram anomalias significativas

As análises recentes a gases recolhidos na ilha Terceira, nos Açores, onde o vulcão de Santa Bárbara está em alerta V3, não revelaram anomalias significativas, disse a investigadora Fátima Viveiros.


Autor: Lusa

“Em termos da geoquímica de gases, até ao momento atual, com as análises feitas e recolhido o gás esta semana, não tivemos alterações significativas nessa componente”, afirmou, em declarações à Lusa, a diretora do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR) da Universidade dos Açores e coordenadora da Unidade Científica de Geoquímica de Gases do IVAR, Fátima Viveiros.

Desde junho de 2022 que a atividade sísmica no vulcão de Santa Bárbara se encontra “acima dos valores normais de referência”, tendo o evento mais energético ocorrido em 14 de janeiro de 2024, com magnitude de 4,5 na escala de Richter.

Na semana passada, o nível de alerta do vulcão de Santa Bárbara subiu para V3, que significa “sistema vulcânico em fase de reativação”, "face ao incremento da atividade sísmica", com uma “tendência crescente" em relação aos primeiros meses do ano, e ao facto de, "embora pouco intensa", se continuar a registar "deformação crustal na área onde se desenvolve a crise sismovulcânica”.

O nível de alerta do vulcão de Santa Bárbara já tinha estado em V3 entre junho e dezembro de 2024, mas desde então mantinha-se em V2, que significa "sistema vulcânico em fase de instabilidade".

Esta semana, os investigadores do IVAR estiveram na ilha Terceira a recolher amostras de gases das fumarolas das Furnas do Enxofre, que foram analisadas até hoje nos laboratórios da Universidade dos Açores, na ilha de São Miguel, e “não demonstraram alterações significativas”.

“São análises mais complexas, porque analisamos vários tipos de gases, não só o dióxido de carbono, o vapor de água e o enxofre, mas também outros gases como o azoto, o árgon, o hélio, que nos dão uma fotografia mais completa do que possa estar a acontecer em profundidade, pelo menos no que diz respeito aos gases vulcânicos naquela zona”, explicou Fátima Viveiros.

Foram ainda medidos gases libertados a partir do solo, a temperatura do solo e a concentração de gases no ar atmosférico em algumas zonas predefinidas e outras identificadas pela Proteção Civil.

As medições ocorreram na Lagoa do Negro, em alguns trilhos na freguesia dos Biscoitos e em pontos predefinidos à volta do vulcão de Santa Bárbara e na caldeira, que são monitorizados desde 2022.

“Queríamos repetir alguns destes pontos e algumas medições no ar, porque há sempre alguma informação que nos chega, através da Proteção Civil, de algumas pessoas que reportam alguns cheiros, que às vezes se confundem com outras coisas”, revelou a vulcanóloga.

Também neste caso, as medições dos gases e da temperatura do solo não detetaram “anomalias consideradas significativas”.

Os resultados serão agora enviados ao Gabinete de Crise do IVAR e do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), que avalia o nível de alerta do vulcão.

A diretora do IVAR ressalvou que a definição do nível de alerta não tem por base um único dado, mas a conjugação de parâmetros sismológicos, de deformação crustal e geoquímicos e, neste caso, para já não há anomalias a reportar.

“Do ponto de vista prático, estes dados não vieram alterar o cenário que tínhamos em cima da mesa, na componente da geoquímica de gases, pelo menos até ao momento”, reiterou.

Para além das campanhas no terreno, como a que ocorreu esta semana, o IVAR tem instaladas quatro estações permanentes na ilha Terceira: duas nas Furnas do Enxofre, uma junto ao Pico Gaspar e uma na cratera do vulcão de Santa Bárbara.

“Estas estações estão a medir em permanência e os dados chegam, de hora a hora, à Universidade dos Açores. Se houver alguma alteração nesses dados recolhidos diariamente, essa informação é transmitida”, salientou.

Habitualmente, as deslocações à ilha Terceira para recolha de amostras são feitas trimestralmente, mas com o vulcão de Santa Bárbara em alerta V3, pode haver necessidade de aumentar a frequência das campanhas no terreno.

“Dependendo da evolução da atividade sísmica ou de até de outro parâmetro que surja associado à atividade, pode haver um estreitar do número de campanhas”, admitiu Fátima Viveiros.

O acompanhamento do sistema vulcânico é feito diariamente e, se for necessário, há sempre uma equipa de investigadores preparada para avançar.

“As estações instaladas é que nos dão um sinal se há essa necessidade, mas pode haver outras circunstâncias que acabem por nos indicar a necessidade de repetir as campanhas com mais frequência. Temos de ir respondendo consoante o sistema se comportar”, adiantou a diretora do IVAR.