Ana Hormigo 'afastada das seleções de judo e não despedida'
17 de out. de 2022, 15:01
— Lusa/AO Online
“Após
o comunicado que a Ana Hormigo fez, achámos todos nós que ela se
deveria ter demitido antes. Estava a trabalhar comigo há quase seis anos
e, com aquele comunicado e as atitudes que tem tido ultimamente, não
nos dá confiança. Demonstrou que não tem condições para trabalhar a este
nível e com estes atletas”, disse Jorge Fernandes.Telma
Monteiro, medalha de bronze no Rio2016, revelou que a FPJ despediu
Ana Hormigo, que é também treinadora da modalidade no Benfica, a um dia
de a equipa viajar para competir no Grand Slam de Abu Dhabi, de
apuramento para os Jogos Olímpicos Paris2024.Jorge
Fernandes esclareceu que a até agora selecionadora nacional foi
informada que deveria entrar em contacto com os advogados da FPJ, sem
que tenha sido despedida.“Na minha
opinião, e penso que ela deve pensar o mesmo, não há condições para ela
continuar. A treinadora não fala comigo, não fala com os dirigentes e
isto é intolerável. Estamos a dois anos dos Jogos e queremos arrumar a
casa, mudar o que está mal e melhorar o que está bem, para podermos
fazer o período de qualificação e chegar aos Jogos nas melhores
condições. Não foi despedida, foi afastada para já das seleções e vamos
ver como o caso se vai resolver”, referiu.Em
agosto, uma carta aberta assinada por sete dos 10 atletas do projeto
olímpico da modalidade criticava Jorge Fernandes, acusando-o de
discriminação e ameaças, no que dizem ser um "clima insustentável e
tóxico".“Quando me perguntam como vão as
coisas com a federação... vão assim: Amanhã [terça-feira] vou viajar
para a competição, a minha primeira depois da cirurgia ao joelho. Hoje, a
federação despediu a treinadora Ana Hormigo, por email, no dia antes de
a equipa viajar! Sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada.
Em semana de competição de apuramento olímpico”, escreveu a judoca.O
presidente da FPJ explicou que o seu trabalho é o de gerir os destinos
do organismo e destacou o resultado da Assembleia Geral realizada no
domingo, quando o orçamento e o plano de atividades para 2023 foram
aprovados por maioria e a sua liderança reforçada, referindo que Telma
Monteiro se deve “focar” no desempenho desportivo.“Fui
eleito para gerir a FPJ e vou continuar. Em relação à atleta Telma
Monteiro, a atleta devia estar mais focada na prova que vai ter no fim
de semana e em outras do que andar nas redes sociais contra quem foi
eleito para criar as melhores condições para que ela possa ter melhores
prestações do que tem tido ultimamente”, apontou.No
texto partilhado nas suas redes sociais, Telma Monteiro, a judoca
portuguesa mais medalhada de sempre, voltou a deixar fortes críticas à
FPJ e à gestão de Jorge Fernandes, informando que o dirigente terá dito
que ou os atletas se retratam esta semana da carta aberta ou serão
levados a tribunal.No verão, Telma
Monteiro, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Bárbara Timo,
Anri Egutidze e Rodrigo Lopes escreveram uma carta, na qual acusavam o
dirigente de opressão, discriminação e ameaças, lamentando o “clima
insustentável e tóxico”.Poucos dias
depois, Hormigo solidarizou-se com os judocas, afirmando que os mesmos
“estão exaustos” e que “não querem estar sujeitos a um sistema que nem
se digna a ouvi-los”.“[No] Sábado, na
reunião de planeamento, os treinadores foram informados de que eu, como
outros atletas, já não temos verba do projeto olímpico - gerido pela
federação - para realizar o planeamento que tínhamos feito”, prosseguiu
Telma Monteiro.Jorge Fernandes explicou
que os atletas têm direitos e deveres e não podem “denegrir a imagem das
pessoas”, recusando novamente as acusações que lhe foram feitas na
carta aberta.“Os atletas não têm o direito
de denegrir a imagem das pessoas, nem dizerem o que querem. Têm
direitos e deveres que têm que cumprir, tal como eu. Acusarem-me de
racista ou xenófobo vão ter de provar isso, e sobre os pedidos de
reunião que dizem que fizeram vão ter de provar”, afirmou.Já
em relação às verbas do projeto olímpico, o presidente da FPJ explicou
que “não existe dinheiro para tudo” e que existem mais atletas para além
de Telma Monteiro.“O plano da Telma era
impensável, uma coisa de loucos. A Telma pedia para ir para Abu Dhabi,
seguir para a Austrália para fazer um estágio e no fim de semana a
seguir competir em Baku. Isto, desportivamente, era um desastre”, disse.Jorge Fernandes aludia ao desgaste provocado pelo ‘jet lag’, além do valor financeiro em viagens e estadias.“A
Telma foi das melhores atletas do mundo, mas temos mais atletas, como
Jorge Fonseca, Catarina Costa, Barbara Timo e mais uma série de atletas.
O dinheiro não é elástico, não dá para tudo. Temos andado sempre a
pedir adiantamento das verbas, mas não temos o dinheiro que a Telma
gostava”, concluiu o presidente da FPJ.