Ana Gomes afirma que há demasiado encosto entre Presidente e Governo
Presidenciais
17 de set. de 2020, 11:00
— Lusa/AO Online
Ana
Gomes, que na semana passada anunciou que irá candidatar-se a Presidente
da República, assumiu estas posições numa entrevista à RTP3, durante a
qual também revelou que vai ser apoiada por Isabel Soares, filha do
antigo chefe de Estado e fundador do PS, Mário Soares.Durante
a entrevista, a diplomata fez sobretudo críticas à atuação do chefe de
Estado e à linha política seguida pela direção do seu partido em relação
às eleições presidenciais de 2021."Mesmo
que fosse o meu melhor amigo, eu jamais teria tolerado com um sorriso
embaraçado ou cúmplice que um primeiro-ministro lançasse a minha
recandidatura à Presidência da República, que foi aquilo que se passou
naquele episódio na fábrica da Autoeuropa", em abril, entre Marcelo
Rebelo de Sousa e António Costa, referiu Ana Gomes.Ana
Gomes acusou também Marcelo Rebelo de Sousa de "estar completamente
ausente do debate sobre as grandes prioridades estratégicas de
Portugal", embora esteja sempre "a comentar a espuma dos dias", mas
insurgiu-se principalmente sobre o sistema de relações entre os órgãos
de soberania Presidência da República e Governo."Repito
que faço um mandato globalmente positivo do Presidente da República,
mas acho que cada macaco no seu galho. Há demasiado encosto do
Presidente ao Governo e do Governo ao Presidente", apontou.Na
entrevista, a ex-eurodeputada procurou também dirigir várias mensagens
aos eleitores do espaço do PS, chegando mesmo a dizer que Marcelo Rebelo
de Sousa não pode ser apoiado "por verdadeiros socialistas"."Somos
diferentes. Eu sou progressista e ele é conservador", disse, procurando
traçar aqui uma linha de demarcação de caráter ideológico.Mas
Ana Gomes foi mais longe com um aviso sobre o que poderá ser um segundo
mandato de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República."Dá
ideia de que um dia vai querer de facto comandar quem quer que exerça o
cargo de primeiro-ministro. Está-lhe na massa do sangue, do tipo de
jogos em que ele se compraz, o tipo de percurso político nos bastidores
da política em que ele sempre foi exímio. Ora bem, eu acho que este é o
momento para os socialistas pensarem bem que, se se mobilizarem, podem
ter alternativa", disse.Em relação ao PS,
Ana Gomes afirmou esperar que este partido dê liberdade de voto aos seus
militantes nas próximas eleições presidenciais e recorreu ao passado
das décadas de 80 e 90 para tirar a seguinte conclusão: "Sempre que o PS
esteve unido nas eleições presidenciais fez a diferença, elegendo Mário
Soares e Jorge Sampaio; sempre que o PS esteve desunido ou não foi a
jogo, a direita ganhou".A ex-eurodeputada
socialista tentou ainda estabelecer diferenças face a outras
candidaturas presidenciais já anunciadas, como as de João Ferreira, do
PCP, e de Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, classificando-as como
"candidaturas partidárias".Questionada
sobre o líder do Chega, a diplomata respondeu que não o conhece
pessoalmente e considerou "uma medalha de honra" André Ventura
caracterizá-la como "candidata cigana", salientando que a
extrema-direita é a sua inimiga nas próximas eleições presidenciais.Já
na parte final da entrevista, Ana Gomes foi confrontada com as
acusações de que é populista, faz julgamentos na praça pública e
desrespeita a presunção da inocência, mas rejeitou-as."Fiz
denúncias escritas sempre com a minha cara e nunca anónimas. Vi foi
muitas vezes as instâncias de justiça serem abafadas para que não se
fizesse justiça, como nos casos dos submarinos ou do apagão fiscal",
contrapôs.Depois, a ex-eurodeputada do PS
voltou a criticar a atitude "altamente questionável" do
primeiro-ministro, António Costa, manifestar apoio à recandidatura do
presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira."Isso sim é que é uma deriva populista. E não foi só do primeiro-ministro", acrescentou.