Autor: Lusa/AO Online
Israel deu ao início da manhã de segunda-feira ‘luz verde’ para uma nova campanha militar para “ocupar e manter os territórios” da Faixa de Gaza, há mais de um ano e meio alvo de bombardeamentos israelitas, e retomar a entrada de ajuda humanitária através de empresas norte-americanas, para privar o movimento islamita palestiniano Hamas de acesso às provisões distribuídas.
“Os novos planos de Israel indicam que as autoridades estão a prever uma escalada aterradora para se apoderarem do território, ali estabelecendo uma 'presença física sustentada' e deslocando indefinidamente a maioria da população”, declarou a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) num comunicado.
Para a ONG, Israel quer aplicar um modelo semelhante ao de Rafah, em que anexou essa cidade fronteiriça com o Egito e os bairros circundantes para a transformar numa “zona tampão”, e ir gradualmente incluindo mais parcelas da Faixa de Gaza nessa chamada “zona tampão”, que atualmente já constitui 30% do território do enclave palestiniano.
“Qualquer ação para deslocar os palestinianos para o sul da Faixa de Gaza e confiná-los nas chamadas 'bolhas fechadas', ou para continuar a impor condições de vida desumanas para os expulsar de Gaza, constituirá o crime de guerra de transferência ilegal ou deportação”, afirmou.
Nesse sentido, a AI considerou que, após dois meses de “cerco total” a Gaza, tais planos significam “consolidar ainda mais a ocupação ilegal” da Faixa de Gaza, o que poderá “desferir um golpe final que leve à destruição dos palestinianos em Gaza”, nas palavras da diretora de Investigação, Advocacia e Campanhas da Amnistia, Erika Guevara.
A responsável lembrou que 70% da Faixa de Gaza está atualmente sob ordens de evacuação ou foi classificada como zona interdita.
No comunicado, a AI pediu também ao Hamas e a outros grupos armados para que libertem os reféns civis, mas considerou que “Israel parece estar a utilizar a libertação dos reféns como pretexto para justificar novos crimes e violações contra os palestinianos e o genocídio em curso na Faixa de Gaza”, segundo Guevara.
“Em vez de prosseguir políticas que desencadeiam novas deslocações forçadas e, potencialmente, anexações ilegais, Israel deve cessar de imediato o genocídio em Gaza, pôr fim à ocupação ilegal do território palestiniano, em conformidade com o parecer consultivo de julho de 2024 do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ, a mais alta instância judicial da ONU), e desmantelar o sistema de ‘apartheid’ contra os palestinianos”, concluiu a porta-voz da ONG.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, 52.653 mortos, na maioria civis, incluindo mais de 18.000 crianças, e mais de 112.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas está ainda a agravar-se por Israel impedir, desde 02 de abril, a entrada em Gaza de alimentos, água, ajuda humanitária e medicamentos.
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica”, a fazer “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
E,
no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de
genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome
como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas
sem apresentar quaisquer argumentos.