Ameaças de Trump mostram que não respeita lei internacional
EUA/Irão
7 de jan. de 2020, 12:27
— Lusa/AO Online
Em entrevista à
estação televisiva norte-americana CNN, em Teerão, Javad Zarif referiu
que Donald Trump está “a mostrar à comunidade internacional que não tem
qualquer respeito pelas leis internacionais e que está pronto para
cometer crimes de guerra [porque] atacar alvos culturais é um crime de
guerra”.O ataque a Soleimani enquanto este
estava no Iraque foi um “ato de terrorismo de Estado”, acrescentou
Zarif, garantindo que o Irão irá responder.“Isto
foi um ato de agressão contra o Irão e equivale a um ataque armado
contra o Irão e nós vamos responder. Mas responderemos legalmente, não
somos pessoas sem lei como o Presidente Trump”, afirmou o ministro.O
general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana
Al-Quds, foi morto na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que
seguia ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos.No
mesmo ataque morreu também o 'número dois' da coligação de grupos
paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida
como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.O
ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada
norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump
anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente. O
Irão prometeu vingança e anunciou no domingo que deixará de respeitar
os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco
países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas — Rússia,
França, Reino Unido, China e EUA — mais a Alemanha, e que visava
restringir a capacidade iraniana de desenvolvimento de armas nucleares.
Os Estados Unidos abandonaram o acordo em maio de 2018.No
mesmo dia, o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, avisou
que os EUA poderão atacar outros líderes iranianos, se a República
Islâmica retaliar pela morte do comandante da força de elite do Irão,
mesmo que as retaliações aconteçam a partir dos seus aliados, como a
Síria, Iémen, Líbano ou outros. Donald
Trump foi mais longe e ameaçou o Irão com “enormes represálias” caso
ocorram ataques iranianos contra instalações norte-americanas no Médio
Oriente, deixando também a ameaça de atacar locais culturais iranianos. "Eles
têm o direito de matar os nossos cidadãos (...) e nós não temos o
direito de atingir os seus locais culturais? Isso não funciona assim",
disse. A ameaça já levou a diretora-geral
da Unesco, Audrey Azoulay, a lembrar que os Estados Unidos e o Irão
ratificaram duas convenções que protegem a propriedade cultural em caso
de conflito e que uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, adotada
por unanimidade em 2017, condena atos de destruição de património
cultural, mesmo em caso de conflitos militares.Na
entrevista hoje divulgada pela CNN, Javad Zarif garante que o Irão não
tem medo de novas ações militares norte-americanas e lembrou que os
iranianos têm “pessoas do seu lado na região”.“Equipamento
militar lindíssimo não governa o mundo, são as pessoas que o fazem. O
Presidente Trump tem de acordar para a realidade e perceber que as
pessoas desta região estão furiosas e querem os Estados unidos fora
daqui”, afirmou.Para o diplomata, as
ameaças que Trump continua a fazer “só estão a piorar a situação dos
Estados Unidos”, que devia era “pedir desculpa e alterar o seu
comportamento”.Acusando as políticas
norte-americanas de “destruírem a estabilidade do Médio Oriente”, o
ministro acusou os EUA de já ter “começado uma guerra há muito tempo” ao
destruir a estabilidade e minar a segurança da região.Zarif
aconselhou ainda os norte-americanos a questionarem-se sobre a sua
própria segurança, na sequência do ataque contra Soleimani e suas
ramificações.“Acham que [Trump] deixou os
norte-americanos mais seguros? Os norte-americanos sentem-se mais
seguros ou mais bem-vindos nesta região?”, questionou.