Ambientalistas repudiam intenção do Governo em aumentar área para plantação de eucalipto
9 de nov. de 2021, 11:43
— Lusa/AO Online
O
pedido consta de uma carta aberta assinada pela Acréscimo, Climáximo,
Fapas, Geota, LPN, Quercus e Zero e dirigida ao secretário de Estado da
Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território.O
jornal Público refere na sua edição de hoje que o Governo português
está a preparar a publicação de um diploma que prevê a plantação de mais
36.726 hectares de novos povoamentos de eucalipto em 126 dos 278
concelhos do continente. “Portugal, que já
é o país com maior área plantada de eucalipto na Europa e ocupa o 5.º
lugar a nível mundial, ficará com 881.735 hectares cobertos, cerca de
10% da superfície do território continental, suplantando as espécies
autóctones como o sobreiro, a azinheira e até mesmo o pinheiro. Um
trajeto que vai em sentido contrário do que tinha sido anunciado pelo
executivo”, escreve o jornal.Na carta
aberta, citada no Público e enviada à Lusa, as organizações
ambientalistas estranham que “o Governo esteja neste momento a preparar
um diploma legal para fazer aumentar os limites máximos de área de
plantações de eucalipto por município, um acréscimo global, que aponta
para cerca de 37 mil hectares”.“Embora a
Estratégia Nacional para as Florestas (ENF) estabeleça para 2030 uma
meta máxima de 812 mil hectares de plantações de eucalipto no território
continental português, o facto é que o 6.º Inventário Florestal
Nacional, decorrente de recolha de imagens realizada em 2015, apontava
já para uma área continental de cerca de 845 mil hectares ocupados por
esta espécie exótica, ou seja, superior à meta da ENF em cerca de 33 mil
hectares”, indicam.Por isso, as organizações signatárias estranham a preparação de um diploma.As
organizações signatárias lembram que o parlamento, “na sequência dos
grandes incêndios florestais de junho de 2017 e onde o eucalipto marcou
fortíssima presença na área ardida em povoamentos florestais, proibiu
novas arborizações com espécies do género Eucalyptus (expansão de área),
abrindo exceção às rearborizações com esta espécie exótica, quando a
ocupação anterior fosse de povoamento puro ou misto dominante de
eucalipto”. De acordo com as organizações,
o parlamento abriu ainda a porta a projetos de compensação, ou seja,
conferiu a possibilidade de reconversão de áreas de eucaliptal para
espécies autóctones, agricultura e pastorícia, compensando com novas
áreas de arborização com eucalipto noutras regiões do país.“Pressupõe-se
assim que o aumento dos limites das áreas de eucalipto por concelho
sirva para dar enquadramento a eventuais projetos de compensação. Será?
Estranhamente, não há nenhum concelho do território continental
português onde seja prevista contração de área para estas plantações.
Nem sequer em municípios com presença em áreas protegidas, entre outras,
da Rede Natura 2000, onde marquem presença plantações de eucalipto”,
destacam.Os signatários realçam também que
há limites máximos que aumentam em concelhos limítrofes ou abrangidos
pela Rede Nacional de Áreas Protegidas, como são os casos dos concelhos
de Odemira (mais de 3.149 hectares), do Montijo (mais de 561 hectares),
Sudoeste Alentejano, ou de Arcos de Valdevez (mais de 329 hectares) e
Póvoa do Lanhoso (mais de 303 hectares), na envolvente ao Parque
Nacional da Peneda Gerês.“Ainda
pressupondo que os acréscimos nos limites de áreas máximas por concelho
sirvam para acolher projetos de compensação, qual a transparência deste
processo? Por agora, prima a opacidade. Mais! Quem financia os encargos
dos resgates das “rentáveis” plantações de eucalipto para serem
compensadas noutros locais? O erário público?”, questionam.Os
signatários querem saber igualmente como funciona o sistema de
fiscalização para controle de eventuais plantações ilegais, se existem
indicadores de desempenho do processo de fiscalização e se os acréscimos
dos limites máximos servirão para dar cobertura a eventuais
ilegalidades.“É estranho o acréscimo de
cerca de 37 mil hectares nos limites máximos de áreas plantadas por
concelho, agora pretendida pelo Governo, quando as arborizações
autorizadas ou validadas com eucalipto, no âmbito do regime jurídico
aplicável, perfazem, no período de outubro de 2013 a final de 2018,
altura em que passaram a ser proibidas, pouco mais de 11 mil hectares”,
salientam.Querem ainda saber quais são os
critérios que baseiam a proposta do Governo para aumento dos limites das
áreas máximas por município.