Ambientalistas esperam que políticos percebam urgência da redução de emissões
4 de nov. de 2017, 18:19
— Lusa/AO online
Para
o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, na 23.ª
Conferência da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas
(COP23), que se inicia na segunda-feira em Bona, trata-se sobretudo de
definir um calendário para que os países se preparem para estabelecerem
novas metas de mitigação dos efeitos do aquecimento global. Sem
objetivos mais ambiciosos de redução das emissões de gases com efeito
de estufa (GEE), "não vai ser possível o Acordo de Paris ser cumprido",
defende Filipe Duarte Santos. O
Acordo de Paris conseguido em dezembro de 2015, durante a COP21, entrou
em vigor em 04 novembro de 2016, depois de ratificado por países que
representam 55% por cento das emissões globais de GEE, e tem como
objetivo reduzir as emissões de modo a tentar limitar a subida da
temperatura média do planeta aos 2º Celsius, assim como avançar formas
de adaptação. O
presidente da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, Francisco
Ferreira aponta que a posição dos países "tem sido muito clara" e, além
do que se passou em Marraquexe, na COP22, no ano passado, com o
reafirmar de todos os Estados, exceto dos EUA, de que Paris é para
continuar, em Bona deverão ser reiterados os compromissos já
conseguidos.Um
trabalho que deverá, segundo o ambientalista, prosseguir no dia 12 de
dezembro, em Paris, numa cimeira convocada pelo Presidente francês.Em
discussão na COP23 em Bona, estarão questões como financiamento da
adaptação, o mercado voluntário de emissões, o modo como se fixam as
diferentes metas para diferentes países e como são monitorizadas e
acompanhadas."O
acordo de Paris ainda não está regulamentado e só vai estar dentro de
aproximadamente um ano", referiu Francisco Ferreira. O
ambientalista espera que os dados divulgados por organizações
internacionais, como a Organização Mundial de Meteorologia, a referir
que as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera atingiram um
nível recorde em 2016, façam os políticos reunidos em Bona perceber "a
urgência da ação".O
presidente da Quercus, João Branco, não tem expetativas muito elevadas,
mas não deixa de ter esperança porque "os sinais de alerta de
organizações credíveis são muitos". A
COP23 "é um bocado [para] marcar calendário, mas pode ser que haja, não
decisões mas pelo menos indicações no que diz respeito ao regulamento
do uso da terra e isso já seria importante", apontou João Branco.Quanto
aos países que ainda não estão no Acordo de Paris, defendeu que "não se
deixam convencer facilmente", e deu os exemplos da Rússia, Iraque,
República Democrática do Congo ou Angola. "Parece-me difícil que esses
países venham a ter uma atitude positiva", salienta o presidente da
Quercus. "Reconheço
que é um problema extremamente difícil e que as pessoas ainda não se
aperceberam bem do que vão ser as consequências das alterações
climáticas dentro de umas dezenas de anos", alerta Filipe Duarte Santos.
"É útil às
pessoas meditarem sobre isto - não é um problema que afete muito as
gerações atuais, mas sim as futuras", defende o investigador da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, acrescentando que "é
uma questão de solidariedade intergeracional ou, de uma maneira mais
forte, de justiça intergeracional". E
recorda que, este ano, Portugal tem tido situações muito graves que
"não são exclusivamente devidas às alterações climáticas, mas que são
amplificadas pelas alterações climáticas"."Sabia-se
que o Acordo de Paris, por um lado, era um êxito, porque envolvia todos
e é um processo que vai ter de ter respostas cada vez mais ambiciosas
da parte de todos, também se sabia que uma das fragilidades era o facto
de demorar o seu tempo a ter compromissos fortes de redução", resume
Francisco Ferreira.