Ambientalistas apresentam queixa a Bruxelas contra incineradora em São Miguel
4 de fev. de 2021, 15:27
— Lusa/AO Online
O
movimento, representado pelas associações ambientalistas ARTAC, Amigos
dos Açores, Zero e pelo núcleo de São Miguel da Quercus, “constatou que o
estudo elaborado pela Universidade dos Açores publicado em maio de 2020
demonstra que a Musami não irá cumprir as metas de reciclagem
comunitárias”.No estudo, que teve por base
os dados fornecidos pela empresa intermunicipal de gestão de resíduos
de São Miguel, a Musami, fica demonstrado que, “em 2025, pretende-se
reciclar 39,7%, quando a meta é de 55%” e que, “em 2030, pretende-se
reciclar 51,5%, quando a meta é de 60%”.Segundo
os ambientalistas, estas conclusões provam que “o projeto de Ecoparque
de São Miguel, que inclui uma incineradora, não irá cumprir as metas de
reciclagem determinadas pela União Europeia e que o Governo Regional
inclui no seu programa de Governo”.Foi por
isso que, através da Zero, o grupo “apelou à Comissão Europeia para
travar o projeto da incineradora da Musami, dado que irá impedir o
cumprimento das metas de reciclagem na ilha de São Miguel e na própria
Região Autónoma dos Açores”.O movimento pede também uma reunião urgente com o secretário Regional do Ambiente do executivo açoriano, Alonso Miguel.A 19 de janeiro, depois de reunir com a Associação de Municípios da Ilha
de São Miguel (AMISM), o responsável pela tutela afirmou que o Governo
quer “garantir que é encontrada uma solução eficiente para a gestão de
resíduos e também garantir que todas as metas, nomeadamente as de
reciclagem, são cumpridas e [que] é respeitada a hierarquia da gestão de
resíduos”.Alonso Miguel realçou, no entanto, que o entendimento da AMISM passa pela construção de uma central de valorização de resíduos.Ainda
assim, o secretário regional reiterou que o executivo tem “toda a
disponibilidade” para “procurar uma alternativa” e para “proceder a
novos estudos de viabilidade”.“Este é um
processo polémico, com quatro concursos públicos falhados e a caminho do
terceiro processo em tribunal”, realça o movimento, depois de a Antena 1
ter avançado que o atual concurso público foi contestado pela Tecnovia,
que alega que a vencedora, a italiana Termomeccanica, não tem alvará
para trabalhar em Portugal.Em 2016, a
AMISM decidiu, por unanimidade, avançar com a construção de uma
incineradora de resíduos, orçada em cerca de 60 milhões de euros.Além
da contestação por parte de associações ambientalistas, o concurso para
a construção da incineradora na maior ilha dos Açores esteve sob alçada
da justiça devido a queixas por parte de um dos concorrentes, a empresa
Termomeccanica, que foi excluída em detrimento do consórcio luso-alemão
formado pela CME e Steinmüller Babcock Environment.Em
outubro de 2019, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Ponta Delgada
decidiu anular a adjudicação da construção da incineradora ao consórcio
CME/Steinmuller Babcok Environment, por parte da MUSAMI.Foi
também interposta uma ação contra o empreendimento no Tribunal
Administrativo e Fiscal de Ponta Delgada, a que o movimento "Salvar a
Ilha" se associou, que foi rejeitada devido a um erro processual.Em
dezembro desse ano, os seis municípios de São Miguel decidiram avançar
com um novo concurso para a construção de uma incineradora na ilha
açoriana, com menos 30% da capacidade inicialmente prevista.A
abertura de concurso público internacional foi publicada em Diário da
República em 30 de março de 2020, com um preço base de 58 milhões de
euros.O projeto foi, entretanto, aprovado
pela União Europeia, anunciou o ministro do Ambiente e Ação Climática,
João Matos Fernandes, numa visita a São Miguel, em agosto de 2020.